segunda-feira, maio 01, 2006

A intrigante autofagia tucana

Por: Paulo Moura, cientista político

Quem acompanha regularmente os artigos desse articulista sabe que nutri uma sólida dúvida sobre quem seria a melhor alternativa, dentro do PSDB, para enfrentar Lula. Definidas as candidaturas de Alckmin a presidente e Serra a governador de São Paulo, no entanto, passei a tratar o quadro como definido, supondo que as articulações e iniciativas de campanha de ambos os candidatos deslanchariam, curando as eventuais feridas da disputa interna no partido tucano, consolidando a aliança do PSDB com o PFL e criando as condições para a decolagem de Alckmin.Obviamente, seqüelas de disputas partidárias internas assim como as decorrentes do fato de que setores do PFL alinharam-se com Serra e ficaram órfãos com a vitória de Alckmin, não se resolvem automaticamente. Problemas eram previsíveis, e, boa parte das primeiras iniciativas da nascente candidatura presidencial tucana deveria se direcionar para lamber as feridas da disputa recém encerrada com Serra e agregar em torno de si, os apoios daqueles que se alinhavam com o candidato preterido no PSDB.Li na coluna do Cláudio Humberto na Internet, também, que estaria ocorrendo um disputa de egos entre o cientista político Antônio Lavareda, responsável pelas pesquisas da campanha de Alckmin, e o jornalista Luiz Gonzáles, estrategista do marketing da candidatura tucana.No rol de problemas enfrentados por Alckmin, não podem ser menosprezadas ainda, as declarações do prefeito César Maia e de representantes do PFL da Bahia e de Sergipe, que manifestam descontentamento com as resistências dos tucanos locais em apoiar candidatos pefelistas ao invés de alinharem-se com outros partidos que disputarão o governo contra os candidatos pefelistas.Problemas dessa natureza são normais em qualquer campanha presidencial. Em agosto de 1994 FHC já ultrapassara Lula nas pesquisas e se constatavam atritos entre tucanos em pefelistas, que, de resto, prosseguiram ao longo dos dois mandatos de FHC.César Maia era serrista de primeira hora e parece ainda não ter se conformado com a desistência de Serra da candidatura presidencial (repito: desistência de Serra). Foi Maia quem, pela primeira vez, plantou em sua newsletter o argumento de que a candidatura de Serra a governador de SP enfraquecia Alckmin, na medida em que deixaria o ex-prefeito de São Paulo livre para substituir o presidenciável tucano em caso de sua candidatura não decolar. O PT agradece.Considero absolutamente compreensível que os pefelistas dos estados joguem pesado para enquadrar os tucanos no apoio a seus candidatos a governador (ou no mínimo na neutralização de sua oposição às alternativas do PFL), nos acasos em que os correligionários de Bornhausen e ACM estejam mais bem posicionados para vencer as disputas regionais, já que o os pefelistas oferecem como contrapartida, além do apoio a Alckmin, o apoio aos tucanos candidatos a governador nos estados em que os peessedebistas estão mais bem posicionados nas pesquisas. Acomodar essas situações em cada estado dá um trabalho danado e é uma tarefa que requer tempo. Mas esses obstáculos são perfeitamente contornáveis por articuladores hábeis.Disputas de egos entre assessores políticos e integrantes da equipe de marketing de candidatos majoritários são quase inevitáveis. É rara uma campanha em que isso não acontece. Problemas de ajuste da estratégia na fase inicial de uma campanha eleitoral também.Cientistas Políticos, na função de analistas políticos e de pesquisas eleitorais, são provedores de conteúdo para o marketing e a comunicação. Publicitários e jornalistas são provedores de forma na estrutura de comunicação de uma campanha. Em tese, não há motivos para disputas entre ambos, desde que cada um atue na sua área. No entanto, sendo a política a arena da disputa por poder, nem sempre a sinergia e a integração das várias equipes de profissionais e assessores políticos que comandam campanhas eleitorais acontecem como é desejável. Mas, isso não chega a ser um empecilho ao sucesso da campanha.Incluo Lavareda entre os poucos cientistas políticos brasileiros bem preparados para fazer e analisar pesquisas eleitorais e, a partir delas, subsidiar os estrategistas de comunicação e marketing de uma campanha. Não conheço Luiz Gonzáles, que, diga-se de passagem estava em viagem ao exterior e recém se integra ao trabalho de construção da estratégia de Alckmin. Mas, se foi ele o responsável pelas amostras do horário eleitoral na TV da campanha do tucano a governador de São Paulo em 2002 a que tive acesso, o homem é competente.Imagino que, entre maio e junho, os ajustes na articulação política com os aliados, na equipe e na estratégia de marketing de Alckmin estejam equacionados. Se, o que diz Lavareda com base nas pesquisas que está fazendo para Alckmin está correto, e intuo que sim, o candidato tucano deve crescer no próximo período, atraindo eleitores que antes preferiam Serra (e que por isso não migrarão para Lula); eleitores influenciáveis pela PFL, especialmente no nordeste, e eleitores que desconhecem Alckmin e terão oportunidade de conhecê-lo na propaganda que o PSDB leva ao ar nos próximos dias e nos roteiros que ele cumpre pelo país. Quando isso acontecer, essas vozes dissonantes que ficam plantando intrigas no colunismo político se calarão e passarão a adular o tucano com se fossem adeptos de sua candidatura desde criancinhas.Mesmo assim, não deixa de intrigar essa estranha vocação de setores do tucanato para solapar a decolagem de Alckmin, alimentando intrigas subterrâneas nas colunas políticas do país, antes mesmo de que o candidato do seu próprio partido tenha tido tempo e condições de equacionar soluções adequadas para os problemas que qualquer candidatura tende a enfrentar no nascedouro.Não descarto a hipótese de que, se Alckmin não decolar, possa ser substituído por Serra no futuro. Mas, daí a criar problemas artificiais para solapar sua candidatura, antes mesmo de dar-lhe a chance de decolar, vai uma distância quilométrica. Até mesmo por que, uma operação de substituição da candidatura de Alckmin por Serra é de altíssimo risco e pode deixar o PSDB sem a Presidência da República e sem o governo da São Paulo, simultaneamente.O PT deve estar adorando essas bicadas que os tucanos trocam entre si e com o PFL.

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