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segunda-feira, outubro 25, 2010

Nas revistas: O Brasil de Serra e o Brasil de Dilma

Época

O Brasil de Serra e o Brasil de Dilma

Como seria o Brasil governado pela petista Dilma Rousseff? Como seria o país governado pelo tucano José Serra? Quais são as reais diferenças entre eles? Quem tem as melhores ideias para o país, as propostas mais viáveis para o desenvolvimento social e econômico, os encaminhamentos mais interessantes para os grandes desafios, como a educação, o pré-sal, a infraestrutura? Na atual campanha, o melhor caminho para encontrar respostas para essas perguntas simplesmente não existe. Seriam os programas de governo de cada concorrente. Apesar das promessas, eles não foram divulgados nem pelo PT nem pelo PSDB até a semana passada, a pouco mais de dez dias do segundo turno.

Os estilos pessoais de Dilma e Serra são relativamente bem conhecidos. Ambos são desenvolvimentistas, têm personalidade forte e a fama de ser centralizadores. Dilma já foi classificada como rude em algumas ocasiões. Serra já foi considerado um administrador implicante, teimoso. Subordinados dos dois dizem que eles são muito exigentes e disciplinados. Poderiam ter usado essas características pessoais para exigir de seus partidos e assessores a formalização de compromissos programáticos com o eleitor. Mas não fizeram isso. Para usar uma palavra da moda na atual campanha, tergiversaram.

Da joalheria para a cadeia

O ex-diretor da estatal paulista Dersa – Desenvolvimento Rodoviário S.A. – Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, saiu de casa no dia 12 de junho com planos de comprar uma joia para presentear a mulher pelo Dia dos Namorados. Ele negociava com o comerciante Musab Asmi Fatayer a compra de um bracelete cravejado de brilhantes por R$ 20 mil. Antes de fechar o negócio, porém, era preciso submeter a peça a uma avaliação profissional. Paulo e Musab foram até a joalheria da Gucci, no Shopping Iguatemi, um dos endereços comerciais mais luxuosos da capital paulista. Os funcionários da joalheria descobriram que a joia havia sido furtada daquela loja um mês antes. A polícia foi chamada e prendeu em flagrante Paulo e Musab.

Paulo de Souza passou duas noites na cadeia. A joia que ele negociava havia sido roubada da loja da Gucci, no Shopping IguatemiO Boletim de Ocorrência no 3.264/2010 do 15º Distrito Policial de São Paulo, obtido com exclusividade por ÉPOCA, ajuda a dar contornos mais nítidos ao personagem que se notabilizou por fabricar notícias desagradáveis para o candidato tucano José Serra. Em maio deste ano, ÉPOCA revelou que Paulo Preto aparecia no relatório da Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal (PF). Segundo a PF, em 2007 ele teria recebido da empreiteira Camargo Corrêa, responsável por obras do Rodoanel, o anel viário em torno de São Paulo construído pela Dersa, quatro pagamentos mensais de R$ 416.500. Em agosto, Paulo Preto foi acusado de desviar R$ 4 milhões de um suposto caixa dois da campanha de Serra à Presidência. Ele nega envolvimento tanto em um caso como em outro, que surgiram durante a campanha eleitoral.

Ainda há muito a esclarecer

Os negócios na área de energia envolvem projetos de grandes proporções, altos valores e repletos de detalhes técnicos difíceis de entender. A Polícia Federal e o Ministério Público investigam um caso assim. Ele trata do sumiço de e 157 milhões, que deveriam ter sido usados para construir sete usinas de biomassa no Brasil, como ÉPOCA revelou na semana passada. Em uma ação judicial, o banco alemão Kreditanstalt für Wiederaufbau (KfW), financiador do projeto, afirma que Valter Cardeal, diretor de Planejamento e Engenharia da Eletrobras e homem de confiança da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, e outros petistas se envolveram na história da fraude que resultou no prejuízo para o banco.
A ação afirma que Dilma sabia do projeto, porque participou de uma conferência em Frankfurt, onde o assunto foi tratado. Confrontada com o assunto, na semana passada Dilma disse que o tema não foi discutido na reunião. “Isso foi choro do banco, que errou ao conceder o empréstimo”, afirmou Dilma. ÉPOCA obteve um depoimento que desmente essa versão. De acordo com o executivo Ludolf Rischmüller, do KfW, ocorreu uma exposição sobre a garantia aos financiamentos na conferência, com a presença de Dilma. Rischmüller diz ainda que os projetos teriam obtido o “apoio completo” de Dilma.

Falta achar quem pagou

Foi elucidado na semana passada um dos grandes mistérios da campanha presidencial: quem encomendou a violação de dados fiscais sigilosos da filha do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, Verônica, e de outros tucanos que faziam parte de um dossiê que circulou entre integrantes da pré-campanha da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Segundo identificou a Polícia Federal, o autor da encomenda foi o jornalista Amaury Ribeiro Jr., um repórter investigativo que ganhou vários prêmios ao longo de sua carreira e hoje trabalha para a Rede Record de Televisão.

Segundo a polícia, Amaury pagou R$ 12 mil ao despachante Dirceu Rodrigues Garcia para obter as declarações de Imposto de Renda de Verônica e dos outros tucanos: o vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira e o empresário Gregório Marin Preciado, ex-sócio de Serra. Em depoimento, Garcia disse que Amaury encomendou os dados fiscais dos tucanos entre os dias 23 e 27 de setembro de 2009.

Fechou o tempo

Não era para ser assim. Uma eleição transcorrida em cenário de crescimento econômico e de instituições democráticas consolidadas deveria girar em torno de projetos – como, aliás, prometiam os dois principais candidatos no início da campanha presidencial, há sete meses. Quando passaram para o segundo turno, tanto Dilma Rousseff, do PT, quanto José Serra, do PSDB, deram a entender que agora sim, enfim, finalmente, chegara o momento em que poderiam debater propostas (como se não tivessem tido tempo até este mês). Em vez das propostas, porém, o que se viu foram bolas de papel, bobinas, balões de água, panfletos apócrifos, acusações tão mentirosas quanto anônimas e destemperos oficiais.

Na cabeça

O candidato José Serra leva mão à cabeça depois de ter sido atingido durante caminhada de campanha em um bairro do RioComo a campanha descambou para a baixaria? É provável que tudo tenha começado por volta de abril, quando as primeiras pesquisas indicavam vantagem folgada para o então pré-candidato José Serra. Lula e seus conselheiros perceberam que só uma presença maciça do presidente poderia dar chance de vitória a Dilma. Quando iniciou sua cruzada, em maio, ao ocupar um programa do PT na televisão, Lula alterou a dinâmica da disputa. “Muito da baixaria atual se deve à postura do Lula, que usou a Presidência para fazer campanha, desequilibrando a eleição e fazendo os contendores perderem os limites”, disse o cientista político José Álvaro Moisés, da Universidade de São Paulo (USP).

O desafio de cobrir a campanha eleitoral

À medida que o segundo turno da eleição presidencial se aproxima, o clima de conflito se acirra no país. O bate-boca entre os partidários de José Serra e Dilma Rousseff descamba para a agressão, o presidente da República perde a compostura – e o Brasil assiste atônito ao jogo da política como se fosse uma final de campeonato, com pega na geral no segundo tempo. Como deve, nesse cenário, atuar uma revista semanal?
Em ÉPOCA, acreditamos que devemos, antes de tudo, servir ao leitor. Numa eleição, a melhor forma de fazer isso não é entrar na histeria das campanhas nem no denuncismo barato. Para ajudar você a decidir seu voto, procuramos trazer a maior e melhor quantidade possível de informações sobre as questões nacionais e sobre os planos dos candidatos a respeito delas. Numa campanha cheia de pancadaria no horário eleitoral, reportagens são um alento, uma espécie de oásis para entender como Serra e Dilma enxergam os reais problemas do Brasil.

Veja

Intrigas de estado

É conhecido o desprezo que o PT nutre pelas instituições republicanas, mas o que se tentou no Ministério da Justiça, criado em 1822 por dom Pedro I, ultrapassa todas as fronteiras da decência. Em quase 200 anos de história, o ministério foi chefiado por homens da estatura de Rui Barbosa, Tancredo Neves e quatro futuros presidentes da República. O PT viu na tradicional instituição apenas mais um aparelho a serviço de seu projeto de poder. Como ensina Franklin Martins, ministro da Supressão da Verdade, “às favas com a ética” quando ela interfere nos interesses políticos e partidários dos atuais donos do poder.

VEJA teve acesso a conversas entre autoridades da pasta que revelam a dimensão do desprezo petista pelas instituições. Os diálogos mostram essas autoridades incomodadas com a natureza dos pedidos que vinham recebendo do Palácio do Planalto. Pelo que é falado, não se pode deduzir que o Ministério da Justiça, ao qual se subordina a Polícia Federal, cedeu integralmente às descabidas investidas palacianas.

“Não aguento mais receber pedidos da Dilma e do Gilberto Carvalho para fazer dossiês. (...) Eu quase fui preso como um dos aloprados”, disse Pedro Abramovay, secretário nacional de Justiça, em conversa com seu antecessor, Romeu Tuma Júnior. Abramovay é considerado um servidor público exemplar, um “diamante da República”, como a ele se referiu um ex-ministro.

Aos 30 anos, chegou ao Ministério da Justiça no início do governo Lula pelas mãos do ex-ministro Márcio Thomaz Bastos. A frase dele pode confirmar essa boa reputação, caso sua “canseira” tenha se limitado a receber pedidos e não a atender a eles. De toda forma, deveria ter denunciado as ordens impertinentes e nada republicanas de “produzir dossiês”.

Mesmo um alto funcionário com excelente imagem não pode ficar ao mesmo tempo com a esmola e o santo. Em algumas passagens da conversa, Abramovay se mostra assustado diante das pressões externas e diz que pensa em deixar o governo. Não deixou. Existem momentos em que é preciso escolher. Antes de chegar ao ministério, ele trabalhou no gabinete da ex-prefeita Marta Suplicy, na liderança do PT no Senado e com o senador Aloizio Mercadante.

IstoÉ

Os santinhos de uma guerra suja - Parte 1

Eu gostaria de chamar a atenção para este papel que estão distribuindo na igreja. Acusam a candidata do PT, em nome da Igreja. Não é verdade. Isso não é jeito de fazer política. A Igreja não está autorizando essas coisas. Isso não é postura de cristão.? Cara a cara com José Serra e sua equipe de campanha, frei Francisco Gonçalves de Souza passou-lhes um pito. O religioso comandava a missa em homenagem a São Francisco, no sábado 16, em Canindé, no sertão cearense. Meia hora após o início do culto, Serra tinha chegado à basílica, onde se espremiam cerca de 30 mil devotos, atraídos à cidade para uma tradicional romaria. O candidato tucano, acompanhado do senador Tasso Jereissati e de outros correligionários, estava em campanha. Em tese, aquele seria um palanque perfeito para alguém que, como Serra, tem peregrinado por templos religiosos se anunciando como um cristão fervoroso. Enquanto ele assistia à missa, barulhentos cabos eleitorais distribuíam panfletos. Os papéis acusavam Dilma Rousseff de defender ?terroristas?, o ?aborto? e a ?corrupção?. Frei Francisco resolveu reagir ao circo e, então, o que era para ser uma peça publicitária do PSDB transformou-se num enorme vexame. Sob aplausos dos fiéis, o franciscano pediu que Serra e Jereissatti não atrapalhassem a cerimônia e que se retirassem, se não estavam ali para rezar. Jereissatti, descontrolado, passou a gritar que o padre era um petista e tentou subir no altar. As cenas gravadas pelas equipes de tevê de Serra jamais seriam usadas na campanha.

Os santinhos de uma guerra suja - Parte 2

A ordem para encomendar o material à gráfica ligada aos tucanos partiu de dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo da Diocese de Guarulhos, na Grande São Paulo. Ele é antigo conhecido do PSDB, amigo declarado de seu conterrâneo Sidney Beraldo, deputado estadual pelo partido e um dos coordenadores da campanha de Serra em São Paulo. Nas conversas de sacristia, dom Luiz tem fama de ser um homem ?maquiavélico? e ?implacável?. Padres o descreveram à ISTOÉ como alguém que não aceita opiniões divergentes e já criou situações embaraçosas para constranger e afastar subordinados que questionam seu radicalismo. Para fazer os contatos com a gráfica dos Kobayashi, dom Luiz contou com a ajuda do ex-seminarista Kelmon Luís da Silva Souza. Frequentador da Catedral Metropolitana Ortodoxa, na zona sul de São Paulo, Souza também é presidente da Associação Theotokos, um grupo católico ultratradicionalista, e membro do autodenominado Partido Monarquista Brasileiro. Em 2006, um dos parceiros do ex-seminarista que atua numa organização integralista (leia quadro abaixo) doou R$ 3,5 mil para a campanha do deputado federal Índio da Costa, candidato a vice-presidente na chapa de Serra. Quando a atuação de Souza e dom Luiz tornou-se pública, os dois se enclausuraram. Nos próximos dias, no entanto, terão de prestar depoimento à Polícia Federal, investigados por crime eleitoral, calúnia e difamação.

Festival de espionagem

Há quase cinco meses, líderes do PSDB procuram responsabilizar o PT pela quebra ilegal dos sigilos fiscais de Eduardo Jorge Caldas, Luiz Carlos Mendonça de Barros, Verônica Serra e outros tucanos de vistosa plumagem ligados ao presidenciável José Serra. Desde junho, pressionam a Polícia Federal e a Corregedoria da Receita para que as investigações sejam conduzidas na direção de um crime político. Na última semana, os primeiros resultados das apurações da PF se tornaram públicos e o que se constata é que de fato houve um crime com motivação política, mas praticado no contexto de uma disputa interna do PSDB. Não há nenhum documento ou depoimento colhido durante as investigações que indique a possibilidade de ter ocorrido o uso criminoso do Estado para o favorecimento de alguma candidatura, como acusam os tucanos. As investigações não permitem afirmar que petistas tenham aliciado funcionários da Receita para a quebra dos sigilos. A principal testemunha é o jornalista Amaury Ribeiro Júnior, que confessou ser o contratante do serviço criminoso. Ele prestou três depoimentos que totalizam 13 horas de inquirição e afirmou que tanto a encomenda feita ao despachante Dirceu Rodrigues Garcia como o recebimento dos documentos sigilosos ocorreram em outubro do ano passado, quando, apesar de estar em férias, trabalhava para o jornal “O Estado de Minas”. O jornalista também explicou as razões que o levaram a bisbilhotar os sigilos fiscais dos tucanos.

O protegido Paulo Preto

Nos últimos dias, integrantes do PSDB voltaram a fazer contorcionismos verbais na tentativa de reduzir a importância do engenheiro e ex-diretor do Dersa Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, personagem revelado em agosto por ISTOÉ que tem trazido constrangimento para a campanha do candidato tucano à Presidência, José Serra. Até agora, era sabido que Paulo Preto, além de ex-diretor da estatal responsável pelas principais obras viárias de São Paulo, virou alvo de acusações de líderes do PSDB porque teria dado sumiço em R$ 4 milhões arrecadados de forma desconhecida para a campanha tucana. Sentindo-se abandonado, depois que o candidato do PSDB ao Planalto negou conhecê-lo, Paulo Preto fez ameaças públicas e passou a ser defendido por Serra. Todo esse enredo já seria suficiente para mostrar a influência do engenheiro, cuja força a campanha do PSDB insiste em tentar diminuir. Mas os bastidores da prisão de Paulo Preto, há quatro meses, por receptação de joia roubada, são ainda mais reveladores do peso do ex-diretor do Dersa nas hostes tucanas.

O Brasil acelera

Na semana passada, saíram as novas projeções para o crescimento do Brasil em 2010. De acordo com estimativas do governo, de consultorias especializadas e de organizações como o Fundo Monetário Internacional, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro pode aumentar até 8% em 2010. Se o número se confirmar – e é muito provável que se confirme –, significará o maior salto econômico em três décadas. Sob qualquer ponto de vista, trata-se de um resultado extraordinário. Entre os emergentes, é a terceira melhor marca, atrás apenas de China, imbatível nesse quesito, e Índia. Na comparação com a média de desempenho do PIB mundial (alta de 4,8% em 2010), o indicador brasileiro chega a ser quase duas vezes maior. Uma escalada dessa magnitude oferece a milhões de brasileiros um inédito campo de oportunidades. O Brasil vai gerar em 2010 algo como 2,5 milhões de empregos, quase um Uruguai inteiro. Até o fim do ano, o valor que a população vai gastar na compra de bens de consumo chegará a R$ 2,2 trilhões, uma disparada de 22% ante 2009. Não à toa, o varejo espera para dezembro o melhor Natal da história. No período, o comércio deve movimentar R$ 100 bilhões, o que vai exigir um aumento de 60% na compra de insumos e produtos importados para atender à brutal alta da demanda. Dados superlativos como esses fizeram com que o Brasil deixasse de exercer um papel coadjuvante no palco econômico global. Hoje, o País é uma potência planetária, capaz de influenciar no jogo de forças entre as nações. “O Brasil passou para a liderança do crescimento mundial”, disse à ISTOÉ o ministro da Fazenda, Guido Mantega .

Comédia Brasiliense

Desde que foi lançada candidata ao governo do Distrito Federal em setembro, depois que seu marido, Joaquim Roriz, teve a candidatura barrada pela lei dos fichas sujas, Weslian Roriz (PSC) não parou de fazer trapalhadas. Neófita na política, dona Weslian, como é conhecida em Brasília, tem mostrado total despreparo para lidar com temas ligados à gestão pública. Com seu desempenho pífio, confirma a tese de que está servindo de mulher-laranja do ex-governador Roriz. No único debate de que participou, o promovido pela Rede Globo no dia 29 de setembro, ao ser questionada sobre sua postura perante eventuais desvios éticos, cunhou uma frase que se tornou hit no YouTube. “Quero defender toda aquela corrupção”, disse Weslian. Logo depois, tentou se corrigir. Mas não conseguiu evitar o constrangimento de todos que participavam do programa.

Carta Capital

Violação da lógica

Apesar do esforço em atribuir a culpa à campanha de Dilma Rousseff, o escândalo da quebra dos sigilos fiscais de políticos do PSDB e de parentes do candidato José Serra que dominou boa parte do debate no primeiro turno teve mesmo a origem relatada por CartaCapital em junho: uma disputa fratricida no tucanato.

Obrigada a abrir os resultados do inquérito após uma reportagem da Folha de S.Paulo com conclusões distorcidas, a Polícia Federal revelou ter sido o jornalista Amaury Ribeiro Júnior, então a serviço do jornal O Estado de Minas, que encomendou a despachantes de São Paulo a quebra dos sigilos. O serviço ilegal foi pago. E há, como se verá adiante, divergências nos valores desembolsados (o pagamento­ ­teria ­variado, segundo as inúmeras versões, de 8 mil a 13 mil reais).

Serra e o vídeo da Rede Globo

Desde o final da manha desta sexta (22/10), o site do professor José Antonio Meira da Rocha (http://meiradarocha.jor.br) foi bloqueado pela empresa que o hospeda — no que pode ser um caso grave de censura na internet. Em decorrência, as imagens que sustentavam a hipótese levantada por ele desapareceram, em dezenas de blogs que reproduziam suas informações.

O material foi republicado, em seguida, no blog Marxismo On-Line, de Leonardo Arnt — de onde foi reproduzido por Outras Palavras. O Jornal Nacional de ontem fez lembrar o envolvimento da Rede Globo na disputa presidencial que elegeu Fernando Collor, em 1989. Nada menos que 7 minutos foram dedicados à tentativa de demonstrar que José Serra fora atingido, na véspera, por um rolo de fita adesiva. Convocou-se Ricardo Molina, um “especialista” cujo currículo inclui a tentativa de acusar o MST pelo massacre de Eldorado de Carajás, de “assegurar” que PC Farias se suicidou e de questionar as provas sobre a responsabilidade da família Nardoni na morte da menina Isabela. Procurava-se frear a onda de indignação (e de deboche) que correu o país, quando se soube, horas antes, que a “agressão” sofrida na véspera pelo candidato do PSDB fora provocada por uma bolinha de papel. Não, tentou afirmar o Jornal Nacional: a tomografia a que se submeteu o candidato justificava-se. Ele havia sido atingido também por um rolo de fita adesiva…

Às favas a verdade factual

Há quatro meses CartaCapital publicou a verdade factual a respeito do caso da quebra do sigilo fiscal de personalidades tucanas. Está claro que a chamada grande imprensa não quer a verdade factual, prefere a ficcional, sem contar que em hipótese alguma repercutiria informações veiculadas por esta publicação. Nem mesmo se revelássemos, e provássemos, que o papa saiu com Gisele Bündchen.

Furtei a expressão verdade factual de um ensaio de Hannah Arendt, lido nos tempos da censura brava na Veja que eu dirigia. Ela é o que não se discute. Diferencia-se, portanto, das verdades carregadas aos magotes por cada qual. Correspondem às visões que temos da vida e do mundo, às convicções e às crenças. Às vezes, às esperanças, às emoções, ao bom e ao mau humor.

Quebra do sigilo fiscal: Ribeiro Jr. agia em nome do jornal Estado de Minas

Parte da mídia precisa conferir alguma lógica a sua narrativa sobre o caso da quebra de sigilo fiscal de integrantes do PSDB e familiares do candidato José Serra. Eles se recusam a aceitar o resultado do inquérito da Polícia Federal segundo o qual o jornalista Amaury Ribeiro Jr. agia em nome do Estado de Minas – interessado em produzir uma reportagem contra José Serra, que, por seu lado, havia colocado o deputado federal Marcelo Itagiba no encalço de Aécio Neves. À época, os dois tucanos disputavam a indicação do partido à candidatura presidencial.

Na quinta-feira 21, correu a versão de que Ribeiro Jr. veio a São Paulo buscar os dados obtidos de forma criminosa durante suas férias. Portanto, não agia em nome do jornal mineiro onde trabalhava, mas por conta própria. O objetivo, claro, é insinuar que naquele momento o repórter já trabalhava para o PT. O problema é que a mídia toma como verdade ou não os trechos da confissão de Ribeiro Jr. que lhe são mais convenientes. Rejeitam, portanto, as declarações que ligam a quebra de sigilo ao Estado de Minas e tomam como fatos absolutamente inquestionáveis aquelas que se referem à chamada pré-campanha de Dilma Rousseff.
Fonte: Congressoemfoco

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