terça-feira, setembro 25, 2007

Planalto monta operação para salvar Mares Guia

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou ontem de Nova York para o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, e pediu a ele que mantivesse a tranqüilidade. "Toca pra frente e faça o seu trabalho", recomendou Lula, que abrirá hoje os debates da 62ª Assembléia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
Por ordem do presidente, o governo começou ontem mesmo a montar uma operação para salvar Mares Guia. A Polícia Federal (PF) cita o ministro no inquérito do mensalão mineiro e pediu quebra de sigilo de sua holding, a Samos Participações.
A estratégia a ser seguida nos próximos dias inclui até mesmo declarações públicas de dirigentes do PT - que reunirá sua Executiva Nacional, em Brasília - a favor do articulador político do Planalto. O fim do fogo amigo foi exigido por Lula para estancar a crise anunciada e evitar que o caso do mensalão mineiro - uma denúncia que teve origem na campanha de 1998 do então governador de Minas Eduardo Azeredo (PSDB) - atrapalhe a votação de projetos de interesse do Planalto.
Na lista das prioridades está a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prorroga a validade da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) até 2011, que ainda tem de passar pelo segundo turno na Câmara e ser votada duas vezes no Senado.
Até hoje, petistas que nunca se conformaram com a perda de espaço no segundo mandato de Lula comemoravam o inferno astral de Mares Guia, de olho em sua cadeira. O 3º Congresso do PT, que terminou no último dia 2, chegou a aprovar resolução política na qual o partido pede mais "agilidade" da Procuradoria-Geral da República na apuração das denúncias de caixa 2 e desvio de dinheiro público na campanha à reeleição de Azeredo, em 1998.
Na época, Mares Guia era vice-governador de Minas e concorreu a deputado federal. Auxiliares do presidente avaliavam ontem que nem Lula nem Mares Guia imaginavam que o caso do mensalão mineiro pudesse respingar no Planalto.
A recomendação para o ministro das Relações Institucionais é que ele dê todas as explicações solicitadas pela imprensa. "Se eu tivesse meio por cento de dúvida sobre a lisura das minhas contas, entregaria o cargo", disse Mares Guia ao presidente, antes da viagem a Nova York.
Dirceu
Processado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha no escândalo do mensalão, o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu também saiu em defesa do articulador político do governo.
Em seu site, o ex-ministro atacou a imprensa e disse que parte da mídia vai transformando uma acusação que envolve o PSDB do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador de Minas, Aécio Neves, numa denúncia contra Mares Guia.
"O chamado valerioduto mineiro nada mais é do que mais um caso de caixa dois, mas aqui a mídia não procura chefes nem quadrilhas ou bandos, mas sim quem do governo Lula ou do PT teria participado do esquema mineiro", escreveu Dirceu.
"Vão sumindo os nomes de Eduardo Azeredo e Aécio Neves. O PSDB quase nunca é citado ou cobrado, como se fosse natural esse partido e o PFL fazerem caixa dois". O relatório da Polícia Federal sobre o mensalão mineiro reproduz uma lista de doações para candidatos em campanha.
No documento, Aécio aparece como beneficiário de R$ 110 mil do esquema operado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza - o mesmo personagem do escândalo do mensalão petista. O atual governador de Minas era, na época, candidato a deputado federal como Mares Guia.
Fonte: Tribuna da Imprensa