quarta-feira, março 14, 2007

Só o autor satisfaz-se com a confusão

Por: Carlos Chagas - Tribuna da Imprensa

BRASÍLIA - Tarso Genro toma posse amanhã no Ministério da Justiça, é provável que seja acompanhado por Walfrido dos Mares Guia nas Relações Institucionais, deixando vago o Ministério do Turismo. Como só hoje está previsto novo encontro do presidente Lula com o presidente do PMDB, Michel Temer, o provável é que nada se decida a respeito da quinta pasta destinada ao partido. Quinta, porque a quarta será de José Temporão, para a Saúde, mesmo rejeitado pelo PMDB, ao qual aderiu no mês de dezembro. O PT, a contragosto, repetiu ontem ao presidente estar com ele e não abrir, "com Marta ou sem Marta".
Frustram-se as expectativas de a reforma ministerial terminar esta semana. Lula parece dispor de prazer especial em empurrar as mudanças com a barriga, como se as protelações fossem razão direta de melhoria em sua equipe. Não são. Cada dia perdido enfraquece o governo, ainda que fortaleça seu chefe, desde novembro, quando pela primeira vez foi anunciada a mudança ministerial.
Dúvidas permanecem. Waldir Pires continuará na Defesa? Quem ocupará o Ministério do Desenvolvimento Industrial, no lugar de Luiz Fernando Furlan? Delfim Neto será convidado para o BNDES? Marta Suplicy aceitará o Turismo? E quanto aos ministérios da Agricultura, da Pesca e da Reforma Agrária? O jornalista Franklin Martins aceitou mesmo a Secretaria de Comunicação Social? E o PDT, vai com Carlos Lupi na Previdência ou Miro Teixeira continua no páreo?
Ninguém agüenta mais a novela esticada em capítulos tão pueris, a não ser o autor, que parece o único a se satisfazer com a confusão. Deveria tomar cuidado, porque tantas cicatrizes na base parlamentar arriscam uma derrota do Plano de Aceleração do Crescimento, quando começarem a ser votadas as medidas provisórias, os projetos de lei e as duas emendas constitucionais.
Não mudou nada
Duas escorregadelas do deputado Michel Temer ao se reeleger para a presidência do PMDB, domingo, repercutem negativamente entre os senadores do partido. A primeira, de que o partido apóia o governo e, por isso, insiste em maior participação no ministério, como se o governo fosse um condomínio de poder. A outra, a exortação para que os partidos da base oficial venham a se unir em torno de um candidato do PMDB à presidência, em 2010. Nem o perfil desse candidato existe, e mesmo imaginando que venha a ser Aécio Neves, se mudar de partido, como admitir o PT formando com ele?
O singular nessas duas contestações é saber de onde elas partiram: dos senadores peemedebistas, que não engoliram o apoio de Lula a Michel Temer e a defenestração de Nelson Jobim, que também disputava a presidência do partido. Os senadores, liderados por Renan Calheiros e José Sarney, em maioria não foram à convenção de domingo, e estão dispostos a manter acesa a chama da discórdia interna.
Minimizam a chefia de Michel, dizendo que o PMDB elegeu só três deputados, em 70, em São Paulo. Dois são evangélicos e o último foi o presidente reeleito. Na Bahia, da bancada de 39 deputados, o partido só elegeu Geddel Vieira Lima, indicado para ministro pelo governador Jacques Wagner. Senadores não aceitaram a derrota, manterão um canal de comunicação direto com Lula, e dão sinais de que reagirão ao ingresso de Aécio Neves na legenda.
Melhor não explicar
A performance do novo senador Fernando Collor vem surpreendendo até mesmo seus antigos adversários. Suas intervenções nas comissões e em apartes, no plenário, são consideradas excelentes, pelo denso conteúdo e pela forma elegante e firme com que fluem a cada momento. Dos mais assíduos senadores, Collor vem sendo aconselhado a adiar e até a esquecer do discurso que prometeu logo depois de eleito, fornecendo sua versão sobre os acontecimentos que o botaram para fora do poder.
Não decidiu, mas ainda não marcou data para o pronunciamento, que poderia reabrir velhas feridas. Afinal, para explicar o passado já mais ou menos remoto, o ex-presidente não poderia deixar de estabelecer comparações com o passado recente. Ele foi obrigado a renunciar porque teria seu mandato cassado em função de poucos fatos e muitas especulações. Entre estas, suas ligações com PC Farias, mas com relação àquelas sobrou aquisição irregular de um veículo de quinta categoria, fato de que o STF o inocentou. Por se tratar de personagem controvertido, pode ser que Collor não aceite conselhos. Vale aguardar.

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