Deu no Correio Braziliense
Agência Estado
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), recebeu na noite de quinta-feira, 14, quando o Amazonas vivia um dos dias mais críticos desde o surto do novo coronavírus no País, um apelo do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, pedindo a análise dos pedidos de impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Na mensagem, o criminalista reconhece que, até aqui, não havia clima político favorável para pautar o processo, como sempre defendeu Maia. No entanto, na avaliação de Kakay, que tem no currículo clientes de peso político, incluindo ex-presidentes, governadores, senadores e deputados, Bolsonaro ‘passou de todos os limites’.
FASE DE TERROR – “Entramos numa fase de terror, de desgoverno, num precipício dantesco”, diz a Maia. “O Congresso tem que funcionar imediatamente. A todo vapor. E você deve apresentar o pedido de impeachment. As trágicas circunstâncias impõem”, pede.
Kakay ainda afirma que, caso o processo não seja admitido, Maia será acusado de ‘omissão’ e ‘cumplicidade’. “O Brasil precisa de um gesto seu. E só como Presidente da Câmara você pode fazer. Ainda que não seja aprovado, ainda que não tenhamos nem tempo e nem força política, você estará do lado certo da história”, defende.
Nesta sexta-feira, 15, o presidente da Câmara afirmou que o impeachment de Bolsonaro é um tema que será debatido ‘de forma inevitável’ pelo Congresso no futuro. Em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, Maia voltou, entretanto, a repetir o discurso de que o mais urgente é discutir o combate à pandemia.
NOVO PEDIDO – Na esteira da crise em Manaus, partidos de oposição da Câmara anunciaram que vão protocolar, nos próximos dias, um pedido para cassar o mandato do presidente por ‘crimes de responsabilidade em série’ na condução da crise sanitária.
Assinado por Rede, PSB, PT, PCdoB e PDT, que reúnem 119 deputados, o documento cita o colapso da saúde na capital amazonense e diz já ter passado a hora de o Congresso reagir. Cerca de 60 pedidos de impeachment foram entregues à Câmara desde o início do mandato de Bolsonaro, em janeiro de 2019, por diversos motivos.
BRASIL À DERIVA – Procurado pela reportagem, Kakay disse que ficou chocado com as declarações feitas por Bolsonaro nesta sexta-feira em entrevista ao apresentador José Luiz Datena.
No programa da TV Band, o presidente atacou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), a quem chamou de ‘moleque’, disse que o tucano se aliou a Maia para tirá-lo do cargo e culpou o Supremo Tribunal Federal pela ausência de atuação direta do governo federal no combate à pandemia da covid-19 em Estados e municípios.
“O Brasil precisa ter uma solução, estamos à deriva. Não estou falando isso apenas por Manaus, mas pelo Brasil como um todo. O presidente da República está sem nenhum controle da política sanitária do País, ele está brincando com a vida dos brasileiros”, disse o advogado. “Não podemos no meio de tudo que está acontecendo, o Congresso estar em recesso. Precisamos de uma convocação imediata neste final de semana para discutir os rumos do País”, frisou.