Por Fábio de Oliveira Ribeiro 15/10/2006 às 17:54
Crítica de Socrates aos tiranos de Atenas se aplica a Alckmim e Lula.
A democracia demonstrou seu valor, mas ainda não foi capaz de produzir crescimento econômico e igualdade. Ao contrário, o abismo social tem aumentado desde que a Constituição Federal foi promulgada em 1988.
Desde que foram implementadas as medidas econômicas que possibilitaram crescimento das exportações e estabilidade monetária, os ricos ficaram mais ricos. Com os ganhos de produtividade o desemprego se tornou crônico e produziu um estoque populacional sem qualquer finalidade econômica e cujas necessidades o Estado não é capaz de atender.
O populismo ronda as instituições políticas à medida em que os partidos naufragam na corrupção e lideranças políticas sentem-se tentadas a transformar a população miserável sua clientela. Que efeito perverso duradouro pode ter a concessão de benefícios como o bolsa família?
Os elogios públicos ao modelo chinês, que proporciona crescimento econômico de 10% ao ano com a supressão das liberdades políticas, demonstram que os perigos do autoritarismo não foram completamente afastados. À medida que o Brasil passa a assumir maiores responsabilidades militares no exterior (Haiti, Líbano, ONU, etc...) o poder e influência interna dos principais comandantes das três armas também é afetado e pode afetar o delicado equilíbrio de nossa democracia economicamente fracassada.
Vivemos numa sociedade em crise, que mira o futuro com desespero e olha seu passado com desdém. Nesse contexto, nada melhor do que recorrer à história da Atenas do século IV aC. Há quase um século a democracia ateniense agonizava. Em 411 AC a democracia foi derrubada e instituída a ditadura dos Quatrocentos. Pouco tempo depois a ditadura dos Quatrocentos foi substituída pelo regime dos Trinta, que usaram sistematicamente a brutalidade para reformar as instituições da cidade-estado.
Foi neste contexto que Sócrates, segundo Platão (Apologia), se recusou a participar da prisão de Leão de Salamina. Xenofonte (Memoráveis) relata que Sócrates criticou a ditadura com as seguintes palavras ?Parece-me estranho que um vaqueiro que deixa seus bois diminuírem em número e emagrecerem não admita ser um mau vaqueiro; porém mais estranho ainda é que o estadista que torna seus cidadãos menos numerosos e piores não sinta vergonha nem se considere um mal estadista.? As palavras do filósofo chegaram aos ouvidos dos Trinta, razão pela qual ele foi chamado à presente de Críticas e Cáricles, os quais o advertiram de que doravante não poderia mais ensinar a arte do discurso racional.
Muito embora não vivamos numa ditadura, as palavras de Sócrates se ajustam muito bem a Alckmin e Lula.
Durante os seis anos que governou o Estado de São Paulo o sorridente Alckmim fez vistas grossas aos abusos cometidos pela polícia militar. Ele permitiu e até incentivou o uso da violência ao declarar guerra à criminalidade. O resultado não poderia ser mais funesto. A criminalidade aumentou muito embora seu governo tenha provocado milhares de mortos, muitos dos quais inocentes que estavam no local errado, na hora errada ou que tinham a cor errada (como no caso do Dentista executado por ser negro). Curiosamente este governante que reduziu seus governados, que manchou suas mãos de sangue, não sentem-se nem culpado nem incompetente. Ao contrário, parece determinado a fazer aos brasileiros o mal que já fez aos paulistas.
Lula por sua vez também deveria sentir vergonha de se dizer estadista. Ele transformou milhares de brasileiros em cidadãos piores, em clientes seus ao ampliar e desvirtuar programas como o bolsa família. O grande estadista ou não percebeu ou deseja que uma parte da população se acostume a receber apenas migalhas. Ao apostar na distribuição de migalhas, Lula coloca em risco a própria democracia que o levou ao Palácio do Planalto. Afinal, uma população dependente de favores de políticos sujeita-se a qualquer regime desde continue a receber migalhas.
É neste contexto que temos que optar entre votar válido (em Lula ou Alckmim) ou votar nulo. Como nenhum dos candidatos é um estadista e ambos fazem jus à critica socrática, segue-se que a melhor opção para o cidadão brasileiro é VOTAR NULO. Mais do que uma opção, VOTAR NULO é um dever já que os dois candidatos demonstram com suas ações que não estão à altura do cargo que desejam ocupar.
Fábio de Oliveira Ribeiro
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