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domingo, agosto 07, 2022

Dívida em troca de voto - Editorial




Endividamento das famílias e saques da poupança batem recorde, mas o governo estimula os pobres a se endividar mais

Os saques recorde das cadernetas – de R$ 12,662 bilhões em julho e de R$ 50,5 bilhões no primeiro semestre, os maiores valores para o período desde 1995, quando o Banco Central começou a divulgar esses dados – resultam de uma combinação de fatores, mas têm muito a ver particularmente com as crescentes dificuldades da população para cobrir seus gastos e cumprir no prazo seus compromissos financeiros. É certo que a alta da inflação e da taxa Selic, que corrói o rendimento real e a competitividade dessa modalidade de aplicação, desestimula a manutenção de dinheiro na poupança. Mas é certo também que muitos depositantes estão sacando parte de seu dinheiro não para comprar bens ou contratar serviços nem para investir em algo mais rentável, e sim para pagar dívidas vencidas.

O endividamento das famílias está no nível mais alto desde 2005, de acordo com relatório do Banco Central. E o número de pessoas com contas atrasadas está batendo recordes, tendo alcançado 66,8 milhões de cidadãos em junho, conforme levantamento da Serasa Experian.

É nesse cenário pouco animador da situação financeira da população que o governo do presidente Jair Bolsonaro cria facilidades para que beneficiários de programas sociais tomem empréstimos de maior valor lastreados nos benefícios. De repente, um governo que nunca pensou em programas eficientes e de longo prazo para a parcela mais carente da população mostra interesse pelos pobres.

O interesse é falso. O objetivo de Bolsonaro é apenas o de tentar conquistar votos dessa parcela da população, cuja preferência eleitoral predominante, como mostram pesquisas recentes, não é por ele, mas por seu principal adversário na disputa pela Presidência da República em outubro.

O governo estendeu para os beneficiários do Auxílio Brasil e do Benefício de Prestação Continuada (BPC) a possibilidade de tomar empréstimo consignado com base no valor dos benefícios. Também aumentou o limite de comprometimento do valor de pensões e aposentadorias para tomar o mesmo tipo de empréstimo.

Aparentemente favorável aos beneficiários, pois em tese amplia sua possibilidade de utilizar financiamentos para aumentar temporariamente sua capacidade de consumo, a medida pode tornar-se danosa para eles. A cautela com que as principais instituições financeiras analisam a oportunidade e o volume da oferta dessa nova modalidade de crédito é indicação de sua preocupação com o aumento do endividamento de uma parcela da população financeiramente mais frágil num momento de incertezas na economia.

Embora o consignado seja uma modalidade de crédito teoricamente mais barata, pois tem garantia forte, para os beneficiários do Auxílio Brasil seu custo pode ser alto, pois o governo não fixou limites para os juros da operação. No caso de aposentados e pensionistas, a possibilidade de utilização de 45% do benefício para a contratação do consignado pode ser encantadora, mas implicará o comprometimento de quase metade de sua receita apenas com essa operação. Como pagará suas outras despesas? Ao governo Bolsonaro, essa questão não parece importar. 

O Estado de São Paulo

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