Por: Antero Paes de Barros
O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, foi certeiro, na denúncia que fez ao Supremo Tribunal Federal, recomendando a abertura de processo contra exatos 40 envolvidos no esquema do mensalão. A denúncia é uma peça jurídica primorosa, muito bem elaborada, que explica com detalhes como as 40 pessoas citadas se uniram numa quadrilha para garantir a manutenção do PT no poder, por meio da compra de votos e de suporte político. Ele cita nominalmente quem eram os coordenadores, os operadores financeiros e os integrantes do braço marqueteiro da organização criminosa. O número de indiciados, exatos 40, lembra a famosa lenda árabe da obra "As mil e uma noites". O documento elaborado pelo procurador é um verdadeiro "Abre-te, Sésamo", a senha que fazia abrir a porta da caverna onde eram guardados os tesouros roubados pelos 40 ladrões da quadrilha. Ele é o caminho para que se chegue ao nome da principal figura da quadrilha, que dá nome à história, o conhecido Ali Babá. A pergunta que se fazia ontem em todo o Brasil era justamente esta. Quem é o Ali Babá, chefe dos 40 ladrões, capaz de montar e operar um sistema criminoso, envolvendo ministros, deputados, dirigentes de partidos políticos, banqueiros, donos de corretoras de valores, marqueteiros e donos de agências de publicidade e tantos outros profissionais para desviar milhões de reais das contas públicas? Quem é o Ali Babá, poderoso manipulador da imensa quantia de dinheiro usada para pagar dívidas de campanhas eleitorais antigas, para patrocinar novas campanhas eleitorais e garantir votos na votação de projetos considerados importantes pelo governo na Câmara dos Deputados? Quem é o Ali Babá, que ordenou ao Banco do Brasil, à ECT, à Petrobras e a outras poderosas estatais que destinassem milhões de reais para o impressionante esquema de corrupção? Quem é o Ali Babá, cujo poder levou bancos como o BMG e o Banco Rural, empresas como a Brasil Telecom e outras a destinar milhões às desconhecidas agências do obscuro Marcos Valério? Quem é o Ali Babá, que deu ao mesmo Marcos Valério poderes para abrir portas no Palácio do Planalto e no Banco Central para grupos interessados em fazer negócios vantajosos para eles mesmos com órgãos do governo? A denúncia do procurador-geral da República não identifica, mas isso não lhe tira o mérito nem a consistência. Ela aponta o ex-chefe do gabinete civil, José Dirceu, como operador principal do escandaloso esquema do mensalão e os ex-dirigentes do PT e alguns ex-ministros como seus mais importantes coordenadores. Recomenda ao Supremo Tribunal Federal a investigação e a penalização dos 40 integrantes da sofisticada organização. Cada um é acusado de acordo com sua participação. Todos fazem parte da quadrilha. Alguns são indiciados por lavagem de dinheiro, outros por evasão de divisas, peculato, corrupção ativa e passiva, e assim por diante. O procurador Antonio Fernando de Souza confirma a conclusão do relatório da CPI dos Correios de que o mensalão efetivamente existiu e funcionou com o objetivo de angariar fundos para sustentar o PT no poder. Como o homem que calculava, outro personagem das histórias de origem árabe, constatei que ele cita 52 vezes a palavra "quadrilha" e 36 vezes a expressão "organização criminosa" em sua denúncia. O processo agora vai tramitar no Supremo e, com tão grande número de indiciados, sua decisão não será rápida como deseja a sociedade. Há que ter calma. A polícia italiana levou décadas para conseguir prender o mafioso Bernardo Provenzano, o grande chefão, o chefe de todos os chefes da Máfia, como dizem os italianos. Esta semana, perto de Corleone, na Sicília, ele se entregou. Com o "Abre-te Sésamo" do procurador Antonio Fernando, poderemos chegar em pouco tempo ao famoso Ali Babá. Mesmo que ele não se entregue. Antero Paes de Barros é jornalista, radialista, senador e presidente do PSDB de Mato Grosso.
Fonte: A Gazeta (MT)
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