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quarta-feira, junho 01, 2022

Como vai funcionar a nova autorização para viagens à Europa

 




Batizado de Etias, sistema eletrônico entrará em vigor em um ano. Sob as novas regras, viajantes brasileiros terão que solicitar autorização e pagar uma taxa antes de visitar os países do Espaço Schengen.

A partir de maio de 2023, turistas brasileiros terão que pedir uma autorização e desembolsar 7 euros (cerca de 35 reais) para entrar na maioria dos países da Europa. É quando entra em vigor o novo Sistema Europeu de Informação e Autorização de Viagem (Etias, na sigla em inglês).

A medida passará a valer para visitantes de países que não precisam de visto para entrar no chamado Espaço Schengen, uma zona de livre circulação de pessoas que engloba a maioria dos países da União Europeia (UE), além de Islândia, Noruega e Suíça.

Atualmente, cidadãos de 63 países, entre eles o Brasil, podem ingressar no Espaço Schengen sem necessidade de visto por até 90 dias. Mas a partir do ano que vem, esses visitantes terão que se registrar no Etias antes da viagem.

O documento deverá ser solicitado pela internet e terá validade de três anos, ou até o fim da validade do passaporte apresentado pelo viajante – o que vier primeiro.

Menores de 18 anos não precisarão pagar a taxa de 7 euros. Brasileiros que tenham passaportes de países europeus também estão isentos da cobrança.

O Etias vem sendo discutido pelas autoridades europeias desde 2016, foi aprovado pelo Parlamento Europeu em 2018 e deveria entrar em vigor em 2021, mas foi adiado.

O que é o Etias?

O Sistema Europeu de Informação e Autorização de Viagem é um sistema completamente eletrônico que autoriza a entrada e acompanha visitantes de países que não precisam de visto para entrar no Espaço Schengen.

O Etias fará uma verificação de segurança detalhada de cada solicitante para determinar previamente se ele está apto para ingressar em qualquer país da zona de livre circulação.

Segundo as autoridades europeias, a medida visa principalmente garantir que os viajantes não sejam uma ameaça à segurança, mas também busca reduzir os procedimentos e o tempo de espera nas fronteiras, bem como impedir a imigração ilegal.

Além do uso para fins comerciais e de turismo, o novo sistema permitirá também que as pessoas visitem os países europeus por motivos médicos e de trânsito.

Como vai funcionar?

O primeiro passo para solicitar a entrada no Espaço Schengen será preencher um formulário online, o que deverá levar cerca de dez minutos.

Entre as informações solicitadas estarão passaporte válido, nome completo, data de nascimento, naturalidade, endereço, telefone e primeiro país europeu que pretende visitar. Serão também feitas uma série de perguntas básicas relacionadas com antecedentes criminais, presença em zonas de conflito e possíveis deportações de outros países, por exemplo.

No caso dos menores de 18 anos, o responsável legal deverá fazer a solicitação em seu nome, mas eles estarão isentos da taxa de 7 euros.

Para familiares de cidadãos dos países do Schengen, será necessário enviar comprovante de parentesco, cartão de residência e outras informações básicas.

Ao fim do formulário, o visitante deverá pagar a taxa de 7 euros e submeter a solicitação. O sistema eletrônico então irá checar se as informações fornecidas estão corretas, avaliar a elegibilidade do visitante, bem como os fatores de risco.

Se o solicitante preencheu o formulário corretamente, é elegível para entrada no Espaço Schengen e não representa uma ameaça à segurança, ele será então aprovado.

Contudo, se o Etias detectar eletronicamente algum problema, a solicitação de entrada será processada manualmente, o que pode levar cerca de quatro dias, ou no máximo duas semanas.

Se a solicitação for negada, o visitante ainda pode recorrer da decisão, ou dependendo do motivo da recusa, fazer uma nova solicitação com os devidos documentos.

Será possível viajar a qualquer país do Schengen?

Para usar a autorização concedida pelo Etias corretamente, o visitante deverá entrar na Europa pelo primeiro país indicado em sua solicitação. Se o plano é viajar por Alemanha, Bélgica e Áustria, por exemplo, e o viajante apontou no formulário que o primeiro país será a Alemanha, ele terá que passar primeiro pela Alemanha, antes de visitar Bélgica e Áustria.

Após entrar no primeiro país, o visitante poderá viajar a qualquer outro país do Espaço Schengen por 90 dias.

Contudo, as autoridades europeias alertam que o Etias não garante necessariamente a entrada nos países europeus. O ingresso ficará a critério das autoridades da fronteira.

Além disso, existem países da União Europeia que não fazem parte do Espaço Schengen, portanto não será possível entrar neles com a autorização do Etias.

Que países fazem parte do Schengen?

O Espaço Schengen abrange 26 países europeus. Eles não possuem controles fronteiriços entre si.

São eles: Áustria, Bélgica, República Tcheca, Dinamarca, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Islândia, Itália, Letônia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Holanda, Noruega, Polônia, Portugal, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Suécia e Suíça.

Deutsche Welle

Guedes fortalecido




Por Carlos Andreazza (foto)

Paulo Guedes não chega fortalecido à reta final do governo Bolsonaro por haver imposto suas ideias — na hipótese de que as palestras motivacionais contivessem algo de programa econômico. Nem no mercado o levam a sério. Guedes vai ora forte porque, na hipótese de que houvesse alguma resistência sua à entrega do Orçamento para Ciro Nogueira e Lira Boys, aderiu absolutamente — ou melhor, sem mais fingimento — ao projeto gastador pela reeleição do chefe.

Veja-se a Petrobras. O que se faz ali expressa esse movimento. Bolsonaro não está preocupado com a maneira como a empresa forma preço. Quer que o preço não suba até a eleição. Quer um jeito. Jeitinho. Ponto. E então ascende Guedes, de súbito prestigiado. Clara Nunes cantaria que, para subir, o ministro desceu. Desceu mais. Guedes como agente interventor numa companhia de capital aberto. Suas crias liberais vêm para segurar o preço dos combustíveis. Não mexerão no estatuto da petroleira nem no PPI. A mão grande pesa na figura de um puxadinho.

Enrolar, ganhar tempo; explorando até, esticando ao máximo, o prazo para formalização do novo presidente da Petrobras. Quarenta e cinco, talvez 60 dias. Tudo paralisado, Conselho atual deslegitimado, diretoria pendurada. Nada ocorre. Não se bole em preço. E depois, posto o Caio da vez, empurrar: represar preço — mais 100, 120 dias — para que a correção só bata nas bombas, aí como enchente, depois das eleições. Essa é a ideia.

A isso se presta Guedes, braço de Bolsonaro num processo que reproduz, na Petrobras, o mesmo a que fora submetido o Ministério da Saúde no auge da pandemia. Trocas e trocas, de luna em luna, até que a superfície — ministério ou petroleira — converta-se em Bolsonaro, caio vindo, caio caindo. Trocas e trocas e trocas até que se normalize o presidente da República derrubar, num intervalo de 40 dias, o CEO de empresa listada em Bolsa. O quarto CEO da Petrobras em três anos e cinco meses, quebras que minam a resistência de qualquer governança, a companhia enfraquecida para ser politicamente manipulada até a eleição.

A pazuellização da vida pública avança. Bolsonarista desde sempre, Guedes enfim explícito como um Queiroga.

Veja-se o caso dos reajustes salariais ao funcionalismo. Bloqueio ao Orçamento para além de R$ 12 bilhões — é o que se projeta, a própria confirmação do Orçamento de Fantasia. De fantasia, mas concebido para a preservação de interesses bem reais. Se esse bloqueio tocar em algo do orçamento secreto, será surpresa — e será marginalmente, se tocar. A sociedade entre o governo militar de Bolsonaro com o consórcio Ciro Nogueira/Arthur Lira/Valdemar Costa Neto, parceria avalizada por Guedes, cortará dinheiros sobretudo da Saúde e da Educação.

Não há muita diferença entre Guedes e Lira, senão que Lira faz. Guedes gosta. Incapaz de articular uma reforma tributária de natureza estrutural, embarca na gambiarra. Em sociedade, destelharam o teto de gastos; e agora se articulam — um só botando a cara — pelo teto ao ICMS, um dos impactos a ser sentidos sobre a capacidade de investimentos, por estados e municípios, em políticas sociais. Outro dos impactos: sobre a energia elétrica. Está cara. Querem reduzir o custo para o consumidor. Né? Custo que o Parlamento aumentou, distribuindo subsídios ao setor e aprovando leis onerosas — e que o governo, para que Guedes tenha alguma privatização para apregoar, deixará aumentar ainda mais com a capitalização da Eletrobras, infiltrada de gases, dutos e outros contrabandos.

O teto ao ICMS baixará o preço do combustível na ponta? Diria que não; e certamente não de modo sustentável. Mas o que dá sustentabilidade ao preço do diesel na bomba? O que é decisivo a que o preço do litro de gasolina supere os R$ 5? Falemos sobre câmbio, já que o barril de petróleo é negociado em dólar. Falemos sobre real desvalorizado. Isso foi política de governo. Citemos Guedes, em novembro de 2021:

— Não tem problema [o dólar estar ‘lá em cima’]. Quem entrar agora [para investir no Brasil] tem uma margem adicional de ganho.

Que tal? Quem entra agora no posto tem uma margem adicional de prejuízo. Política de governo. Política setorial, né?

Volto ao reajuste aos servidores. Guedes e time se jactam de o haver congelado por três anos e meio. Verdade. Outra verdade: calcularam — por meio da PEC Emergencial, aquela cujo rigor fiscal virá em 2025 — para soltá-lo com tudo, arregaçá-lo mesmo, neste ano eleitoral, e com a característica do corporativismo. Fala-se em 5% em linha, para todos, mas será surpresa se Bolsonaro não aplicar a distinção prometida à PRF.

Paulo Guedes chega forte ao fim do governo — à campanha eleitoral — porque faz, com paixão, o mesmo que qualquer Sachsida, qualquer Mantega, faria.

O Globo

Futuro hipotecado - Editorial




Para viabilizar reajuste a servidores, governo preserva emendas parlamentares, corta recursos da Educação, da Saúde e da Ciência e Tecnologia e compromete o amanhã

A promessa de Jair Bolsonaro de conceder reajuste para servidores que integram sua base de apoiadores ajuda a entender os motivos pelos quais o País está na péssima situação em que se encontra e as razões pelas quais é tão improvável que saia dela no curto e médio prazos. Com inflação em alta, desemprego persistente e um crescimento econômico pífio, o presidente achou por bem reservar R$ 1,7 bilhão do Orçamento para elevar os salários das forças de segurança federais. Agora, para evitar uma greve geral do funcionalismo, o governo será obrigado a abrir o cofre. A estimativa, segundo mostrou o Estadão, é que a medida de aumento linear de 5% para todos os servidores exigirá o remanejamento de R$ 6,3 bilhões adicionais, o que elevará a necessidade de bloqueio do Orçamento para cerca de R$ 14 bilhões. A conta dessa benesse será dividida entre os mais pobres, que já enfrentam as agruras diárias da baixa qualidade dos serviços públicos, e o Brasil do futuro, que, se depender da atual administração, será tão ruim quanto o do presente.

Em ano eleitoral, não haverá qualquer contenção para os gastos com emendas parlamentares, sejam as de bancada, sejam as de relator, base do “orçamento secreto”, esquema revelado pelo Estadão que garante apoio do Congresso ao Executivo. O corte será focado nos R$ 8,6 bilhões em despesas discricionárias – custeio e investimento – dos Ministérios da Saúde, Educação e Ciência e Tecnologia. Se há algo que impera no governo é a brutal franqueza de Bolsonaro sobre suas prioridades e visões de mundo, que em toda a sua trajetória política ele jamais escondeu.

Em janeiro, na sanção do Orçamento, o corte de R$ 3,2 bilhões tampouco atingiu as emendas parlamentares ou a verba do fundo eleitoral. Os alvos da tesourada do início do ano foram parecidos – saúde, educação, assistência social, direitos humanos e meio ambiente – e, no detalhe, expõem a natureza do bolsonarismo. Foram bloqueados, entre outros, recursos para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), responsável pela concessão de aposentadorias e benefícios assistenciais, educação básica, hospitais universitários, combate ao desmatamento, regularização de terras indígenas, saneamento básico em comunidades quilombolas e políticas de combate à violência contra a mulher.

Mas agora o Executivo se superou e prepara um corte de R$ 2,9 bilhões nos recursos destinados à Ciência e Tecnologia. A maior parte, R$ 2,6 bilhões, afetará o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), principal instrumento público de financiamento da área no País. O bloqueio deve paralisar ao menos 30 programas científicos, alcançando desde estudos sobre covid-19 e combate a doenças negligenciadas até colaboração com missões espaciais e pesquisas na Antártida. Depois do negacionismo que marcou o combate à pandemia, não surpreende ninguém que a ciência brasileira esteja na mira do governo. 

O corte no FNDCT revela ignorância e revanchismo, mas também uma verdadeira ilegalidade, dado que o contingenciamento de verbas do fundo recentemente foi proibido por lei – algo sobre o qual o Ministério da Ciência e Tecnologia não se manifestou. “Não é possível buscar o desenvolvimento do País em um ambiente de evidente perseguição ao conhecimento”, protestou a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em nota.

Ciência, tecnologia e inovação são aspectos indissociáveis do desenvolvimento econômico e, nesse setor específico, diferentemente da infraestrutura, o investimento privado infelizmente jamais poderá substituir o suporte público. Não faltam exemplos na história de países que apostaram nessas áreas e colheram frutos na redução de desigualdades sociais. O Brasil de hoje, por outro lado, reafirma sua opção preferencial pela política paroquial em nome da eleição e incentiva a fuga de cérebros para o exterior. Pior do que os retrocessos mais visíveis dos últimos anos, e que ainda podem ser revertidos, o grande legado de Bolsonaro é deixar o Brasil do futuro acéfalo. 

O Estado de São Paulo

Sem “cavalo de pau”, Bolsonaro derrapa




Bolsonaro pode virar o jogo com pauta de costumes´

Por Andrea Jubé

”Era infinitamente maio” (com a licença poética de Guimarães Rosa), e mais uma vez, na história recente das eleições, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva despontou como líder na rodada de pesquisas sobre a sucessão presidencial realizadas a quatro meses do pleito. Um favoritismo que, nem sempre, perdurou, ou se confirmou nas urnas.

O levantamento mais recente do instituto Datafolha mostrou que o petista, com 48% das intenções de votos, abriu uma vantagem de 21 pontos sobre o presidente Jair Bolsonaro, que aparece com 27% da preferência dos entrevistados.

Lula celebrou, fustigando o principal adversário: "vocês viram a pesquisa... Ô [Geraldo] Alckmin, eu imagino que o Bolsonaro não dormiu ontem à noite”, provocou, dirigindo-se ao seu provável vice na chapa.

Mas, logo desautorizou o “salto alto”, até por ser gato escaldado. "A gente não vai poder parar, porque se a gente parar, a gente pode ter dificuldade de ganhar", alertou, voltando-se à militância.

Há 20 anos, no levantamento divulgado pelo mesmo Datafolha em 14 de maio, Lula emergia como favorito, com 43% das intenções de votos, enquanto o ex-ministro da Saúde José Serra (PSDB) despontava com 17%. Na véspera do pleito, Lula chegou a 48% dos votos válidos, e Serra bateu em 21%. O embate acabou definido no segundo turno, com a vitória do petista.

Oito anos antes, o desfecho foi amargo para o PT. Em maio de 1994, Lula também liderava a corrida sucessória. Pesquisa do mesmo Datafolha divulgada em 27 de maio mostrava Lula com 40% das intenções de voto, e o então senador Fernando Henrique Cardoso (PSDB) com 17% - vantagem de 23 pontos percentuais. Cenário semelhante ao atual.

Em 1994, Lula beneficiava-se do recall do pleito de 1989, dos frutos das Caravanas da Cidadania com as quais percorreu o país, e do cenário de hiperinflação, que somente o Plano Real seria capaz de reverter. A nova moeda começou a circular em 1º de julho daquele ano. O petista começou a perder fôlego no final de junho, até que em agosto, com a propaganda eleitoral na televisão, ele estabilizou em 23%. FHC elegeu-se no primeiro turno, com 54,2% dos votos válidos.

Esse breve retrospecto evidencia que as pesquisas refletem a fotografia do momento. Um retrato que pode se prolongar até a eleição, como ocorreu em 2002, ou esvanecer, como em 1994.

O presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, acredita que o mais provável - dentro das condições normais de temperatura e pressão -, é que o cenário favorável a Lula se sustente até a eleição.

Entretanto, como política é ciência humana, e, portanto, imprecisa, Meirelles indica duas situações hipotéticas que, efetivamente, poderiam impulsionar uma escalada de Bolsonaro nas próximas pesquisas.

Uma delas seria um movimento heterodoxo de Bolsonaro na economia. Num cavalo de pau - na caneta, e não na motocicleta -, o presidente instituiria um tabelamento dos preços do combustível, ou dos alimentos.

Como a eventual medida seria ilegal, por violar a lei eleitoral, o Poder Judiciário seria chamado a intervir. Bolsonaro, a seu turno, renovaria a retórica de que tenta governar para o povo, mas é “sabotado” pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A segunda hipótese aventada por Meirelles em que Bolsonaro poderia virar o jogo seria uma conversão da pauta da eleição da economia para a agenda de costumes. “A economia é uma pauta tradicionalmente de vitórias do PT, mas o [Fernando] Haddad perdeu [em 2018] quando Bolsonaro impôs a pauta de costumes”, lembra o pesquisador, considerado um dos grandes especialistas em consumo e opinião pública.

Meirelles complementa que até o PT pode ajudar Bolsonaro nesse sentido. Seja quando Lula presenteia seus adversários com declarações passíveis de distorção sobre o aborto. Ou quando um segmento da militância tenta atrair Lula para a pauta identitária.

Meirelles sublinha que o “campo de jogo” que favorece Lula é a economia e a saúde. A afirmação encontra ressonância no que o marqueteiro da campanha, Sidônio Palmeira, tem pregado internamente: a disputa com Bolsonaro é pelo “centro de gravidade” de atração do eleitor, e o do PT tem que ser a economia.

Um recorte do Datafolha divulgado ontem sinaliza para que a eleição seja definida a partir da insatisfação do eleitor com a economia e com a saúde, como quer o PT: 66% dos brasileiros no geral acham que a economia do país piorou nos últimos meses, mas esse número sobe para 84% entre os eleitores de Lula.

Aliados de Bolsonaro apostam no horário eleitoral gratuito para alavancar o presidente nas pesquisas. As inserções do PL ao longo da programação no rádio e na TV vão ao ar nesta semana.

Maurício Garcia, fundador da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel) e presidente do Instituto Conectar - com atuação, principalmente, em Pernambuco e no Ceará -, confirma que a propaganda eleitoral no rádio e na TV influencia o voto do eleitor. Mas essa influência seria maior nas eleições locais.

“Em eleições municipais, tenho acompanhado esse impacto do início do horário eleitoral. Há um crescimento do candidato do governo, mas na campanha presidencial, vejo um menor poder de alcance”, diz o pesquisador, que foi da equipe do antigo Ibope por 20 anos.

Garcia, que acompanha pesquisas sobre eleições desde 1989, afirma que nunca viu um cenário de polarização com um envolvimento prévio do eleitorado tão grande como na disputa desse ano. Por isso, ele afirma que - em condições normais de temperatura e pressão - acha remota uma mudança no favoritismo de Lula. “É pouco provável que algo aconteça [até a eleição] que mude bruscamente isso”. Mas Garcia enumera fatos inesperados que mudaram o rumo das eleições, como o atentado contra Bolsonaro, a queda do avião de Eduardo Campos, e o assassinato de João Pessoa em 1930. O imponderável não aparece nas pesquisas.

Valor Econômico

As ereções presidenciais




Por Carlos Brickmann (foto)

Dizem que, certo dia, houve uma palestra para pacientes de disfunção erétil. O palestrante perguntou quantos ali tinham relações mais de uma vez por mês. Alguns se apresentaram. Uma vez por mês? Muitos levantaram o braço. Uma por semestre, ninguém. Uma por ano? Um senhor eufórico pulou da cadeira e gritou, eufórico: “Eu! Eu!” O palestrante quis saber por que tanta alegria. E o senhor explicou: “É que o dia é hoje!”

Mais uma vez, o presidente Bolsonaro fez propaganda de ser imbrochável, imorrível e incomível. Desta vez, foi sua esposa que divulgou a frase, com a qual ele concordou. Em outra ocasião, garantiu numa palestra que aquela manhã tinha sido especial para sua esposa. Por que desmenti-lo? Pode ser.

Acontece que o imorrível é falso. Todos os homens são mortais, ensinava o título de um bom livro de Simone de Beauvoir. Imortais são os deuses e os demônios. E, convenhamos, nem os mais fieis partidários de Sua Excelência irão achá-lo um deus. A propaganda deixa uma ideia ruim a seu respeito.

O incomível nem merece comentários. Mas por que tanta insistência no “imbrochável”, a ponto de fazer com que sua esposa assim o proclame?

Esta nota começa com uma piada e vai terminar com outra. Contam que um senhor de avançada idade disse ao médico que gostaria de ser como seus velhos amigos, capazes de novas peripécias a cada dia. O médico disse que era simples, bastava fazer como os amigos.

“Mas como, doutor?” “Invente”.

O uso do cachimbo...

Uma coisa impressionante no Brasil é ver como alguns políticos mentem, mesmo quando falar a verdade seria melhor para eles. O petróleo, em 8 de fevereiro, custava US$ 60 o barril (e era o maior preço em um ano). Hoje o barril está a US$ 120. E tanto a situação quanto a oposição reclamam do preço dos combustíveis. Dá para baixar? Dá: tem o nome de subsídio. É tirar dinheiro de um setor da economia para dar a outro. Costuma ter péssimos resultados. A Venezuela ordenhou a PDVSA e hoje, montada nas maiores reservas de petróleo do mundo, sua capacidade de extração é mínima. Não sobra à petroleira venezuelana nem o suficiente para se reequipar.

Aqui se brinca de trocar o comando da Petrobras. Reduzir a dependência do petróleo, isso pega mal. Dar subsídio direto aos mais pobres, para que possam comprar seu gás engarrafado? Se derem, é o mínimo possível. E toca a brigar com os lucros da Petrobras (que ainda está se recuperando dos prejuízos que sofreu nos tempos do PT) e se arriscar a tomar processos na Bolsa de Nova York.

...faz a boca torta

Os dirigentes do país deveriam dar o exemplo da economia nos gastos com combustível. O prefeito de Londres, por exemplo, não tem carro oficial, anda de Metrô. Aqui, o presidente da República lidera procissões de motos, de lanchas, os ministros adoram viajar de avião oficial. Para eles, há dinheiro.

Mentira, foi tudo mentira

Belo verso, este de Tito Madi em “Cansei de Ilusões”. Não pode ser esquecido – nem será. O presidente Bolsonaro foi visitar as enchentes de Pernambuco e disse a verdade: que os dirigentes políticos são responsáveis pela tragédia provocada pelas chuvas. Mas logo voltou ao normal: botou boa parte da culpa na população, “que poderia colaborar também, evitando construir suas residências em locais com excesso de precipitação”. Ah, esses pobres! Insistem em construir em terrenos ruins. Como preferem comer ossos em vez de uma picanha de quase R$ 2 mil o quilo? Como fazem questão de morar em lugares sem infraestrutura. Gente malvada, esses pobres: fazem isso de propósito para se fingir de vítimas e constranger as autoridades.

Dinheiro, pra que dinheiro

Chatos também são os jornalistas que, em vez de discutir hábitos sexuais do presidente, vão buscar notícias sobre seu trabalho. O repórter Carlos Madeiro, do UOL, é dos bons: o Governo Federal reservou, para os projetos e obras de contenção de encostas em área urbana, 96% a menos que os gastos de 2012. A culpa é dos governos em geral, não só do presidente de hoje: Dilma começou a limar esses recursos, Temer os manteve em baixa e Bolsonaro completou o trabalho. E todos fingem que o caso não é com eles.

Mergulhando no Tesouro

O ministro Raimundo Carreiro, do Tribunal de Contas da União, é o novo embaixador em Portugal. Aposentou-se com 15 anos de serviço no TCU e recebeu, a título de 674 dias de férias vencidas e não gozadas, R$ 926.500,00.

Mas como, em 15 anos, juntou 674 dias de férias? Não seriam 15 meses, ou 450 dias? Isso é para o comum dos mortais. Lá no Olimpo, há dois meses de férias por ano, 900 dias. E não pense que Sua Excelência trabalhava quase sem descanso: é comum que ministros tirem um ou dois dias de férias, terça e quarta (quando há sessões de julgamento), e enforquem o resto da semana, quando, digamos, o trabalho é menos intenso, não o considerando descanso remunerado.

Aí sobra esse monte de dias para receber na aposentadoria.

Brickmann.com.br

Catástrofes acontecem...’




Em vez de passear de jet ski em Santa Catarina, Bolsonaro fez sobrevoo e comício no Recife

Por Eliane Cantanhêde (foto)

Nada poderia ser mais sarcástico e irritante, neste momento de horrores, do que o sanguinário Vladimir Putin enviar mensagem para o presidente Jair Bolsonaro lamentando a tragédia em Pernambuco. Qual o sentido de quem massacra milhares de ucranianos lastimar a morte de dezenas de brasileiros?

“A Rússia compartilha o pesar daqueles que perderam seus parentes e entes queridos como resultado do desastre natural desenfreado e espera uma rápida recuperação de todas as vítimas”, diz a mensagem de Putin a Bolsonaro, depois postada no Telegram.

Putin não está nem aí para mortes no Brasil e fica claro o namoro com Bolsonaro desde a ida do presidente brasileiro a Moscou, com o filho especialista em internet e toda a cúpula militar, às vésperas da invasão da Ucrânia. Os objetivos, os interesses e as intenções nunca foram devidamente explicados.

As reações do próprio Bolsonaro a dor, morte e destruição em Pernambuco, sobretudo no Recife, não são de um presidente preocupado com seu povo e de um ser humano com empatia e coração. São de um candidato que só pensa na reeleição.

Se pudesse, Bolsonaro repetiria o que fez quando as chuvas devastaram a Bahia no início do ano: largaria tudo para lá e iria passear de jet ski nas águas paradisíacas de Santa Catarina. Mas generais e líderes do Centrão deram um toque: não pegou nada bem. Só por isso ele foi a Minas e agora a Pernambuco durante as enchentes.

Mas “todo mundo morre” e o presidente “não é coveiro”, lembram? Em vez de demonstrar compaixão, dedicou-se a fazer comício de campanha no Recife. Falou de auxílio emergencial na pandemia, de Auxílio Brasil (um Bolsa Família para chamar de seu) e das maravilhas do seu governo. De quebra, atacou governadores, pelo isolamento social contra o vírus, e particularmente o do Estado, Paulo Câmara (PSB).

Segundo Bolsonaro, Câmara não foi acertar ações comuns entre os governos federal e estadual contra a tragédia. Já o governador informa que nem sequer foi comunicado da ida do presidente ao Recife. No Datafolha, o ex-presidente Lula tem 62% e Bolsonaro, 17% no Nordeste. E o recorde de votos de Lula é sempre em Pernambuco, onde nasceu.

“Catástrofes acontecem...”, deu de ombros o presidente para quem perdeu amores, parentes e bens e suas casas. E, ao comentar a barbárie contra Genivaldo, trancado no porta-malas com gás lacrimogêneo e spray de pimenta por agentes da PRF, defendeu “justiça, mas sem exagero”. Sem exagero?! O ex-presidente Lula não precisa fazer campanha e Ciro Gomes e Simone Tebet podem deixar Bolsonaro para lá. Ele dispensa adversários, é o seu maior adversário.

O Estado de São Paulo

De pai para filho




Seria o filhotismo o nosso enorme e invisível entulho que nos impede de ter um estilo de vida mais igualitário e mais democrático? Se continuarmos sem criticar honesta e profundamente os nossos costumes mais “inocentes”, esse jogo decepcionante jamais acabará. 

Por Roberto DaMatta* (foto)

O ex-presidente Lula costumava contar uma história de como seu pai, uma vez, lhe negou um sorvete. A recusa o teria ferido profundamente. Só um pai insensível, afinal, poderia ignorar o desejo de um filho. Mas a pergunta que gostaria de propor ao leitor é a seguinte: se você um dia se tornasse prefeito, governador ou presidente, qual o tamanho do sorvete que daria para o seu rebento?

Ou será que você, respeitando as exigências de um cargo público, apenas ajudaria o seu filho no papel de pai? Se for assim, haveria nisso uma questão ainda mais complexa: e se, como pai, surgisse a oportunidade de arrumar uma “colocação”, um “bico” ou uma “boca” para o filho? Haveria como evitar que o filho fosse nomeado por meio de recursos que o pai, legitimamente eleito, controla? Ou impedir que o filho, de repente, tivesse sua punição aliviada após cometer algum malfeito?

Há em todos esses confrontos e dilemas uma reflexão que raramente é feita e que se encontra na intersecção entre o mundo da casa e o da rua.

O mundo da casa é aquele das relações entre parentes próximos. Todos nós que vivemos em família temos de cumprir com uma série de obrigações morais, as quais são pouco faladas, mas muito praticadas. O mundo da rua é aquele da sociedade, em que vicejam inúmeras regras que exigem anonimato, neutralidade e isenção.

Mesmo para aqueles mais felizes com suas famílias, o mundo da casa é uma obrigação que, às vezes, precisa ser cumprida com sacrifício ou com dor, como ocorre nas festas de aniversário e, sobretudo, nas de casamento. Nessas últimas, eu — por exemplo — dei mais do que podia. Em uma delas, um dos meus irmãos, preocupado com a abundância do uísque, chamou-me de lado e perguntou se eu tinha feito alguma falcatrua. Mas não pense que ele estava buscando algo errado. Se eu tivesse mesmo feito algo irregular, isso seria plenamente justificado, porque teria sido para uma filha querida.

Esse é o mundo da casa. Quem o inventou foram os velhos reis, que perderam a cabeça em seus reinados, mas deixaram o legado das “obrigações de família”, que batiam em seus corações.

A aristocracia é fundada justamente nesse “direito” de herdar dos pais. Um bom brasileiro não pode negar o que tem — seja um objeto ou uma capacidade, como um nome honrado — para um filho. Seria algo condenável. Esse raciocínio no Brasil vale tanto para o mundo da casa quanto para o mundo da rua. Na nossa “consciência cívica” nacional, as normas sagradas do ambiente doméstico não foram neutralizadas como deveriam. Há, pelo contrário, uma personalização de tudo, e aqueles que ocupam cargos públicos continuam seguindo as mesmas regras da casa.

Uma das maiores contradições do mundo “político nacional” é essa oposição entre os deveres da família e da casa, os quais cada pai ou mãe escolhe seguindo uma tradição, e a impessoalidade obrigatória contida nos cargos públicos. Como é possível ser presidente da República e não “arrumar” algo para seus filhos, cunhado, sobrinhos e tios? Uma vez, um prefeito de Magé, na Baixada Fluminense, nomeou sete parentes dizendo que eram pessoas de confiança. Também já tivemos um presidente ocasional que simplesmente nomeou toda a sua família. Seu nome era José Linhares, que governou durante apenas três meses, em 1945. Em sua época, criou-se até um dito popular: “Os Linhares? Ah! São milhares“.

É preciso uma revisão profunda desses costumes que são tidos como “naturais”, como inocentes e até mesmo como “bíblicos”. Não podemos seguir pensando que “farinha pouca, meu pirão primeiro” e, assim, empregar os familiares mais próximos em bons cargos.

Sociólogos clássicos, como Maria Isaura Pereira de Queiroz, chamaram esse fenômeno de “filhotismo”. Outros, como Gilberto Freyre, mencionaram o âmbito poderoso da “casa” — sobretudo da casa-grande — sobre a senzala. Eles não deixaram de tocar no ponto de que, na nossa sociedade, obrigações de carne e sangue, da amizade e do parentesco eram consideradas “sagradas” e bloqueavam ou impediam as normas impessoais do mercado e das leis.

A busca de um “pai da pátria”, um rei populista forte, é nada mais que um modo de tentar resolver essa luta entre a casa e a rua. O que é pessoal, no final, acaba prevalecendo sobre o impessoal. Enfrentar esse problema seria importante para resolver nossa desigualdade aviltante, que também tem suas origens em um familismo que desmoraliza todas as ideologias.

Até lá, seguiremos fabricando leis e ficções legais para beneficiar parentes, amigos e correligionários. Continuaremos demitindo juízes e procuradores para proteger nossos filhos. São essas coisas que nutrem as dinastias políticas, que crescem e se solidificam num entorno profundamente antidemocrático e desigual. Não foi por acaso que o escritor Luis Fernando Verissimo chamava o governo atual de “Bolsonaro&filhos”, uma brincadeira com mais essa dinastia nacional.

Honestamente, não sei qual é a melhor maneira de sanar o filhotismo. Afirmo, porém, que países nos quais o espaço público tem leis que valem para todos são nações onde reina o cidadão, não o súdito. É esse o caso dos Estados Unidos, onde o puritanismo individualista, a ausência de uma religião oficial e de um escravismo em escala nacional fizeram com que as regras da casa se conjugassem melhor com as da rua.

Enquanto no Brasil impera a ideia de que a lei deve proteger um clube de privilegiados, que frequentemente ameaçam os demais com a frase “você sabe com quem está falando”, a democracia americana foi fundada na percepção de que quanto menos governo, melhor, e que todos devem ter igualdade de condições. Foram essas qualidades que tanto impressionaram o francês Alexis de Tocqueville, ao viajar pelos Estados Unidos em meados do século XIX.

Seria então o filhotismo o nosso enorme e invisível entulho que nos impede de ter um estilo de vida mais igualitário e mais democrático? Se continuarmos sem criticar honesta e profundamente os nossos costumes mais “inocentes”, esse jogo decepcionante jamais acabará.

*Roberto DaMatta é antropólogo e professor emérito da Universidade Notre Dame, nos Estados Unidos. Seu último livro é Você Sabe com Quem Está Falando?, publicado pela Rocco.

Revista Crusoé

Engenheiro ou guerrilheiro: quase empatado no segundo turno na Colômbia.




O construtor Rodolfo Hernández (dir.), a grande surpresa do primeiro turno, tem 47% das projeções para o segundo; o senador Petro, 50%. 

Por Vilma Gryzinski

Os colombianos querem mudanças e colocaram no segundo turno da eleição presidencial, em menos de três semanas, dois candidatos diferentes.

Mas nenhum pode ser mais original do que Rodolfo Hernández, milionário empreiteiro que criou do nada uma sigla chamada, muito diretamente, de Partido da Liga de Governantes Anticorrupção.

Hernández, de 77 anos, autodenominado o velhinho do TikTok, atropelou o candidato da direita tradicional e levou surpreendentes 28% dos votos. Para o segundo turno, segundo uma pesquisa do último sábado, estava com 47,4% das preferências, contra 50% para Gustavo Petro, ex-militante do M-19, grupo de guerrilha que aderiu à política convencional.

“Engenheiro melhor do que guerrilheiro”, disse um ex-ministro da Fazenda, Juan Carlos Echeverry, resumindo o espírito dominante no espectro que vai do centro à direita, onde reina o medo do que seria um governo Petro.

Não é um medo injustificado: o senador e ex-prefeito de Bogotá promete reatar relações com a Venezuela assim que tomar posse, acredita que o aumento de impostos é o caminho para a justiça social, prega acabar com o “proibicionismo” no combate às drogas (todo mundo sabe o que isso significa), pretende mexer no sistema misto de aposentadoria e quer fazer uma reforma agrária.

Também propõe passar de “uma economia extrativista para uma produtiva” – é um enigma imaginar como faria isso, com dirigismo e outras propostas surradas da esquerda não revolucionária, louca por uma intervenção estatal em todas as esferas, o caminho seguro para não melhorar nada.

“Enquanto os políticos continuarem roubando, para que reforma tributária?”, argumenta Hernández, com a franqueza que uma fortuna de mais de cem milhões de dólares permite.

O milionário, que já deu uma entrevista à CNN em espanhol usando um brilhante pijama – “Estava no terceiro sono. Vou dormir às sete da noite” -, focou toda a sua campanha na educação. Como filho de uma família de agricultores pobres que subiu na vida por méritos próprios, ele promete reforma no sistema de ingresso nas universidades e alívio progressivo nos empréstimos para os estudantes que tenham melhores notas.

Como candidata a vice, escolheu, quando ninguém dava muita bola para sua candidatura, a professora universitária e pesquisadora Marelen Castillo. A química, bióloga e engenheira industrial se sai bem mesmo quando comparada com a vice politicamente correta de Petro, Francia Márquez, que é negra.

Hernández entrou tardiamente na política – é claro que isso evoca infinitas comparações com Donald Trump – como prefeito de Bucaramanga, onde protagonizou um vídeo viral em que enfrenta o vereador Jhon Lopez, que o acusava de corrupção. Depois de chamá-lo de mentiroso, sem vergonha e filho da ****, acertou-lhe um tabefe na orelha.

A “originalidade”, como diz, do candidato gerou outros momentos virais, como quando perguntou o que era Vichada, um dos departamentos – equivalentes aos estados brasileiros – colombianos. A um repórter que quis saber se gostava de futebol feminino, respondeu: “Vejo pouco isso”.

Por causa da virada que o levou ao segundo turno, numa prova que eleições não são decididas antes da interação dos eleitores com as urnas, Rodolfo Hernández é o candidato que mais chama atenção e pode desfrutar do efeito ascensional.

O comportamento folclórico que o ajudou no primeiro turno potencialmente pode prejudicá-lo no segundo. Uma coisa é ter um candidato “contra tudo e contra todos”; outra, escolhê-lo presidente.

As duas candidaturas simbolizam, em vários sentidos, a história recente de violência da Colômbia. Gustavo Preto foi preso duas vezes e torturado quando militava na guerrilha. Rodolfo Hernández teve a única filha, do total de quatro, sequestrada em 2004 e assassinada pelo Exército de Libertação Nacional, um dos vários grupos guerrilheiros do país – uma das versões mais aceitas. O construtor procurou durante anos descobrir o que havia acontecido com a filha, carregando “a maior dor de todos”.

Logo depois do primeiro turno, um juiz espanhol acatou uma denúncia contra Gustavo Petro por ter integrado o grupo armado “narcoparamilitar M-19” responsável pelo sequestro, em 1981, do jornalista Fernando González Pacheco, que tinha nacionalidade espanhola. Entre os anos setenta e oitenta, o grupo praticou “de maneira sistemática e indiscriminada o sequestro de pessoas, bem como a tortura e o assassinato”.

É uma ficha e tanto.

O Pacto Histórico, a frente de esquerda de Petro, propôs alianças com Hernández no início da campanha e o senador reconheceu que o empresário estava dominando a narrativa anti-sistema. “Estamos deixando que uma equipe de comunicação mais eficaz que a nossa tire nossas bandeiras”, reclamou, referindo-se ao discurso contra a corrupção do adversário que enfrentará em 13 de junho, empurrando, tipicamente, a culpa para os estrategistas de campanha.

A de Petro é dirigida por dois argentinos e pelo brasileiro-equatoriano Amauri Chamorro, que dava como certo que seu candidato levaria a eleição no primeiro turno com 50% dos votos.

Os colombianos decidiram nas urnas que haverá segundo turno e a vitória de Gustavo Petro, no momento, não parece tão absolutamente garantida. O velhinho do TikTok está disposto a brigar.

Revista Veja

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