Ao relatar no início da tarde ontem, em praça pública, no Centro do Rio, ao que assistiu na sessão secreta que absolveu o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) disse ter se impressionado com o fato de, dos únicos 19 senadores que usaram da palavra naquele dia, 15 foram a favor da cassação dele. A grande maioria - 62 senadores - permaneceu calada toda a sessão.
Na conversa que costuma manter todas às sextas-feiras no Buraco do Lume, numa das mais movimentadas esquinas do Centro do Rio, Chico Alencar deixou claro não ter dúvidas de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atuou a favor de do presidente do Senado.
"O Lula lá na Dinamarca, há algo de podre no reino do Brasil. Mas operando, fortemente, pela defesa do Renan. O PT trabalhou para defender o Renan e o esquema. O Mercadante (Aloizio Mercadante, senador) - para mim, foi surpresa - também. Ele, todo falante, sempre cheio de intelectualidade, uma certa soberba, ficou quietinho lá, mas andava muito no plenário. No final, confessou o voto neutro que não era neutro neste caso, porque precisava 41 votos para cassar o Renan, foram 35 com 6 abstenções. Foi a solução petista", disse.
O deputado do PSOL do Rio também acusou o senador Francisco Dornelles (PP-RJ) de, apesar de dizer que faria uma "defesa técnica", ter feito uma defesa do presidente do Congresso eminentemente política. Segundo Chico Alencar, Dornelles começou admitindo que senadores podem burlar o Fisco.
"Ele falou que não há provas e que, no máximo, se houve algum crime, foi um crime tributário e fiscal, que qualquer um daqui pode cometer. Se a gente cassar o Renan por causa disto, é um precedente perigoso." Depois disto, fez uma advertência fortemente política.
De acordo com o deputado do PSOL, Dornelles admitiu a pressão popular, mas lembrou que "estes que querem cassar o Renan, amanhã vão querer reestatizar a (Companhia) Vale do Rio Doce (CVRD), vão querer desapropriar terras para a reforma agrária, desapropriar empresas estrangeiras. Vão querer até a revogabilidade dos nossos mandatos. Será que vocês vão votar nisto?"
Fonte: Tribuna da Imprensa