Por: Tribuna da Imprensa
BRASÍLIA - Apontados como cúmplices do Primeiro Comando da Capital (PCC), os advogados Maria Cristina de Souza Rachado e Sérgio Weslei da Cunha caíram em contradição ontem durante depoimentos tensos na CPI do Tráfico de Armas, na Câmara dos Deputados.
Os dois são acusados de comprar de um técnico de som a serviço da Câmara uma gravação da sessão sigilosa em que a CPI ouviu os delegados Godofredo Bitencourt Filho e Ruy Ferraz. Poucas horas depois o líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, teria sabido de uma transferência e precipitado a onda de violência que assustou o Estado de São Paulo.
A primeira a falar foi Maria Cristina, que negou ter comprado e repassado a gravação, contrariando declarações do técnico de som Arthur Vinícius Pilastre Silva, que confessou ter vendido aos advogados por R$ 200 um CD com a íntegra da sessão secreta. Logo na chegada à CPI, a advogada levou um tombo na sala de reunião e depois permaneceu sentada em uma bancada usada por deputados até ser chamada para depor.
Durante o depoimento, Maria Cristina chorou, passou mal, mas não sensibilizou os deputados da comissão. Para integrantes da CPI, a advogada mentiu várias vezes.
Indiciados
Os dois advogados são considerados indiciados pela CPI, portanto, o falso testemunho no depoimento não pôde ser considerado motivo para declarar a prisão dos dois. Um pedido de prisão preventiva da dupla foi encaminhado à Justiça Federal em Brasília na segunda-feira passada. Os dois estão sendo investigados pelo Departamento de Polícia Legislativa (Depol) por corrupção ativa e, além disso, são acusados pela CPI por formação de quadrilha.
"É um depoimento cheio de mentiras que será desconstruído", afirmou o relator da CPI, deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Ele enumerou cinco pontos em que a advogada mentiu na comissão. "Em primeiro lugar, ela não conseguiu explicar o que estava fazendo em Brasília", disse Pimenta.
A advogada afirmou que foi à reunião da comissão do dia 10 porque pensou que seu cliente Marcola fosse depor na comissão. Mesmo depois de saber que não havia sido marcado o depoimento dele, ela permaneceu na Casa, porque, segundo ela, não tinha o que fazer.
Pimenta ressalta também que não havia motivos para que Maria Cristina buscasse a cópia do depoimento da sessão reservada, já que ela não é advogada de Leandro Lima de Carvalho, preso acusado de ligações com o PCC, que depôs no mesmo dia na CPI em sessão reservada. "Ela nega que tenha adquirido e ficado com o CD (cópia da gravação), mas Arthur e os funcionários da loja em que foram feitas as cópias dizem o contrário", continuou Pimenta.
Além disso, o relator afirma que a advogada mentiu ao se referir a troca de e-mail entre ela e Arthur. No depoimento, disse que sua secretária, de nome Sheila, respondeu à mensagem enviada pelo ex-funcionário, mas o relator mostrou cópia da mensagem assinada por "Cris".
Pimenta mostrou ainda imagens colhidas pelo sistema de TV interno da Câmara para contestar parte do depoimento da advogada na qual ela relata como se deu o encontro com o advogado Sérgio e o ex-funcionário Arthur, antes de seguirem para o shopping onde foram feitas as cópias em CD.
A CPI exibiu em um telão imagens do sistema interno da Câmara que registraram a movimentação dos dois na Casa e fotos do sistema do shopping mostrando os três nos corredores e na porta da loja onde foram feitas as cópias, segundo Arthur Silva.
O deputado Raul Jungmann (PPS-PE) apontou outra contradição de advogada. Ela afirmou que não freqüentava presídios porque não tinha tempo. O deputado levou dados com registro do número da OAB da advogada em dez entradas em penitenciárias.
No depoimento, a advogada chorou. "Não sou pombo-correio. Eu sou uma advogada", disse Maria Cristina. "Não é justo vocês chamarem uma pessoa que não conhecem de pilantra, sem provar", disse, chorando. A advogada negou que tenha ouvido a gravação.
Nega
Assim como a advogada, Sérgio Cunha também negou fazer parte de facção criminosa. Ele disse que pensou que a cópia entregue pelo funcionário fosse autorizada pela comissão, mesmo sabendo que a sessão era reservada. Cunha, advogado de Leandro Carvalho, argumentou que tinha direito de saber o que foi falado na reunião. "Eu tinha direito. Eu solicitei na secretaria e subentendi que tinha sido autorizado, porque o próprio técnico foi fazer a cópia comigo", afirmou Cunha.
Os dois advogados acusaram Arthur Silva de mentir. Maria Cristina disse que sua carreira profissional está sendo "jogada na lama por um funcionário (Artur Vinicius) que mente". "Ele não é todo esse santinho que ele está querendo pintar", afirmou Cunha.
O advogado disse que não mentiu na entrevista que deu em São Paulo na qual afirmou que tinha seguido da Câmara direto ao aeroporto, sem passar no shopping, onde as câmeras de vídeo registraram sua presença. "Eu omiti na primeira vez. Na hora não era conveniente falar", disse Cunha. "Foi estratégia de marketing e de defesa", completou.
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