BELO HORIZONTE - Enquanto o Senado iniciava o julgamento do pedido de cassação do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), o líder nacional do Movimento dos Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, acusava ontem o Legislativo de ser a "mercadoria mais barata" que se tem no Brasil. Em palestra na Escola Superior Dom Hélder Câmara, em Belo Horizonte, Stédile disse que o Parlamento é motivo de "chacotas diárias do nosso povo".
"Talvez seja a mercadoria mais barata que nós tenhamos no Brasil. Ao ponto que, pelo resultado das últimas eleições, nós hoje não temos mais deputados de partidos", afirmou o líder do MST, para quem os parlamentares estão comprometidos com os supostos financiadores de suas campanhas eleitorais.
"Agora nós temos 36 deputados eleitos pela Vale do Rio Doce, 16 deputados eleitos pela Aracruz, 32 deputados eleitos pelo Bradesco, 28 deputados eleitos pela (Companhia) Siderúrgica Nacional. É essa a bancada dos políticos". Na opinião de Stédile, o quadro atual do Legislativo brasileiro é de "falência completa dos partidos políticos".
"Quem elegeu não é o povo, foi dinheiro dessas grandes empresas. Então, o Congresso Nacional hoje não representa o povo, representa as empresas que bancaram o financiamento". O líder sem-terra - que foi homenageado com uma placa e o título de "Destaque Dom Hélder Câmara, Categoria Social" - classificou como "emblemático" o processo envolvendo o presidente do Senado.
"Porque por si só revela o grau do descrédito do Congresso Nacional perante a sociedade brasileira". Ele, porém, disse que não estava preocupado com o destino de Renan. Stédile defendeu a aprovação de uma proposta de reforma política apresentada pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para que se "recupere a participação popular no Parlamento".
Fonte: Tribuna da Imprensa