O secretário de Segurança Pública, José Beltrame, disse que a operação de ontem no Complexo do Alemão foi decidida depois de um minucioso levantamento de inteligência que definiu como alvos as localidades Areal, Chuveirinho e Matinha, classificadas por ele como "locais onde o Estado há muito tempo não ia".
As comunidades estariam sendo usadas nos últimos dias como refúgio para os traficantes durante os quase dois meses de presença da polícia no Alemão. Para o secretário, a apreensão de quatro fuzis Ponto30, que são consideradas capazes de atingir aeronaves, mostram o estoque de armas e munição que o combate ineficiente ao tráfico proporcionou no Rio nos últimos anos. No sábado, uma outra arma do mesmo tipo já tinha sido apreendida no Alemão.
"Quebramos um pacto silencioso de não-agressão, em que a solução dos problemas era não agir", afirmou o secretário, criticando indiretamente a ação policial de governos anteriores. Beltrame admitiu que, depois de quase dois meses de pressão policial, a quadrilha local continua com grande capacidade de reação e afirmou que o remédio para o Rio "é amargo". "Resultados podem chocar, mas a situação é muito ruim. Se tenho instrumento de inteligência que me diz que há ilicitudes naquele local, tenho o dever de agir. Infelizmente, o traficante não desce e entrega a arma. O nosso objetivo é desarmar".
Operação
Beltrame acompanhou pessoalmente a coordenação da operação, durante a tarde, no comando montado no batalhão da PM em Olaria (16º BPM). Segundo o secretário, a operação estava em planejamento há mais de um mês, mas a secretaria esperava o melhor momento para desencadeá-la. Ele disse que a ação foi iniciada por volta das 10h com o objetivo de minimizar os riscos para a população, já que começou depois do horário de entrada de crianças nas escolas. "Poderíamos ter feito isso há dois meses e em duas horas, mas a contabilidade de mortos e feridos seria muito maior", afirmou.
A Polícia Federal também ajudou o planejamento com dados de inteligência. Além do comandante da PM, Ubiratan Ângelo, do chefe da Polícia Civil, Gilberto Ribeiro, e do comandante da Força Nacional, coronel Luiz Antônio, todos os quadros de inteligência da Secretaria de Segurança e das polícias Civil e Militar foram transferidos para o 16º BPM. Segundo o subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança do Rio, Edval Novaes, o trabalho coletivo relacionando dados de informantes, escutas telefônicas e denúncias teve como objetivo municiar os policiais em operação com dados sobre os alvos e a movimentação dos bandidos com a avanço da polícia.
Beltrame contou que os policiais levaram cinco horas na progressão dentro da favela sob fogo cruzado até chegarem aos seus objetivos. No final da tarde de ontem, duas equipes ainda tinham dificuldades para deixar o local. Segundo o secretário, o cerco aos acessos do Alemão, iniciado no último dia 14, vai continuar por tempo indeterminado, até que seja possível implementar uma nova política de policiamento para a região.
Ele disse que uma nova megaoperação pode acontecer. Para ele, a estratégia está dando certo e eliminando a capilarização da entrada de armas e munição que está proporcionando aos traficantes a manutenção da resistência. O cerco continuará a ter o apoio da Força Nacional de Segurança durante os Jogos Pan-Americanos. Para o trabalho, serão destacados pelo menos 230 agentes da FNS dos cerca de 5 mil que farão a segurança dos jogos.
Histórico
O complexo do Alemão está ocupado pela polícia desde o dia 2 de maio. Na ocasião, a ação tinha como objetivo capturar os responsáveis pela morte dos soldados Marco Antônio Ribeiro Vieira e Marcos André Lopes da Silva, do 9º Batalhão (Rocha Miranda), assassinados com mais de 30 tiros no dia 1º de maio. Desde o início dos trabalhos, os tiroteios são freqüentes. Desde maio já morreram 25 pessoas. A violência na região também deixou crianças cerca de 5.000 crianças sem aulas.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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