Por certo, muitos acharão que fui muito duro com João Ferreira, inclusive, pela sátira que eu fiz sobre o Cerco da Prefeitura de Jeremoabo e o caracterizei como um cangaceiro. Mera criação representativa de um ato que Jeremoabo deve esquecer. Não sou daqueles que a mão que afaga é a mesma que apedreja. Não é isso. Apenas fui surpreendido com um João que eu não conhecia e prefiro não conhecer.
Na campanha de Waldir Pires para o governo do Estado, em Jeremoabo, na linha de frente, estava eu, Dedé, Josadilson e tantos outros que o tempo me fez esquecê-los. No curso dela, João Ferreira, já despontando como a maior liderança política local, aderiu. No comício de Waldir em Jeremoabo, prognostiquei que daquele palanque sairia o candidato a Prefeito. Dois anos depois, João foi eleito Prefeito.
A campanha de João foi magnífica. Todos quereriam a mudança depois das mesmices políticas de Jeremoabo. Já na minha maturidade vivi momentos inesquecíveis que foram à campanha de Zé Ivaldo em Paulo Afonso, Waldir para o Estado e João para Prefeito de Jeremoabo. Toda minha família, a iniciar de minha mãe, Marita Montalvão, hoje já enferma e no limiar da vida, eu, Dedé, Lú, Tita e mais tantos outros.
Terminada a gestão de João Ferreira, caminhamos junto na campanha de Lula de Dalvinho, por ele indicado para concorrer ao cargo de Prefeito. Desta feita, Dedé trilou em caminho distinto do meu. Finda a gestão de Lula, João concorreu no pleito com o ..............., sendo derrotado. Na madrugada quer terminou a apuração, uma multidão na porta do Fórum aguarda João na saída. Como eu também participei da jornada com ele, também me senti derrotado. Ainda no fórum, senti João refugar. O chamei, saímos juntos debaixo de uma vaia. Houve tentativa de agressão a João. Nada a nos abalar.
João voltou a concorrer ao cargo de Prefeito na reeleição do ........... Nova derrota e nós juntos. Já nas eleições de 2004, duas pessoas bem ligadas a mim formaram a chapa, Spencer e João. Era tudo o que se queria. A mim, particularmente. Uma vitória triunfal, sepultando 08 anos de desmandos que não devemos esquecer.
A par de nossas ligações políticas, por herança, mantivemos estreita relação de amizade e paralelamente, João se tornou o meu cliente e o defendo em ações que alcançaram todo o seu patrimônio. Todo o meu patrocínio foi gratuito, sem nenhum ônus para João, o que perdura desde quando João era o Prefeito.
Em razão do histórico acima, na 4ª feira, dia 29, quando João já estava no Prédio da Prefeitura, a ele me dirigi e quando Pedrinho disse que ele não me ouvisse, eu disse que tinha força moral bastante para falar com João e ser ouvido.
Havia algo no ar que João estava mudando. Spencer me noticiou que tinha enviado um Projeto de Lei a Câmara de Vereadores, pedindo autorização para realizar uma operação para aquisição de duas caçambas e um retroescavadeira para o Município, com baixa taxa de juros e em prazo razoável de pagamento. Uma conquista, a proporcionar melhoria substancial para os moradores da zona rural com a recuperação das estradas.
O Projeto para sua aprovação, depende dos votos de 2/3 dos Vereadores, 06, dentre os 09. Pela importância da matéria, telefonei para Manu e para João para conversar com eles e, se possível, obter o voto de manu. O resultado não foi o esperado. Uma decepção não esperada. João é um homem da roça, deveria pensar no interesse do povo. Sabedor das ações contra Spencer, esperava ele o caminho mais curto para o poder. Jogou por terra todo o nosso convívio, de parceria, lealdade e amizade. Os interesses pessoais se sobrepuseram aos interesses da comunidade.
Por fim, veio a invasão da Prefeitura. Um capítulo negro de nossa história política. O João respeitador sucumbiu a interesses menores. Em algum momento esperei que João me procurasse para tratar sobre uma possível transição de cargo, caso o afastamento de Spencer fosse mantido pela Corte de Justiça da Bahia. Nada disso aconteceu. Era o mínimo do esperado.
Infelizmente, João, por interesses curtos, resolveu ignorar uma longa amizade e abarcar amizades recentes e que tão recentemente lhe imputavam adjetivos que não merece ser repetidos.
Eu e Spencer temos uma amizade que vem desde a infância. A minha com João teve início na minha adolescência, solidificada quando comecei a exercer a advocacia. Entre um e outro, prefiro a vítima, Spencer, que vem sofrendo uma perseguição sem quartel, onde sequer sua família é poupada. Prefiro amparar uma mão amiga dependente de Solidariedade, a permanecer ao lado dos verdugos, no cadafalso.
Esse João não é o que eu conheci. Ainda é tempo de mudar, meu cliente, ou ex-cliente.
Paulo Afonso – BA, 04 de setembro de 2007.
MONTALVÃO. Fernando. ESSE NÃO É O JOÃO QUE EU CONHECI. MONTALVÃO ADVOGADOS ASSOCIADOS. Paulo Afonso, 04 de setembro de 2007. Disponível em: http://www.montalvao.adv.br/plexus/artigos_conxoespoliticas.asp