sábado, abril 15, 2006

Ex-corregedor da Câmara sob suspeita

Por: Hugo Marques


Documento da CPI dos Correios diz que assessor de Luiz Piauhylino é ''suposto beneficiário'' do valerioduto

BRASÍLIA - A CPI dos Correios enviou ao Ministério Público uma lista com os nomes de 24 servidores do Congresso sobre os quais há suspeitas de serem também beneficiários de parte do dinheiro repassado pelas empresas e funcionários de Marcos Valério Fernandes de Souza, o operador do mensalão. Entre essas pessoas, que deverão ser investigadas pelo MP e pela Polícia Federal, está Airon Hamilton Vasconcelos, assessor do ex-corregedor da Câmara, Luiz Piauhylino (PDT-PE).
O nome de Airon já tinha havia divulgado como suspeito de receber o mensalão, mas a CPI conseguiu levantar novos indícios que comprometeriam o assessor de Piauhylino. É que Airan esteve 29 vezes na sede do Banco Rural, em Brasília, nos dias em que os funcionários e as empresas de Marcos Valério sacaram um total de R$ 2,2 milhões.
Não há confirmação de que alguns dos saques tenham sido embolsados pelos assessores ou pelos parlamentares com os quais trabalhavam. Mas o envio da lista ao Ministério Público e à Polícia Federal abre um novo horizonte de investigação, com base em uma tabela detalhada sobre ''dados da movimentação financeira suspeita''.
A justificativa apresentada no ano passado por Piauhylino foi a de que seu assessor teria ido várias vezes no Rural porque era síndico de um prédio que tinha conta no banco. O documento que a CPI enviou ao Ministério Público trata Airon como ''suposto beneficiário'' e coloca Piauhylino como sua ''relação parlamentar''.
Piauhylino é o mesmo que engavetou a investigação do mensalão, quando o Jornal do Brasil denunciou o esquema corrupto em setembro de 2004. Na época, o deputado era o corregedor da Câmara, e disse ter arquivado a investigação porque o autor da denúncia, deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), não confirmou a existência do esquema. Os dois parlamentares estão hoje no mesmo partido. O celular de Piauhylino não atendia chamadas ontem.
A lista de servidores suspeitos inclui Cláudia Luíza de Morais, que trabalha com o deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE). A lista que a CPI enviou ao MP mostra que Cláudia esteve pelo menos 23 vezes na agência do Banco Rural em Brasília, nos mesmos dias em que foram sacados R$ 2,7 milhões nas contas de Marcos Valério. No ano passado, Cláudia explicou que ia freqüentemente ao Rural para realizar operações bancárias do consultório dentário do ex-marido.
Outra servidora na lista dos supostos beneficiários é Silvana Paz Japiassu, que trabalhava com o então presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). A lista mostra que no mesmo dia em que ela esteve no Banco Rural foi registrada operação de R$ 30 mil da empresa de Valério.
A lista da CPI tem ainda os nomes de assessores dos deputados João Mendes (PSL-RJ), Nilton Baiano (PP-ES), Benedito Lira (PP-AL), e Bispo Wanderval (PL-SP). O assessor Renato Paoliello, que trabalha com o deputado Nilton Baiano, aparece na lista como suposto beneficiário de saque de R$ 100 mil da corretora Euro. Renato alegou no início do ano ter prestado serviços à corretora.
O MP e a PF tratam a investigação do mensalão em total sigilo. Os procuradores e delegados não querem detalhar as investigações que deverão ser feitas. Os parlamentares da CPI desconfiam da exagerada freqüência de funcionários de deputados à agência do Banco Rural.
A agência fica no prédio de um shopping center a cinco quilômetros do Congresso. Os servidores do Legislativo recebem seus salários em contas do Banco do Brasil, que tem agências na Câmara e no Senado. A maioria dos saques feitos na agência do Rural tinha a participação de Simone Reis Vasconcelos, funcionária da SMP&B, e de Cristiano Paz, sócio de Valério.
Na terça-feira, o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, denunciou 40 políticos, empresários, banqueiros e pessoas envolvidas com o mensalão. Novas denúncias devem ser apresentadas ao Supremo Tribunal Federal.
Fonte: JBOnline

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