BRASÍLIA - O presidente licenciado do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), deve renovar a licença médica de dez dias que o mantém afastado do Senado desde a semana passada. A conselho de amigos, Renan se mantém recolhido na residência oficial e não pisa no Legislativo desde que o laudo médico, recomendando a realização de exames de rotina, foi entregue à Mesa Diretora.
O atestado justifica a ausência só até sexta-feira, feriado do Dia de Finados, mas Renan foi alertado por companheiros de partido, líderes da base e da oposição de que o melhor é se manter longe do Parlamento mais uns dias, se quiser salvar o mandato.
Um dos amigos dele diz que a temperatura da crise baixou, mas que o clima geral do plenário ainda lhe é hostil. "A irritação do Senado com ele diminuiu bastante, mas não o suficiente para livrá-lo da cassação", atesta um líder aliado que prefere manter o anonimato.
"Se ele fosse a julgamento hoje, o risco de condenação seria muito alto", completa o senador, convencido de que o tempo conspira em favor de Renan e que a "submersão" é a única alternativa. Ao mesmo tempo, o PMDB suspendeu, temporariamente, as articulações em torno da sucessão do presidente licenciado do Congresso.
Sucessão
Em reunião com a bancada, o líder do partido na Casa, Valdir Raupp (RO), fez um apelo aos colegas pedindo que adiassem a discussão do assunto enquanto Renan estiver afastado. O temor de Raupp é de que a legenda fique fragilizada com a exposição de nomes e sujeita a uma guerra de dossiês envolvendo peemedebistas.
"Daqui a pouco, ficamos sem nomes", advertiu à bancada, manifestando a preocupação de que os adversários iniciem uma campanha para "queimar" possíveis candidatos ao cargo de Renan. Apesar dos apelos do líder, o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) anunciou à bancada a intenção de disputar a vaga do presidente licenciado do Senado, caso ele decida renunciar da Presidência.
Mesmo afastado da Casa, Renan tem mantido contatos freqüentes com senadores governistas e de oposição. O momento de maior tensão, dos últimos dias, foi na manhã de sábado, quando foi informado de que uma reportagem publicada pela revista "Veja" dava conta da existência um dossiê contra o senador Jefferson Péres (PDT-AM) e insinuava que ele, Renan, era o responsável pela "divulgação" deste documento aos senadores.
Péres é o relator de um dos processos que tramita no Conselho de Ética do Senado, em que o presidente licenciado é investigado pelo suposto uso de "laranjas" na compra de uma rádio em Alagoas. Por isso mesmo, Renan agiu rápido. Tratou de telefonar para ele no sábado mesmo, desmentindo qualquer relação com o tal dossiê, e não parou aí. Encarregou os advogados de preparar um documento, lido por Peres hoje da tribuna, em que se refere ao relator como "exemplo de coerência política, lisura e honradez".
Fonte: Tribuna da Imprensa