sábado, setembro 08, 2007

De volta para o futuro

Por: Carlos Chagas

BRASÍLIA - Com todo o respeito, mas o ministro do Futuro, Mangabeira Unger, parece ter fugido para o próprio, ou seja, o futuro. Não se tem notícia das iniciativas do ex-professor de Harvard, muito menos na tarefa de programar o porvir para o Estado brasileiro. Da última vez que se ouviu falar dele, estava incluído na comitiva do presidente Lula que visitou o Caribe, mas nem fotografias dele foram distribuídas pelas agências, quanto mais contribuições para o êxito do périplo.
Por tratar-se de um cientista político de comprovada competência, deve-se dar a Mangabeira o benefício da dúvida, ou seja, estará trabalhando em silêncio. Seria até boa estratégia para não bater de frente com o ministro do Planejamento, apesar da evidência de que a imensa maioria dos ministros preocupam com o passado e o presente, ninguém querendo saber do futuro.
A razão é simples: voltou a circular na Esplanada dos Ministérios a versão de que o presidente Lula anda meio contrariado com a performance da maioria de seus auxiliares, mostrando-se disposto a promover reformulação ministerial lá para o fim do ano. Pode ser intriga da oposição, mas é bom aguardar.
Irritação justificada
Irritou-se o senador Cristóvam Buarque com a declaração do presidente Lula de que se orgulha de ter freqüentado a escola apenas até o quarto ano primário. Para o ex-ministro da Educação, trata-se de um estímulo a que parte da juventude faça o mesmo, ou seja, um desestímulo à educação.
Se um menino é informado de que o presidente da República, para chegar ao Palácio do Planalto, não precisou estudar, qual sua reação natural diante das obrigações escolares?
Ora, se o Lula não precisou fazer o dever de casa, se em vez de comparecer às salas de aula saiu pelo mundo e se deu bem, porque o mesmo não acontecerá com outros? Para Cristóvam, o presidente deveria corrigir a declaração anterior para, pelo menos, demonstrar que virou torneiro-mecânico após freqüentar um curso do Senac.
Tiro ao tucano
O que pretendeu o presidente Lula ao denunciar a existência de aves de mau agouro voando sobre os céus do Brasil? Referiu-se àqueles empenhados em alardear que tudo vai mal, que o governo não governa e que o País marca passo. O diabo é que a referência ornitológica foi infeliz. Que aves são essas? Tucanos? Urubus? Avestruzes, aqueles que escondem a cabeça na areia em meio à tempestade?
O humor do presidente anda meio na baixa, quando se trata de examinar as oposições. A batalha pela prorrogação da CPMF não parece vencida, existe o risco de um impasse, dado o prazo agora restrito para a aprovação do projeto. A equipe econômica contribui para exacerbar o ânimo do Lula, porque de Guido Mantega e seus meninos o que mais se ouve são previsões catastróficas a respeito do que acontecerá se a matéria não for votada.
O mínimo que vaticinam é a falência do Bolsa-Família, a falta de recursos para a saúde pública e o naufrágio da previdência social. Pode tratar-se de uma tática para pressionar o Congresso, mas com o risco de o tiro sair pela culatra.
Querem emprego
O programa do Primeiro Emprego fracassou e o governo fez bem em reconhecer. Nem tudo pode dar certo, num universo de carências e dificuldades. Foi anunciado um sucedâneo para o projeto antigo, mas começou mal. Porque a ênfase foi dada à capacitação, à necessidade de quatro milhões e cem mil jovens entre 15 e 29 anos de idade receberem noções de cidadania. Ora, do que eles carecem mesmo é de emprego.
Pode até ser correta a afirmação de que os jovens necessitam de educação para concorrer no mercado de trabalho, mas adiantará muito pouco capacitá-los e fazê-los competir se o resultado da competição, no caso, o emprego, estiver fora de seu alcance. Disse Lula, esta semana, que nem 30% das políticas públicas são do conhecimento geral. Mas se fossem ao menos do conhecimento prático dos jovens, ótimo. Educação de qualidade é essencial, estendida a todos.
Se os diplomas formam um gargalo onde poucos passarão, melhor seria pensar em alternativas. As elites falam em anacronismo, mas é bom lembrar do New Deal, de Roosevelt. O primeiro passo é criar emprego, mesmo que seja para um grupo abrir buracos e outro fechá-los. A preservação da Amazônia absorveria mais de quatro milhões e cem mil jovens, além dos benéficos efeitos para a soberania nacional.
Fonte: Tribuna da Imprensa