Por: Tribuna da Imprensa
O feriado da Sexta-Feira Santa foi de silêncio no Palácio Laranjeiras, onde o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, e a governadora Rosinha Matheus se reuniram com a família. Segundo assessores, ainda consternado com a morte de um tio, Garotinho optou pelo recolhimento e não quer comentar a decisão do ex-presidente Itamar Franco de disputar com ele a candidatura à Presidência da República na convenção do PMDB em junho.
No entanto, colaboradores indicaram que, na verdade, garotinho se prepara para a reunião dos candidatos a governador do partido em Brasília, na quarta-feira. Do outro lado, amigos de Itamar também dão conta de que o ex-presidente espera a reunião para sentir o terreno onde vai pisar.
Garotinho pretende apostar todas as suas fichas na conversa com os candidatos do PMDB para que eles levem para os estados não só a tese de que a candidatura própria não prejudicará as campanhas regionais diante da verticalização, mas que ele é o candidato mais viável para um palanque nacional forte.
Crescendo nas pesquisas de opinião, ele usará o argumento de que Itamar pode até ser uma importante liderança do partido, mas não tem votos. Sobre as limitações de alianças regionais que a verticalização impede, Garotinho vai sustentar que o PMDB tem como certa a eleição dos candidatos pelo menos em 15 estados e a liberdade para fechar coligações não vai fazer diferença.
Itamar, que deve desembarcar em Brasília na terça-feira, também vai usar a reunião para testar a viabilidade da sua candidatura. A mesma surpresa que Garotinho manifestou diante do anúncio da pré-candidatura de Itamar em Juiz de Fora na última quarta-feira é experimentada por muitos dos aliados do ex-presidente.
"Falei com ele há dez dias e ele estava firme em concorrer ao Senado. Também fiquei surpreso quando ele anunciou a decisão", afirmou um integrante antigo do grupo de Itamar que tem trânsito no governo Lula.
Dirceu o Quércia?
Consciente do grau de imprevisibilidade que cerca a personalidade do ex-presidente, o amigo não sabe até que ponto o ex-ministro José Dirceu poderia influenciá-lo decisivamente e atribui mais a idéia ao ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia, com quem Itamar estava conversando intensamente nos últimos 20 dias.
No grupo de Garotinho no PMDB fluminense, a influência de Dirceu é tida como certa, mas não decisiva. "Não temos dúvida de que Itamar está a serviço do presidente Lula, que é o maior interessado em tirar Garotinho da disputa.
Dirceu pode não ter interferido diretamente, mas apelou para a amizade e inflou a vaidade de Itamar, classificando-o como forte liderança", disse um dos que trabalham ativamente na pré-campanha de Garotinho no Rio. Na avaliação dele, pode estar na mesa de negociação a desistência do PT de lançar um candidato ao Senado em Minas, facilitando para Itamar.
"Não existe uma razão única. Há uma confluência de interesses diferentes. Quércia quer se fortalecer e se tornar interlocutor com o PSDB, Dirceu viu nisso uma oportunidade de barrar o Garotinho. Itamar também quer resolver sua questão dentro do PMDB de Minas", analisou outro colaborador de Garotinho, referindo-se a resistências pontuais no diretório mineiro do partido à candidatura do ex-presidente ao Senado, que seria o seu verdadeiro objetivo.
Senado
O correligionário de Itamar consultado pela reportagem concorda. Ele acredita que o ex-presidente está aproveitando o momento para testar a sua popularidade e vai a Brasília sentir entre os candidatos dos estados o clima que pode encontrar na convenção.
Caso sinta muitas dificuldades, usará a exposição para catapultar sua candidatura ao Senado. "Pelo que conheço do Itamar, ele só vai bater o pênalti se sentir que não tem goleiro. Se souber que tem 50% de chance, ou 60%, desiste e sai para o Senado", afirmou a fonte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário