Helio Fernandes
Festejaram a volta das bolsas como vitória da economia e do crescimento
O que é Liberdade de Imprensa? É o direito ou a obrigação de informar o leitor? Ou é o que praticam, o hábito, a tradição e o respeito aos seus próprios interesses? Noutro dia, numa conversa (detesto as palavras palestra ou conferência) na Uerj e na UFRJ (vou a tantas que depois me esqueço), me perguntaram: "O que o senhor precisaria para fazer o melhor jornal diário brasileiro?".Respondi imediatamente, com convicção, conhecimento e simplicidade: "Não preciso de muito dinheiro. Quero apenas a volumosa matéria diária que a `Folha', o `Estado' e `O Globo' não publicam porque contraria seus interesses". Muitos alunos riram, mas para satisfação e boa informação, professores presentes aplaudiram, "o jornalista está certíssimo".A famosa Primeira Emenda da Constituição dos EUA é citadíssima no mundo todo, só que poucos sabem interpretá-la: protege eventualmente o direito dos jornalistas, mas esses jornalistas estão submetidos ao sistema do patrão. Durante muitos anos escrevi: "Sou o único dono de jornal que sabe escrever e escreve diariamente. Mas sou também o único que defende o direito do jornalista escrever com liberdade, principalmente em defesa do INTERESSE NACIONAL".Com a turbulência financeira, que tentaram "explicar" como quebra de pagamentos das hipotecas nos EUA, Ha! Ha! Ha!, o compromisso dos jornalões com o "sistema" ficou mais evidente. E não foi apenas no Brasil. Os jornalões de Washington, Londres, Roma, Madri, Buenos Aires, Tóquio, Pequim, Moscou e por aí vai ficaram "alarmados".Tomemos por base o Brasil. O Índice, que estava em 58 mil pontos, caiu v-o-l-u-p-t-u-o-s-a-m-e-n-t-e até 46 mil pontos. Os bancos centrais do mundo inteiro jogaram 600 ou 800 BILHÕES para "salvar os mercados". Novamente: Ha! Ha! Ha! Este repórter foi o único a dizer várias vezes: "O mundo não está em perigo, não há crise alguma, apenas sentiram a possibilidade de uma tacada maior. E o Índice voltará ao limite onde estava, sem qualquer receio".Adivinhei? Inventei? Nada disso. A turbulência começou no dia 24 de julho, ontem 24 de setembro, voltou ao ponto de partida, com jogadores muito mais ricos. Vejamos como os jornalões comemoraram, estouvada, insensata ou irresponsavelmente.A Folha: "Bolsa sobe, bate recorde e volta ao nível pré-crise". Antes só falavam na crise das hipotecas, esqueceram?O Globo: "Bolsa anula perdas e bate recorde histórico". Ainda se deu ao luxo de lembrar, "a alta anulou as perdas causadas pela crise imobiliária nos EUA". Advertência vernacular: usar a palavra ANULAR duas vezes em um texto de 16 linhas de uma coluna é displicência.Correio Braziliense, uma festa: "De novo nas alturas". E o mesmo texto lugar-comum de todos, "Bolsa se recupera (colocaram RECUPERA-SE, corrigi, fiquei constrangido) da crise imobiliária", patati-patatá.O Estado, numa linha, sabiam que todos sairiam iguais: "Bolsa recupera perdas da crise". A seguir a mesma tolice dos outros. Jornal do Commercio, uma linha discreta, "Bolsa atinge mais um recorde". Ninguém informou se foi criado 1 emprego, se melhorou a vida das comunidades, em suma, se houve ganho para alguém a não ser os jogadores.Esta Tribuna da Imprensa, como não considerou queda a jogatina de antes, agora também não considerou alta. Jogatina antes, jogatina depois, por que perder espaço?PS - Os jogadores de fora COMPRARAM em 20 dias 19 BILHÕES, VENDERAM 17. Ficaram com quase 2 BI, por que abandonar o pano verde?
Portinari
O nosso genial pintor teve lembrança maravilhosa, nos 50 anos do painel "Guerra e Paz". Discurso de Lula na ONU, livro, retrospectiva com todos os croquis.
Esse policial civil, "flagrado" com uma BMW que custa mais do que o seu salário de 30 meses (quase 3 anos de trabalho, sem desviar recursos para as despesas do dia-a-dia), nada inédito ou surpreendente. Surpreendente mas não inédito é o exibicionismo impune, a ostentação, a arrogância dos privilegiados, favorecidos, protegidos.
Um dia, em pleno governo, Carlos Lacerda me disse: "Estou impressionado. A maioria de pedidos que recebo, de gente importante, é para a transferência de policiais para a DCD. (Delegacia de Costumes, Jogos e Diversões, a mais poderosa da época).
Almoçávamos no restaurante simples que ele construíra no Guanabara. Acabou, falou: "Vamos visitar essa delegacia". Fomos.
Na Avenida Washington Luiz, pegada à Cruz Vermelha. Descemos do carro, era um casarão, o pátio lotado de carros último tipo. Lacerda deu uma olhada, não entrou, disse: "Vamos". Só isso.
Mandou fazer uma investigação rigorosa, ficou estarrecido. Jornalistas da revista O Cruzeiro e do Correio da Manhã, e de outros, figuravam entre os que tinham maiores indicações.
Um deles, riquíssimo, mereceu um livro do repórter Luiz Mac Doufle, magistral. Levantou dezenas de fazendas dele. Pelo visto, nada mudou.
Duas batalhas com altas oscilações, diversos candidatos, que podem embalançar o governo. Mas o presidente Lula nem liga, "tem o mundo a seus pés na ONU, em quase 130 anos de República ninguém realizou tanto quanto eu".
E não liga para o resto. Essas duas batalhas, sangrentas, do ponto de vista político e eleitoral.
1 - Presidência do Senado, candidatos "pululam".
2 - Substitutos para Mares Guia (que não se agüenta), candidatos "regurgitam".
O movimento contra Renan cresceu muito, e agora não é por férias ou licenças. É pela renúncia da presidência, todos se comprometeram a não cassar o seu mandato de senador.
Por que isso? Existem 3 Poderes. O Executivo está cada vez mais poderoso. O Judiciário (Supremo, no auge do prestígio popular). Restaria o Legislativo, comandado pelo presidente do Senado.
Todos são candidatos deles mesmos ou dos partidos, Renan não agüenta. O "fio umbilical" que o liga ao presidente Lula pode ser rompido a qualquer momento, é tênue e fluido.
Já o ministro Mares Guia, envolvidíssimo no "mensalão-mineiro-valerioduto-eduardoazeredismo", foi finalmente desenterrado.
E terá que ser velado em praça pública. Não esquecer: o PSDB reconheceu o escândalo do governador-senador, tirou-o logo da presidência do partido.
Paulo Bernardo e Mantega, quem é o mais primário e medíocre? Os dois. Agora Paulo Bernardo diz: "Querem acabar com a CPMF pelo fato de ser contra sonegadores, denuncia quem não paga imposto".
Está bem, acreditemos nessa balela. Então, que se mantenha a CPMF como fiscalizadora, com a alíquota de 0,2%. Cumpre seu papel e deixa de ser mais um imposto ou contribuição escorchante.
Conforme garanti desde o primeiro dia, Cacciola não vem para o Brasil, e se vier só no ano que vem. Não demora será colocado em liberdade domiciliar. Endurecendo, pode ser extraditado, para a Itália. Seus advogados, competentes e poderosos.
Fernando Collor lançou a idéia da Rio mais 20, em 2012. Recebeu carta do ministro do Exterior, informando que Lula endossava a idéia. Ontem, da ONU, Lula encampou a sugestão.
Sérgio Cabral chegou "de torna viagem", mas pelo jeito ainda não reassumiu. Ontem, no Diário Oficial, decreto assinado pelo vice Pezão, demitindo Luiz Paulo de Oliveira Sampaio de presidente da Fundação Teatro Municipal. A seguir, nomeou para o lugar Carla Camurati.
Tira um craquíssimo, coloca uma atriz que pode confundir o Municipal com o Restaurante Popular (a 1 real). Ficam perto. Qual a razão?
Todos os jornais televisivos da TV Globo diziam anteontem e ontem: "O ex-jogador Cassagrande, vítima de um acidente de carro, passa bem". Ótimo que passe. Mas ele foi CAUSADOR e não VÍTIMA.
O presidente Lula falou na ONU. A tecnologia não permite saber se de improviso, já que quando acabou tinha dezenas de folhas na mão.
O mais importante (naturalmente excluída a parte política e a propaganda de etanol, sem nenhuma assessoria) foi a referência a Portinari, a seus painéis, à própria ONU, "Guerra e Paz".
João Candido (filho de Portinari) estava com ele, e ajudou muito. (Da mesma forma que Lula deveria ter levado Bautista Vidal, para fornecer ao presidente os dados mais importantes sobre energia renovável). Lula situou muito bem o "Guerra e Paz".
Em outubro, comemoração dos 50 anos dos painéis da ONU, será lançado um livro, que se chamará naturalmente "Guerra e Paz". Terá tudo referente à produção do painel, em todas as fases. (No shopping Leblon novo, publicarei a data, não definida).
Nesse livro, uma carta belíssima do presidente Lula ao executivo do "Projeto Portinari", seu filho João Candido.
Posso dizer com a maior satisfação: precisou um operário chegar a presidente para que o nosso maior e mais genial pintor tivesse consagração tão carinhosa e emocionante.
XXX
O jornalista Lorenzo Carrasco, membro destacado da MSIA, editou o livro "Máfia Verde, o ambientalismo a serviço do governo mundial". Foi tal a repercussão, que o New Iorque Times, arrogante-porta-voz-patrimonialista-não-do-jornalismo-mas-da-subserviência-aos-empresários-financeiros-poderosos, registrou o aparecimento do livro.
De Nova Iorque pediram matéria a Larry Rohter, que estava deixando o lugar de correspondente, parou para cumprir a ordem. O título da matéria publicada parece até isenta para quem não costuma devassar seus escaninhos e desconfiar dos faturamentos.
De qualquer maneira, o livro de Lorenzo Carrasco caminhou com tal velocidade das prateleiras das livrarias para as mãos dos leitores que ele já publicou o segundo, quase com o mesmo título, mais ampliado e abrangente: "Máfia Verde 2: ambientalismo, novo colonialismo".
E Rohter, surpreendentemente deixa dúvidas sobre a ONG Fundo Mundial para a Natureza. "Tanto pode contribuir para conservar a floresta amazônica como representar um complô para entregá-la a controle internacional". Aposto na segunda.
Fonte: Tribuna da Imprensa