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terça-feira, fevereiro 24, 2009

Querem tudo sem dar nada

Por: Carlos Chagas

BRASÍLIA - Continuam as demissões em massa. Agora foi na Embraer, 4 mil trabalhadores postos na rua sob o eufemismo de extinção de postos de trabalho. Já foi na Vale, na CSN e numa série de empresas coincidentemente públicas, antes do governo do sociólogo, agora entregues à iniciativa privada. Quer dizer, foram adquiridas na maior parte com dinheiro público, do BNDES, lucraram horrores, capitalizaram-se ao máximo e agora recusam-se ao mínimo que deveriam, de sustentar empregos.

Quando do festival de privatizações, o poder público chegou às raias da inconsequência, como disse um ministro da época, eufórico pela utilização de patrimônio do povo brasileiro em maracutaias ostensivas. Fizeram a mesma coisa com o sistema de telecomunicações, que não demora começará a demitir também.

A gente se espanta com a desfaçatez dos neoliberais, que ainda sustentam o direito de deixar trabalhadores na rua da amargura enquanto exigem do governo bilhões de reais para ajudá-los a sair da crise, em grande parte causada pela própria incúria, a ambição e as especulações financeiras feitas à margem de suas atividades-fim.

Mais grave ainda é a pasmaceira que toma conta do palácio do Planalto e da equipe econômica, infensos a exigir o compromisso de interrupção das demissões para quantas empresas venham recebendo ajuda oficial. O presidente Lula foi aconselhado pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, a só liberar recursos para os que se comprometerem a sustar as dispensas, mas hesita. Melhor dizendo, rejeita.

Por quê? Porque desde o início de seu primeiro governo, ou até antes, ainda candidato, entregou-se de corpo e alma à política que vinha negando durante toda sua vida sindical. Tornou-se um neoliberal, privilegiando o mercado e esquecendo o papel social do Estado, exceção para iniciativas assistencialistas como a do Bolsa-Família. Imaginava-se que restabelecesse ao menos parte dos direitos trabalhistas surrupiados ao longo das décadas anteriores, em especial durante o governo Fernando Henrique. Além de dar de ombros, avançou ainda mais na supressão das prerrogativas trabalhistas.

O resultado aí está. O governo dos trabalhadores volta as costas aos próprios, até mesmo os antes privilegiados metalúrgicos, que agora se organizam para recuperar o tempo perdido. As centrais sindicais e os sindicatos mais fortes custaram e ainda custam a estimular protestos, ainda que se torne impossível investir contra a natureza das coisas.

A gente se pergunta como ficarão as coisas no futuro, já que o embate entre o neoliberalismo e os direitos sociais promete estender-se por muito tempo, acima e além do restante do mandato do Lula. Em pleno Carnaval, as dúvidas não se resumem a saber se dona Dilma Rousseff assistiu aos desfiles de blocos em Recife e na Bahia. É preciso que a candidata se defina, que além de exaltar o PAC e ficar passando pitos em ministros, comece a pronunciar-se a respeito do grande impasse: se eleita, manterá integralmente a política econômica neoliberal dos antecessores ou apresenta à nação alguma alternativa? Sua lealdade ao presidente Lula deixa poucas dúvidas.

E quanto a José Serra? Muitos o acham capaz de surpreender, menos pelo seu passado esquerdista, de ex-presidente da União Nacional dos Estudantes, orador no célebre comício do dia 13 de março de 1964 e exilado no Chile. Mais porque, mesmo ministro do Planejamento de Fernando Henrique, sempre ponderou e bateu de frente com os excessos e exageros do neoliberalismo. O diabo é que sua candidatura vem envolta no papel celofane das elites paulistas. Mudou muito, mas terá mudado tanto?

Quanto a Aécio Neves, permanece em cima do muro, no que diz respeito às demissões. Elas já se sucedem em Minas sem que o governador tome algum partido. Fala no período pós-Lula como se tudo fossem flores, infenso a criticar o governo atual para apoiar-se na popularidade indiscutível do companheiro-mor.

Existem opções? Desafortunadamente, não. Desapareceram os líderes trabalhistas, o último deles Leonel Brizola.

Uma ameaça
O governo de Brasília até que apresenta saldos positivos com o governador José Roberto Arruda. Mas tem coisas que não dá para aceitar. No início de vida da nova capital, a vida se concentrava na Avenida W-3, onde se instalaram o comércio, os serviços, os bancos e os restaurantes. Depois veio a febre dos Centros Comerciais, aquela via caiu de importância, foi até invadida pela multiplicação dos templos evangélicos, ainda que guarde parte de sua significação. Antes, era uma floresta de asfalto, aos poucos pontilhada por vegetação exemplar. Milhares de árvores cresceram nas dezenas de quilômetros do canteiro central, não apenas fornecendo a sombra imprescindível, mas embelezando a paisagem.

Pois não é que o governo de Brasília planeja decapitar toda a vegetação para instalar um trem de superfície transitando pela W-3, estendendo-se até o aeroporto? Ampliar o transporte público torna-se imprescindível, para isso já funciona com perfeição o metrô, ampliado a cada ano. Desfigurar a W-3, porém, torna-se um crime contra o meio ambiente e a memória da capital. O novo trem bem que poderia ser planejado para circular por baixo.

Vídeoteipe?
Das Alagoas chegam informações de estar em marcha forte movimento pela candidatura do senador Fernando Collor a governador, em 2010. O ex-presidente deu a volta por cima, retificou conceitos e posturas, até pessoais, ganhou cabelos brancos e é, hoje, um político bem diferente do antigo caçador de marajás. Poderá muito bem obter sucesso, calcado nas mudanças geradas pelo tempo e em sua eleição para senador, daquelas para ninguém botar defeito.

A pergunta que se faz é se, eleito governador, tentará repetir a trajetória do final dos anos oitenta, disputando de novo a presidência da República. É cedo para palpites, ficado apenas a constatação de que, em política, tudo pode acontecer.
Fonte: Tribuna da Imprensa

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