Por: Ralph J. Hofmann
“Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão?” Ali Babá, sabe-se lá por que motivos, estava andando na periferia da cidade. Talvez pastoreasse camelos e tivesse saído a procura de uma montaria desgarrada, mas de qualquer forma estava oculto quando ouviu um tropel de camelos ou cavalos e viu 40 pessoas, que pelo mau aspecto deduziu serem perigosos. Oculto viu-os encaminhar-se para uma rocha e gritar: “Abre te sésamo”, e viu abrir-se uma porta de caverna. Após os indivíduos abandonarem o local, aproximou-se da rocha gritou a frase mágica, descobriu uma fortuna dentro da caverna e levou parte da fortuna dos 40 sujeitos. Essa remoção de valores é um roubo. Ali Babá não sabia se aqueles eram ladrões. Eram mal encarados, mas todos nós já encontramos pessoas honradas porém mal encaradas. Simplesmente Ali Babá não foi com a cara deles. Ao abrir a porteira da caverna Ali Babá invadiu o domicílio dos sujeitos sem ser convidado. O mero fato de abrir a porteira já o transformou em criminoso. Deveria ter procurado as autoridades e comunicado suas suspeitas. A seguir removeu parte do botim e instalou-se como homem rico. Não procurou os donos legítimos da fortuna. Apropriou-se dela, Quando os donos da caverna repararam (após muitas visitas do Ali Babá para efetuar saques da poupança dos cavernosos indivíduos) que apesar de trazerem sempre mais botim para a caverna o volume da poupança não aumentara procuraram saber quem na região enriquecera subitamente. Imediatamente descobriram que Ali comprara casa, camelos de corrida, escravas, etc. Trataram de recuperar o que era seu. Invadiram a casa de Ali escondidos em odres de óleo. Acabaram por ser mortos por Ali e sua bela escrava amasiada. Ou seja, Ali e a amante haviam se tornado assassinos após roubarem as vítimas do assassinato. O argumento da história original seria que Ali não roubou. Tomou dos ladrões e depois se defendeu. Contudo na verdade Ali roubou um pouco, se acostumou a um nível de vida mais alto e passou a saquear sistematicamente a poupança daqueles abnegados cultores do assalto para manter o nível de vida que passara a considerar seu de direito. Só não comprou um jato pessoal porque não haviam inventado nessa época. Não plantou, não construiu, não fez filantropia. Só usufruiu. Mas os outros não eram bandidos? Sim, mas neste caso que os entregasse às autoridades. Mas isso foi na Arábia de priscas eras, talvez até antes do Islamismo. Já no Brasil da era moderna o Ali Babá teria sido cooptado pelos ladrões, que reconheceriam a utilidade de uma figura carismática e fútil e teria sido transformado em representante oficial da quadrilha, que manteria a polícia à distância, aumentando a sua capacidade de saque. Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão?
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