Por: Paulo G. M. de Moura, cientista político
Com a definição de Alckmin como candidato do PSDB à Presidência da República, criou-se a expectativa de que sua candidatura receberia um impulso inicial que apareceria nas pesquisas publicadas em seguida. Essa expectativa não vem se confirmando conforme o esperado, ainda que não se cultivasse a ilusão de que o peessedebista pudesse alcançar rapidamente os índices que Serra ostentava quando era cogitado como presidenciável. Alckmin cresceu, mas ainda não decolou. Sequer conseguiu atrair para si, parcela expressiva das manifestações de intenção de voto do eleitor que estava com Serra, e que, portanto, não deve votar em Lula.Vários fatores podem ser causas desse problema. O desconhecimento de Alckmin fora de São Paulo; as especulações plantadas pelo jornalismo petista, dando conta de que Serra conspira para substituir Alckmin como candidato do PSDB; e o tiroteio do PT em São Paulo, com as denúncias envolvendo verbas publicitárias da Nossa Caixa e familiares do ex-governador, também não pode ser menosprezado, já que atingiu a imagem do tucano em seu reduto, causando surpresa num flanco do qual não se esperavam vulnerabilidades dessa natureza.Para usar uma imagem tão comum ao economês corrente, pode-se dizer que o candidato tucano apresenta legítimo vôo de galinha. Isto é; sua trajetória é errática. Sua candidatura não tem foco e não está posicionada. As variáveis da imagem que deverá projetar como candidato a presidente não estão claras; ou sequer esboçadas. E, finalmente, Alckmin não encontrou o discurso que precisa fazer para seduzir a maioria dos brasileiros.Acredito, portanto, que o principal problema da candidatura Alckmin é a falta de estratégia. A ocorrência do problema é compreensível dado que Alckmin estava, até pouco tempo, concentrado na disputa interna do PSDB, que demandou um tipo de esforço e de discurso diferente daquele que se demanda de um candidato a presidente que precisa falar para todo o povo brasileiro.Os sinais dessa carência de estratégia, no entanto, já se faziam sentir naquele período pois, mesmo em se tratando de uma disputa com Serra, na qual seu público-alvo estava no âmbito interno do PSDB, Alckmin já era desafiado a apresentar-se como presidenciável, com atributos de imagem e discurso compatíveis com o cargo que postulava ao disputar a escolha de seu partido. Os apelos à imagem do “gerente competente” e do “picolé de chuchu”, que foram concebidas e deram resultados como elementos da estratégia de marketing que o elegeu governador dos paulistas, eram recorrentemente usadas por Alckmin em suas aparições na mídia nacional, como se aquilo que lhe serviu de foco, posicionamento, imagem e discurso de candidato a governador de São Paulo em 2002, servisse também, para sustentar sua candidatura a presidente do Brasil em 2006.A ausência de uma estratégia definida para sua candidatura a presidente expôs Alckmin a vulnerabilidades que não foram suficientes para impedir a definição do PSDB pelo seu nome. Afinal, boa parte da disputa interna do PSDB girou em torno de variáveis paulistas. Os dois pretendentes eram paulistas; a questão da renúncia de Serra estava no centro do debate, e nesse estado concentra-se o grupo hegemônico do partido tucano. Por fim, Serra desistiu.Sem encontrar o foco da candidatura; sem posicionar-se; sem definir a imagem que irá projetar e sem um discurso, qualquer candidato fica sem critérios para agir e para pautar a dinâmica da disputa. Ao contrário, o que tende a acontecer sob essas circunstâncias, é que a candidatura tende a entrar numa lógica entrópica e reativa, sendo pautada pelo adversário ou pela dinâmica dos acontecimentos que não controla. É isso o que está acontecendo com Alckmin. E, pior, essa vulnerabilidade está minando sua decolagem num momento-chave, em que seu crescimento inicial é imprescindível para consolidar sua imagem de adversário competitivo, justificando sua escolha pelo PSDB, que tinha Serra como alternativa.De nada adianta Alckmin sair viajando pelo nordeste como um desesperado atrás dos eleitores de Lula. Se a solução para esse problema da falta de estratégia não for equacionada no curto prazo, se tornará fatal para o projeto de poder do PSDB. Para isso, os tucanos precisam tomar algumas medidas preventivas de curto prazo. A primeira coisa a fazer é parar para pensar e traçar um plano de ação, ao invés de seguir voando como galinhas desesperadas.A providência seguinte é encomendar uma bateria de pesquisas que alimente a construção das variáveis estratégicas (foco, posicionamento, imagem e discurso) da candidatura de Alckmin. Isso leva algum tempo, mas é um investimento imprescindível e inadiável. Enquanto essas repostas não são construídas, é preciso definir algumas balizas mínimas que permitam orientar a atuação do candidato, que precisa trocar o pneu do carro andando. Todo o cuidado em cada declaração e/ou aparição pública de Alckmin, é pouco nesse momento. Sem balizas estratégicas que lhe forneçam critérios para decisões e ações, o candidato torna-se vulnerável e tende a errar, causando prejuízos eleitorais a si mesmo.De onde o PT tirou essas denúncias contra Alckmin e seus familiares, tem mais? Como se antecipar aos próximos ataques do PT?Para ganhar fôlego e tempo, é preciso atacar duro o PT, levando Lula em pessoa para o centro do alvo das investigações sobre a corrupção sob seu governo, de modo a impedir o molusco de dar curso à ofensiva que desenvolve para barrar a decolagem de Alckmin. Okamoto na CPI; o filho de Lula na CPI; a mãe do caseiro Nildo aos prantos na TV, dizendo o que pensa do que Lula mandou fazer com seu filho, por exemplo. É preciso, também, parar de brincar com a hipótese do impeachment com se isso fosse artifício de marketing eleitoral. Que os tucanos não queiram arcar com o ônus da iniciativa é compreensível. Mas, abrir um processo de impeachment contra Lula é uma questão de defesa da democracia e da integridade das nossas instituições. Se Lula tiver que concorrer dando explicações sobre o por quê de a OAB estar pedindo seu impeachment, tanto melhor. Se for cassado antes da eleição, que seja. Além disso, Serra, da cama do hospital na qual está convalescendo de cirurgia de hérnia, precisa dar - e já - uma declaração pública cabal sepultando qualquer especulação sobre a virtual substituição de Alckmin como candidato a presidente. Parem de brincar senhores! Isso não é congresso da UNE! Só o PT tem a ganhar com essas especulações. Se elas seguirem tendo curso ante o silêncio de Serra; dança Alckmin com candidato a presidente, dança Serra como candidato a governador, e dançam o PSDB e o PFL como alternativa de poder ao petismo nos próximos vinte anos.Há tempo para corrigir todos esse problemas e para botar Alckmin na trilha da vitória. Sempre, é claro, supondo-se que os tucanos estejam decididos a fazer de Alckmin presidente e Serra governador de São Paulo, livrando-nos do desastre de mais quatro anos de petismo no poder. Não custa lembrar. Quem apostou tudo abrindo mão da prefeitura e do governo de SP ao mesmo tempo, pode ter muito a ganhar, mas corre o risco de perder tudo se errar.
Fonte: Diegocasagrande
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