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domingo, agosto 07, 2022

Pela democracia, de novo




Por Carlos Alberto Sardenberg (foto)

O grande capital industrial, comercial e financeiro se posiciona abertamente pela democracia, contra ameaças de golpe

Para Jô Soares

Os grandes bancos privados são extremamente cautelosos em suas relações com o governo, Legislativo e Judiciário. Têm seus motivos: o sistema financeiro é muito regulado, o que significa funcionar sob um emaranhado de leis e normas. É custoso, algo que precisa ser negociado o tempo todo. Um artigo numa lei qualquer pode significar prejuízo direto. Ou lucro, claro.

Além disso, banco é objeto do ódio universal. Uma instituição que paga 10 quando você aplica e cobra 30 quando você toma emprestado não pode pretender ser amada pelo público.

São infinitas as frases que exprimem esse sentimento. “O que é pior, roubar um banco ou fundar um?” — que aparece em diversas versões. O celebrado economista John Kenneth Galbraith também entrou no assunto: “A maneira como os bancos ganham dinheiro é tão simples que é repugnante”.

Politicamente, é um escândalo. De um lado, o pobre devedor, de outro, o banqueirão. Resultado: leis que dificultam a cobrança de dívidas e aumento sistemático de impostos sobre o pecaminoso lucro financeiro.

Populismo, claro. Quanto mais complexa a concessão do crédito, quanto mais difícil a cobrança e quanto maior o imposto, maior a taxa de juro. Lógico: a taxa de juro é a medida do risco de não receber.

Algum político topa isso? Não.

E mesmo nós, jornalistas, temos de tratar do assunto com o máximo de cuidado. Trata-se de um difícil equilíbrio, quase impossível: colocar a lógica econômica sem provocar a ira dos leitores.

Tudo considerado, é muito significativa a decisão dos três maiores bancos privados brasileiros de não conceder crédito consignado aos beneficiários do Auxílio Brasil. Até podem alegar questões técnicas — como dar empréstimo tendo como garantia uma renda provisória? —, mas a decisão tem claro conteúdo ético e político.

Político, porque desafia uma jogada, populista, do presidente Bolsonaro — oferecer dinheiro aparentemente fácil a pessoas vulneráveis, que estão precisando e não têm educação financeira.

Pequenos bancos, financeiras, correspondentes bancários já estão correndo atrás dos beneficiários do auxílio e oferecendo dinheiro na mão por juros de 80% ao ano — valor que, claro, não é mencionado. Nesse caso, o juro tem de ser muito caro mesmo, pois o banco precisa recuperar seu dinheiro rapidamente, em poucos meses, porque não sabe se o benefício será mantido. Por isso, aliás, não se fixou teto para a taxa de juros. Vamos falar francamente: um negócio sujo, sórdido.

Caindo fora, os grandes bancos dizem “não” ao presidente Bolsonaro e prestam satisfações a seus acionistas, a clientes e ao público em geral. Não podem se associar a uma operação descaradamente eleitoreira, do pior tipo. Tentar comprar o voto dos pobres, dane-se o que vai acontecer com eles mais à frente.

Outra questão agora é o comportamento das duas grandes instituições públicas: Banco do Brasil e Caixa. Serão obrigados a entrar? Provável. O que o BB dirá a seus acionistas privados?

A negativa dos grandes bancos privados não é movimento isolado. Junta-se às manifestações pela democracia preparadas pela sociedade civil, pessoas físicas e jurídicas. Mais de 750 mil indivíduos já assinaram a Carta pelo Estado de Direito que será lida no dia 11 de agosto. E a poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Fiesp, lidera um manifesto de associações empresariais, incluindo a dos bancos, e centrais sindicais, com o mesmo teor.

O grande capital industrial, comercial e financeiro se posiciona abertamente pela democracia, contra as ameaças de golpe. Bolsonaro não pode mais dizer que se trata de uma cartinha de comunistas.

Lembrei uma frase de Jô Soares: “Se o comunismo acabar, quem é que vai levar a culpa?”.

Satanás, quem sabe?

Enfim, a semana foi boa: a sociedade civil de novo mobilizada pela democracia. Ao mesmo tempo, é triste. Tantas décadas depois da queda da ditadura, ainda tem quem a queira de volta. Pior: há ameaças à democracia no mundo todo. A vigilância tem mesmo de ser permanente.

O Globo

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