Assim como 2006 auxiliou a Alemanha a desmontar antigos preconceitos, a realização de uma Copa no Brasil poderá ajudar a atrair simpatia pelo país
Marcos Magalhães*
Fazer planos para o futuro nunca foi exatamente um esporte nacional. Mas vem do esporte, agora, uma possibilidade de mudar esse quadro. A realização no país da Copa do Mundo de 2014, que deve ser anunciada hoje (30) pela Fifa, vai exigir investimentos tão pesados – tanto para os estádios como para a combalida infra-estrutura nacional – que os três níveis de governo terão de promover um esforço inédito de planejamento. O investimento deve valer a pena. Assim como 2006 ajudou a Alemanha a desmontar antigos preconceitos, 2014 será para o Brasil uma rara oportunidade de conquistar simpatia e respeito em todo o mundo.
Antes mesmo do anúncio, o influente jornal inglês Financial Times alertou para os riscos de uma Copa do Mundo no Brasil. O caótico sistema de transporte aéreo, previu o jornal, poderá complicar as viagens internas dos jogadores. O transporte urbano também foi criticado: nem mesmo para os Jogos Pan-Americanos o país conseguiu montar um sistema eficiente no Rio de Janeiro. Além desses problemas, da insegurança nas grandes cidades e dos riscos de superfaturamento, ponderou ainda o diário britânico, nenhum estádio brasileiro poderia, atualmente, ser usado em uma competição internacional como essa.
Se os riscos são grandes, como ressalta o Financial Times, as oportunidades também são imensas. A Copa do Mundo é transmitida para bilhões de telespectadores em todo o mundo. Em um primeiro momento, atrai milhares de torcedores dispostos a correr o país atrás de suas equipes nacionais. E, caso corra tudo bem e se espalhe pelo planeta uma boa imagem do país sede, existe uma grande chance de o número de visitantes estrangeiros se multiplicar ao longo dos anos seguintes.
Para que corra tudo bem, algumas tarefas serão mesmo federais. O transporte aéreo, por exemplo, terá de ser bem aperfeiçoado. As atuais deficiências dos maiores aeroportos do país, como Guarulhos e Congonhas, precisarão ser eliminadas a tempo. A segurança também precisará contar com o auxílio federal, como já ocorreu durante os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, neste ano. As ameaças de corrupção, lembradas pelo jornal londrino, deverão igualmente ser acompanhadas de perto pelo governo federal.
Uma boa parte da responsabilidade pela imagem a ser divulgada pelo Brasil em 2014, porém, vai depender dos governos estaduais e municipais envolvidos. A começar por São Paulo, onde deve ser celebrada a abertura da Copa do Mundo. A partir desse momento, provavelmente bilhões de pessoas estarão atentos a cada detalhe transmitido pela televisão. Onde será o jogo inaugural? Em que tipo de estádio? Como terão os torcedores chegado lá? Terão gostado da cidade?
Atualmente, o Morumbi tem lá seus problemas para receber grandes jogos. O trânsito muitas vezes fica tão lento que os problemas acabam se refletindo por uma boa parcela da cidade. O estacionamento também não é fácil. E o estádio, bem, o estádio não é exatamente um modelo de beleza e conforto. Os planos em estudos parecem incluir a conclusão de uma estação de metrô mais ou menos próxima ao estádio, além da montagem de um sistema adicional de transporte entre a estação e o Morumbi. Pode ser que funcione. A construção pela iniciativa privada – sem gastos públicos – de um estádio novo e moderno, porém, poderia transmitir ao mundo uma imagem mais interessante do Brasil.
Cidades médias, como Brasília, se apressam em montar soluções urbanas que as garantam no time das capitais onde serão realizados os jogos da Copa. O estádio Mané Garrincha será reformado e ampliado, em parceria com a iniciativa privada. E um conjunto de linhas de veículos leves sobre trilhos (VLTs) conectará o estádio renovado tanto aos principais hotéis da cidade como ao aeroporto internacional.
E o Rio de Janeiro? Ali, onde será celebrada a partida final, também há muito que fazer. A abertura dos Jogos Pan-Americanos mostrou que o velho Maracanã – bastante renovado, é verdade – ainda pode acolher grandes eventos sem fazer feio. Os carros foram banidos de toda a área. Só se chegava ali de metrô e trem. A organização foi razoável e a festa foi tranqüila. Mas o estádio, é bom lembrar, nem de longe pode ser comparado com as modernas arenas construídas em diversos países da Europa. Dos assentos nas arquibancadas à qualidade dos banheiros, muita coisa ainda tem de ser mudada.
A periferia do Maracanã também precisa de um trato. Para começar, não há estacionamento para quase ninguém. Quem se atreve a ir de carro ao estádio precisa deixar pelo menos R$ 10 reais na mão de algum flanelinha. Os governos estadual e municipal já andaram falando da construção de um grande estacionamento, ou sobre a linha do trem vizinha ao estádio ou no local onde hoje existe um centro de natação. Pode ser. Mas a realização da final da Copa do Mundo poderia ir além e servir como estímulo a uma completa reestruturação urbana, com a urbanização da favela da Mangueira, em frente ao estádio, e a conexão da área do Maracanã com o imenso parque da Quinta da Boa Vista. Estaria aí um bom cartão postal para o resto do mundo.
Fonte: congressoemfoco