quarta-feira, maio 31, 2006

ITÁLIA - 1934

Por: Yahoo! - Copa do Mundo 2006

Uma festa para o Duce
Campeão:
Itália
Vice:
Tchecoslováquia
Ficha técnica
Sede: ItáliaPaíses inscritos: 32Participantes: 16Gols: 70Média de gols: 4,11Média de público: 23.235
A segunda Copa do Mundo, ao contrário da primeira, teve realmente uma dimensão mundial. Trinta e dois países, de todos os continentes, se inscreveram. Das chamadas grandes potências do futebol, apenas a Inglaterra esteve ausente. Mas a segunda Copa do Mundo, pelo menos num ponto, foi muito semelhante à primeira: também nela o Brasil não esteve representado pelo que havia de melhor em seu futebol. E mais uma vez o motivo foi uma crise interna.
Um ano antes, a implantação do regime profissional no Rio de Janeiro e em São Paulo dividira o nosso futebol: de um lado, fiel ao amadorismo, a CBD; do outro, adepta do novo regime, a Federação Brasileira de Futebol (FBF). A esta última estavam filiados os principais clubes cariocas e paulistas - e, conseqüentemente, os melhores jogadores do país. Mas a FIFA não reconhecia a Federação Brasileira de Futebol e, sim, a CBD, à qual caberia convocar e mandar nossa seleção à Copa.
Mesmo com as dificuldades para formar um grupo, desta vez, pelo menos, a Seleção Brasileira tinha um técnico: Luís Vinhais. E um chefe de delegação bem menos desligado do futebol: Lourival Fontes. Carlito Rocha, que convocou os jogadores, viajou como juiz e delegado. Francisco de Paula Job, como tesoureiro. José Caribé da Rocha, como jornalista. Os cinco, mais os dezesseis jogadores, embarcaram ao meio-dia de 12 de maio, pelo Conte Biancamano, para uma desconfortável e monótona viagem até o porto italiano de Gênova.
Copa do mata-mata O Mundial de 1934 foi a primeiro em que se tornou necessária uma fase eliminatória: eram 32 países inscritos para apenas 16 finalistas. O Brasil, diante da desistência do Peru, com quem deveria ter jogado num dos grupos sul-americanos, garantiu automaticamente sua ida à Itália. A partir das oitavas-de-final, os 16 finalistas decidiam sua sorte na base do tudo ou nada, isto é, os vencedores iam passando à etapa seguinte enquanto os perdedores eram sumariamente desclassificados. Em tal sistema de disputa, a Seleção Brasileira sabia que cada jogo era, por si só, uma decisão. Uma decisão que ela, inexperiente, não estava preparada para enfrentar. E isso ficou claro logo no primeiro tempo da estréia.
Os espanhóis tinham um excelente time. Zamora não era apenas um goleiro excepcional, mas o maior que a Europa conhecera até então. Quincoces, um zagueiro ágil e vigoroso. Muguerza, Lecue, Garostiza e Lafuente, ótimos controladores de bola. Langara, um goleador. Foi um jogo repleto de lances emocionantes, mas nem por isso difícil para os espanhóis, que no primeiro tempo venciam por 2 x 0, gols de Irardgorri, de pênalti, e Langara. No início do segundo tempo, Leônidas da Silva, em jogada individual, conseguia descontar, mas o mesmo Langara, 10 minutos depois, estabelecia o escore final de 3 x 1.
A passagem brasileira pela 2ª Copa do Mundo foi tão discreta que quase ninguém notou quando a Seleção Brasileira deixou a Itália para uma excursão arranjada às pressas, com jogos em Belgrado, Zagreb, Barcelona, Lisboa e Porto (duas vitórias, duas derrotas e quatro empates, num total de oito jogos com seleções locais).
Fascismo em campo As oitavas-de-final cumpriam-se todas no dia 27 de maio. A Itália, sob o comando de Vittorio Pozzo e reforçada por vários oriundi (entre eles os argentinos Monti, Guaita e Orsi, e os brasileiros De Maria e Filó, ambos ex-corintianos e o último conhecido lá pelo sobrenome Guarisi), era uma das atrações da primeira rodada. Na véspera da estréia contra os Estados Unidos, em Roma, o técnico e os jogadores ouviram o veemente discurso a eles dirigido pelo general Giorgio Vaccaro, membro da milizia, a quem o próprio Benito Mussolini, o Duce, indicara para presidir a Federação Italiana: "O principal objetivo deste campeonato é demonstrar que o esporte fascista é movido por um grande idealismo, manifestado pela responsabilidade dos seus dirigentes e pela maturidade do seu povo, sob a inspiração do Duce."
A Copa do Mundo de 1934 seria, assim, para a Itália fascista de Mussolini, o que os Jogos Olímpicos de 1936 haveriam de ser para a Alemanha nazista de Hitler, um meio de afirmar a superioridade de um país, de um regime, de uma raça, sobre todos os outros povos do mundo. Pozzo e seus jogadores sabiam disso. Por isso, dedicaram a Mussolini sua primeira vitória: uma goleada de 7 x 1, que os críticos atribuíam muito mais à fragilidade dos norte-americanos (cuja seleção era bem inferior à que se apresentara quatro anos antes em Montevidéu) do que propriamente às virtudes dos italianos.
A opinião geral, aliás, era de que a equipe da casa, a dona da festa, a Squadra Azzurra de Pozzo, tinha pelo menos duas adversárias mais fortes do que ela na luta pela taça de ouro, já que o Uruguai - ainda sentido com a ausência italiana em 1930 - não mandara seus campeões à Itália em 1934. E as duas adversárias mais fortes eram exatamente as próximas que o time do Duce teria pela frente: a Espanha e a Áustria.
Além da Itália e da Espanha, mais seis equipes haviam se classificado nas oitavas-de-final: Tchecoslováquia, Alemanha, Áustria, Suíça, Hungria e Suécia, por terem eliminado, respectivamente, Romênia, Bélgica, França, Holanda, Egito e Argentina (também com uma crise em seu futebol e que, por isso, não mandara uma boa seleção à Itália).
Nas quartas-de-final - enquanto a Alemanha vencia a Suécia; a Áustria, a Hungria; e a Tchecoslováquia, a Suíça -, Itália e Espanha disputavam uma das mais dramáticas partidas da história. Na verdade, foram dois jogos: empate no primeiro, empate na prorrogação de meia hora e vitória italiana no segundo. Foram, ao todo, 210 minutos de muita luta, muita violência e muita confusão. Os espanhóis foram tão massacrados na primeira partida que sete dos seus titulares, entre eles o grande Zamora e o goleador Langara, não puderam atuar na segunda. E mesmo assim, para chegarem à vitória, os italianos tiveram de contar com um discutido gol de Meazza, que teria ajeitado a bola com a mão antes de vencer Noguet, o goleiro reserva espanhol.
Nas semifinais, na mesma tarde em que a Tchecoslováquia derrotava a Alemanha, as seleções da Itália e da Áustria faziam a que foi considerada a ‘‘decisão antecipada’‘ da Copa. Os austríacos tinham uma equipe maravilhosa, eram chamados de Wunderteam, e contavam com uma entusiasmada torcida que chegara a Milão na véspera da partida. Mas os austríacos, embora jogassem bem, perderam por 1 x 0, gol do ítalo-argentino Guaita.
A final, disputada em 10 de junho, em Roma, não foi, porém, um mero cumprimento de tabela, um simples desfecho de festa para os italianos. Eles sofreram, e muito, para chegarem aos 2 x 1 sobre a Tchecoslováquia. Na tribuna de honra, Mussolini estava nervoso. E nervosos, também, estavam os jogadores. Após 90 minutos do que eles supunham ser uma final fácil, o empate de 1 x 1 tornava necessária a prorrogação de meia hora. Nela, somente nela, veio a vitória final, graças a um gol de Schiavo. A Itália era campeã do mundo. Nada mais natural que aquela comemoração toda, no centro do campo, onde jogadores se abraçavam e abraçavam Vittorio Pozzo.
Durante três meses, presos a uma disciplina de caserna, sem poderem ao menos sair para ver a família, eles não haviam feito outra coisa senão pensar na taça de ouro. Agora, seriam tratados como heróis nacionais.
Artilheiro
Nejedly (Tchecoslováquia), 5 gols
Nome completo: Ildrich NejedlyNascimento: 13 de dezembro de 1909, em PragaClubes: Sparta Praga
Centroavante técnico, mas que sabia utilizar seu porte físico; jogou 44 vezes pela seleção da Tchecoslováquia, incluindo as Copas de 1934 e 1938. Defendeu apenas um clube durante toda sua carreira e é o terceiro maior artilheiro da história da seleção tchecoslovaca.
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