Por: Isabella Souto (Estado de Minas)
Um ano depois da maior crise política vivida nos últimos 15 anos no Brasil, uma campanha pela internet vem ganhando cada vez mais força e adeptos em todo o país: a defesa do voto nulo. Já circula pela web e-mails com argumentos pela anulação do voto, sites que ensinam como fazê-lo e, a maior febre do momento, o site de relacionamentos Orkut, já totaliza 308 comunidades discutindo as eleições de outubro. O objetivo é convencer os eleitores brasileiros que se 50% das pessoas mais uma anularem o seu voto, haverá uma nova eleição, com candidatos obrigatoriamente diferentes. Ou seja, votando nulo, seria possível renovar o Legislativo e o Executivo.
A estratégia seria boa, não fosse um único "detalhe": não há nada no código eleitoral (Lei 4737/65) que obrigue a realização de nova disputa com outros políticos. Um candidato só seria impedido de disputar nova eleição se tiver o registro cassado por ter cometido um crime. "Ao contrário do que estão dizendo, não há nenhuma determinação na lei para que sejam indicados outros candidatos no caso de eleição anulada", explica a secretária Judiciária do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG), Eliana Galuppo. Segundo a lei, no caso de ser necessária nova eleição, a Justiça Eleitoral tem entre 20 e 40 dias depois da decisão para marcar a disputa.
Na mesma proporção em que a discussão ultrapassa fronteiras, a campanha vai ganhando cada vez mais força. O argumento é retirar do poder os mensaleiros e corruptos. Entre os textos repassados nos e-mails, há um divulgado também em site: "Não adianta escolher!!!! Eles são todos iguais!!! Quem pode ser diferente é você!!! 50% + 1 voto. Este 1 voto pode ser o seu!!! Participe, anule seu voto". Outro site traz a réplica da urna eleitoral onde, clicando nas teclas, é possível entrar em blogs, opinar sobre o voto nulo e até mesmo ver uma simulação de voto nulo.
CANTOR No Orkut, são 308 comunidades em defesa da anulação de votos. A maior delas é a Protesto! Voto nulo em 2006!, que já contava com 25.603 adeptos na semana passada. O grupo possui sete subdivisões com temas políticos. Uma delas é intitulada "O Brasil que queremos". "O Voto Nulo em massa é instrumento de mudança estrutural, tirando a legitimidade do sistema vigente. Daí, então, os movimentos sociais e ONGs e cidadãos comuns poderão ser ouvidos em seus clamores, após as insuperáveis resistências serem vencidas. Ajude também a construir projetos para quando esse momento chegar", diz o texto de abertura.
Pessoas públicas também já se manifestaram. A mais recente partiu do vocalista da banda Capital Inicial, Dinho Ouro Preto. Nos últimos shows, o cantor tem questionado com o público a crise política. E defende o voto nulo. "Acho que o voto nulo é uma expressão. Você não está votando em branco e dizendo que qualquer um deles serve. Você está dizendo que nenhum deles serve", afirmou recentemente. Em entrevista a um site de notícias sobre artistas, a atriz Cláudia Alencar opinou de forma semelhante. "Este deveria ser o protesto do povo."
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