terça-feira, maio 16, 2006

Oposição quer levar Dantas à CPI para explicar negociação com PT

Por: Fabio Graner (O Estado de São Paulo)

A oposição ao governo no Senado quer levar o banqueiro Daniel Dantas para depor na CPI dos Bingos. A principal intenção é investigar se houve pagamento a petistas para que Dantas e seu grupo, o Opportunity, melhorassem as relações com o governo.
Dantas afirmou em entrevista à revista Veja desta semana que seu grupo recebeu do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares um pedido de doação de US$ 40 milhões a 50 milhões em troca de resolver as dificuldades que enfrentava com o governo em negócios de seu interesse. Como pano de fundo, há a composição societária pela Brasil Telecom, cujo comando era disputado pelo Opportunity. Os fundos de pensão de estatais, juntamente com o Citibank, retiraram o banqueiro do controle da companhia. A contenda foi parar na Justiça dos Estados Unidos.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, disse ao Estado que a entrevista do banqueiro só reforçou a intenção de levá-lo à CPI. O tucano já tinha mostrado disposição de chamar Dantas a depor na semana passada, por conta da denúncia feita pela irmã do banqueiro, Verônica Dantas, na Justiça norte-americana. Ela disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ex-ministros José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda) teriam "ódio" de Daniel Dantas por ele se recusar a fazer as doações ilegais supostamente pedidas pelo PT.
"Agora, com a entrevista de Dantas neste fim de semana, estou convicto da necessidade de levá-lo para a CPI a fim de explicar o episódio envolvendo ele e o PT", disse Virgílio. O líder do PSDB evitou comentar outra reportagem publicada pela mesma revista, a qual relata que Dantas teria um dossiê com informação de contas de petistas no exterior - inclusive o presidente Lula. "Não posso falar sobre algo que não tem comprovação. Não seria correto", disse o tucano.
A revista ressalva que a autenticidade da lista com as contas de petistas é duvidosa. A relação, diz a reportagem, teve origem em Frank Holder, um ex-agente da CIA (agência de investigação do governo norte-americano) que trabalhava para a Kroll Associates, e pelo ex-ministro argentino José Luís Manzano. Em 2004, a Kroll foi acusada de investigar cardeais petistas, inclusive com assento no governo, a pedido do grupo Opportunity.
Um fac-símile da lista, reproduzida na revista, mostra que Lula teria conta com US$ 38.552,23; Dirceu, com US$ 36.255,36; e Palocci, com US$ 2.126.805. O nomes de outros políticos constam da lista.
O senador José Agripino Maia (PFL-RN), líder do PFL no Senado, cerrou fileiras com Virgílio em torno da ida de Dantas ao Senado. "Essa entrevista impõe esclarecimentos", afirmou Agripino, para quem esse depoimento não necessariamente precisa ocorrer na CPI dos Bingos. A comissão está próxima de seu encerramento, o que tem feito sua direção evitar abrir novas frentes de investigação. "Ele (Dantas) é peça-chave e precisa ser ouvido", disse o parlamentar. "Se na CPI dos Bingos ou em outra instância, nós vamos discutir. Mas que ele vai depor, vai."
O senador Heráclito Fortes (PFL-PI), amigo de Daniel Dantas, não se opõe à ida do banqueiro à CPI para depor sobre o caso. Fortes pondera, no entanto, que o requerimento deverá prever sessão secreta, pelo menos em parte da reunião, porque o processo envolvendo o grupo Opportunity na corte norte-americana corre em segredo de Justiça. "Venho levantando essa questão desde a semana passada. Até para evitar possíveis manobras para que Dantas não venha à CPI, é preciso considerar a possibilidade de se fazer um depoimento sigiloso", disse o pefelista.
DEFINIÇÃO
O presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), informou que vai se reunir hoje com o relator e os líderes partidários antes de tomar uma posição sobre a convocação de Dantas. "Até o fim da tarde teremos uma definição sobre o assunto", afirmou ontem.
O assunto também deve ser discutido hoje na reunião da coordenação política do governo. O próprio Lula comentou no sábado, em Viena, o conteúdo da revista Veja. Para o presidente, a revista foi "irresponsável" e cometeu uma "insanidade", ao publicar a suposta lista de contas . "A revista não traz uma denúncia. Traz uma mentira. Eu considero isso uma mentira", disse o presidente.
Segundo integrantes do primeiro escalão do governo, não está descartada a possibilidade de entrar com ações contra a publicação. O tom irado usado por Lula aponta nessa direção. "Vamos ser francos: a Veja tem alguns jornalistas que já há algum tempo vêm merecendo o Nobel de irresponsabilidade", afirmou Lula. "Quem escreveu aquilo não pode dizer que é jornalista. É bandido, mau-caráter, malfeitor e mentiroso."

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