segunda-feira, setembro 10, 2007

Juíza envolvida com drogas será investigada por TJ

Magistrada baiana é flagrada em gravações comprometedoras com traficante internacional


A acusação de envolvimento criminoso da juíza Olga Regina Santiago Guimarães com o traficante colombiano Gustavo Durán Bautista será apurada pelo Tribunal de Justiça da Bahia (TJB). O caso já foi distribuído por sorteio para o desembargador Antonio Roberto Gonçalves. As investigações da Polícia Federal sobre as relações da juíza baiana e o traficante foram denunciadas pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, no último sábado.
Gustavo Durán é acusado de pertencer ao cartel do colombiano Juan Carlos Ramirez Abadia, preso no mês passado em São Paulo. A Polícia Federal remeteu ao TJ e ao Ministério Público do estado cópias de gravações que retratam a proximidade da juíza baiana, atualmente lotada na comarca de Cruz das Almas, com Gustavo Durán. O TJB informou ter recebido a representação contra a juíza na última quinta.
A reportagem destacou que em 2001, quando Gustavo Durán foi réu da juíza, que atuava na comarca de Juazeiro, um lote de cocaína e caixas de fruta com fundo falso foram achados na fazenda do traficante, mas a magistrada o absolveu. Em agosto último, no Uruguai, Gustavo Durán foi preso quando portava 500kg de cocaína. No somatório, este traficante é suspeito de enviar cinco toneladas do entorpecente à Europa em caixotes de fruta.
Ainda de acordo com o Jornal Nacional, uma das gravações se referem à tentativa de Durán reaver R$10 milhões apreendidos na Europa. “Estive lá na Polícia Federal e está tudo OK com as fichas de antecedentes”, teria dito a juíza. “Ah, que bom”, seria a resposta de Durán, complementando: “Tá bom, doutora, amanhã eu vou colocar aquele negócio que o senhor Balduíno me falou”. Em outro contato telefônico, Durán confirmou ao marido da magistrada, Balduíno Santana, o depósito de “apenas” R$14 mil, pois estaria apertado.
A matéria do Jornal Nacional mostrou que a juíza e o marido tiveram encontros com Gustavo Durán. Em junho, por exemplo, o casal teria ido à casa do traficante, em São Paulo. A filha de Gustavo Durán teria confirmado o encontro, revelando que não foi a primeira vez que os três estiveram juntos.
Como a investigação contra Olga Guimarães enfocará uma ju[iza, as apurações serão acompanhadas pelo Ministério Público. Surpreso com o caso, o procurador geral de Justiça, Lidivaldo Britto, sugeriu que a juíza fosse afastada enquanto o caso não for esclarecido. A decisão caberá ao desembargador Antonio Roberto Gonçalves. Já a Associação dos Magistrados da Bahia (Amab) afirmou em nota de esclarecimento que a ju[iza não é associada à entidade.
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Olga já foi inocentada de três correições
Quando atuava em Juazeiro, período em que inocentou o traficante Gustavo Durán Bautista, Olga Regina Santiago Guimarães demonstrou, por diversas vezes, um comportamento suspeito. Titular da Vara Crime, a juíza foi acusada de soltar presos sem ouvir o Ministério Público e até ofender os policiais que faziam o transporte de presos, acusando-os de serem os “verdadeiros marginais”.
O Tribunal de Justiça da Bahia realizou três correições em Juazeiro, fruto de denúncias contra Olga Regina Guimarães. Em que pese relatos do Ministério Público, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e das polícias Civil e Militar em Juazeiro, a magistrada foi inocentada. Em uma das denúncias, ela foi acusada de “privatizar” a Vara Crime, privilegiando o adovgado Luís Cunha – único advogado a conseguir alvarás e sentenças favoráveis da juíza, segundo o Ministério Público.
A juíza colecionou desavenças com juízes de comarcas vizinhas, comandantes da Polícia Militar e delegados das polícias Civil e Federal. Um dos que discordou da absolvição dela nas correições foi o titular da comarca de Casa Nova, Mário Soares Caymmi Gomes.
Mesmo os juízes corregedores que inocentaram a então juíza de Juazeiro admitiram a crise de relacionamento existente entre Olga Guimarães e a maioria das autoridades que atuam na região de Juazeiro. O episódio mais marcante da passagem da juíza na cidade foi a agressão de seu marido, Balduíno Santana, ao promotor Antônio Luciano de Assis, chicoteando-o em pleno fórum.
O delegado José Alberto Alencar declarou, à época da transferência, que a população de Juazeiro se sentiria mais tranqüila com o afastamento da magistrada. “As autoridades vão voltar a trabalhar em harmonia, o que não vinha ocorrendo desde que esta juíza apareceu em Juazeiro. Certamente, o Ministério Público e as polícias Civil, Militar e Federal, além do próprio Judiciário, só terão o que comemorar com essa transferência”, afirmou. Já em Cruz das Almas, a população fez passeata para expulsá-la de lá.
Fonte: Correio da Bahia