PorErika Klingl
Do Correio Braziliense
08/12/2006
07h49-A contratação de novos controladores de vôo para diminuir a crise no setor aéreo está surtindo efeito contrário. Os atuais operadores estão indignados com o concurso público que vai contratar 64 civis, inexperientes, mas que receberão o mesmo que um controlador militar no fim de carreira. O salário informado no edital é quase o dobro do que é pago para operadores de radar com até sete anos de carreira. Ontem, as queixas chegaram ao gabinete do comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos da Silva Bueno, que quer um encontro com o grupo. Vai pedir paciência aos controladores.
Na última semana, o governo divulgou dois editais para contratação de novos operadores de vôo. O primeiro é para 160 homens e mulheres interessados na carreira militar. Quem já estiver nas Forças Armadas concorre para mudar de trabalho dentro da própria Aeronáutica. Os civis também podem participar desse concurso, mas os aprovados terão que fazer escola preparatória para formação profissional. Só depois poderão trabalhar nos aeroportos. Nesse caso, os salários são os mesmos da carreira militar e aumentam, conforme a patente. Normalmente, são necessários sete anos de serviço para mudar de qualificação.
O segundo edital lançado pelo governo é específico para civis. Serão 64 vagas com salários iniciais de R$ 3.148, 40. Dessas vagas, seis são para Brasília. “Apesar de a carreira civil de controlador de vôo não incluir as gratificações de um militar, com a soma do vale-transporte o salário de um novato será quase o mesmo que o meu”, critica um controlador com 20 anos de carreira.
O Correio teve acesso a três contracheques de controladores de vôo com diferentes anos de trabalho. No início de carreira no 1º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta 1), o salário é de R$ 2.400. Descontados os impostos e taxas, o vencimento cai para R$1.400. Após 14 anos no Cindacta 1, o salário não supera R$ 3.100. Com os descontos, R$ 2.400. O supervisor, com 20 anos de serviços prestados, tem salário de R$ 3.600, reduzido para R$ 2.600 líquidos. “Com isso, não é raro encontrar colegas que fazem bico. Tenho amigos motoristas de taxi e até quem quebra galho como pintor”, denuncia um controlador.
Hierarquia
Por trás de toda a confusão, há uma briga para que os salários da categoria sejam aumentados. As reclamações incluem melhores condições de trabalho. Cerca de dois terços dos controladores de vôo são militares. Além de receberem um salário menor, são submetidos à rígida hierarquia militar. Os civis têm rotina de funcionários públicos.
Todas as tentativas desses controladores de obter aumentos salariais ou gratificações esbarram na resistência do Comando da Aeronáutica em criar diferenças dentro da tropa. A função de operador é desempenhada por sargentos. O aumento diferenciado implicaria na reivindicação de isonomia para as Forças Armadas, com efeito cascata sobre os soldos. Há anos os militares tentam equiparação salarial com os outros controladores, mas esbarram na lei. Não é possível aumentar os salários sem dar reajuste geral aos militares.
O clima de tensão interno foi aumentando e explodiu depois do acidente com o avião da Gol, que expôs as condições de trabalho dos controladores. Há tempos circula dentro do governo a proposta de transferir todos os controladores para o regime civil, assim como outra prevê a criação de uma nova estrutura, bancada pelas empresas aéreas e fora do regime militar. A idéia esbarra invariavelmente na Aeronáutica, que não quer perder influência. O argumento oficial é segurança nacional. O Cindacta controla não apenas o tráfego das aeronaves nos céus do país, mas todo o espaço aéreo. :
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