Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - No intrincado jogo de xadrez disputado pelos tucanos, Aécio Neves acaba de avançar uma casa. Sugeriu que no momento certo, daqui a um ano, o PSDB realize ampla prévia junto às suas bases para saber qual será o candidato presidencial do partido e, ao mesmo tempo, inicie entendimentos com forças afins.
O governador mineiro moveu sua rainha, mas acaba de colocar-se na linha de ação de uma das duas torres paulistas. Precisa sair logo para não sofrer xeque dos adversários. Porque uma prévia comandada pelos partidários de José Serra, que dominam a direção do PSDB, só acontecerá caso favoreça o governador de São Paulo. Valerá o que, nessa consulta? O número de tucanos somados, existentes em todo o País, ou a decisão isolada de cada unidade da federação, considerando-se escolhido aquele que dispuser de maior número de estados?
Serão os paulistas a decidir essa questão inicial, depois de fazerem suas contas. E mesmo que fiquem numericamente inferiorizados, valerá aquilo que Aécio denunciou como coisa do passado, ou seja, a decisão tomada por dois ou três figurões. Foi o que aconteceu em 2006, até fotografado num restaurante dos Jardins, será o que vai acontecer muito antes de 2010.
Tendo sugerido a prévia, o governador mineiro compromete-se antecipadamente a aceitar seus resultados, hipótese na qual José Serra, matreiramente, não embarcou ontem. Outra sugestão de Aécio, a ser devidamente surrupiada pelos tucanos de São Paulo, é a da preparação de um projeto político para o partido e para o candidato afinal indicado. Um engessamento onde prevalecerão os interesses do maior estado nacional.
Em suma, não parecia hora de o governador de Minas antecipar-se, em especial diante dos muitos peões adversários ainda dispostos no tabuleiro, como Aloísio Nunes Ferreira, prestes a ameaçar a rainha e levá-la no rumo da torre da direita. Seu nome? Fernando Henrique Cardoso.
A hora da vassalagem
Quarta-feira, antes de viajar para São Paulo e depois para El Salvador e Cuba, o presidente Lula recebeu no Palácio do Planalto a vassalagem de dois aliados, os novos prefeitos do Rio e Belo Horizonte. Eduardo Paes e Márcio Lacerda esmeraram-se em juras de fidelidade. Desagradaram alas de seus respectivos partidos, o PMDB e o PSB. Porque, mesmo integrando a aliança governista, as duas legendas gostariam de estabelecer um pouco mais de pompa e circunstância na adesão. No mínimo, os dirigentes maiores esperavam acompanhar seus prefeitos.
Enquanto até agora nenhum dos seis prefeitos de capital eleitos pelo PT entrou no gabinete presidencial, precipitaram-se Paes e Lacerda, o primeiro estimulado pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, o outro já descontentando o governador de Minas, Aécio Neves.
O presidente Lula cumprimentou protocolarmente os novos prefeitos, prometeu todo o tipo de ajuda federal, mas deve ter comentado, a bordo do Aerolula, como é enfadonha a política...
A falência da autoridade pública
Mesmo cheios de razão em suas reivindicações salariais, os policiais civis de São Paulo avançam perigosamente para contaminar seus colegas de outros estados. Até ontem as associações de policiais civis de oito estados anunciaram reuniões no final de semana, para aderirem ao movimento paulista. Vão entrar em greve, também. É provável que a iniciativa pegue feito sarampo no País inteiro.
Significa o que a paralisação das atividades daqueles que deveriam estar zelando pela segurança do cidadão comum? Nem se fala da euforia da bandidagem, certamente disposta a contribuir para o bom êxito da greve, suspendendo parte das atividades virulentas e ostensivas de seus subordinados, ao menos num primeiro momento. No que puderem os chefões do narcotráfico determinarão que seus bagrinhos evitem assaltos nas ruas e nas residências, bem como seqüestros-relâmpagos. Não querem chamar as atenções e a indignação da população.
Por quê? Porque enquanto durarem as greves estarão rindo da crise econômica, faturando com a venda de tóxicos o dobro do que faturam. Sem vigilância e fiscalização, aumentou e mais aumentará a peregrinação às bocas de fumo.
Jogar sobre quem a responsabilidade desse presumido avanço do crime organizado? Sobre os usuários de drogas, em primeiro lugar, porque sem eles e sem a facilidade de comprar papelotes inexistiria todo esse arcabouço ilegal. Sobre os governadores e as autoridades que fazem ouvidos de mercador diante das exigências de recomposição salarial dos policiais civis? Também.
Agora, não há como fugir da realidade: culpados são aqueles que abandonam as delegacias e suas funções de guardiões da lei e da segurança pública. Sem esquecer os políticos que, no Congresso, faz muito já deveriam ter regulamentado dispositivos constitucionais estabelecendo que certas profissões e atividades não possam cruzar os braços.
O Brasil é diferente
Dos Estados Unidos à China, da Coréia à Inglaterra, os bancos centrais esforçam-se por reduzir os juros, mesmo meio por cento, como forma de enfrentar a crise financeira. É o que determina a lógica, antes mesmo dos alfarrábios de economia. Menos juros, mais atividade econômica, ainda que prejudicando os bancos.
Faz muito que o vice-presidente José Alencar alerta, denuncia e protesta contra a mais alta taxa de juros do planeta estabelecida no Brasil, rebatendo a equipe econômica com o argumento de que só assim podemos captar mais capital especulativo dos países ricos. Pois agora colhem o que plantaram: os dólares fogem de nosso país como o capeta foge da cruz, seja para atender necessidades urgentes em seus países de origem, seja por desacreditar que estejamos imunes à crise. Preferem investir em títulos mais sólidos, ainda que recebendo juros menores.
Desde quarta-feira que José Alencar ocupa a presidência da República. É admirável seu sentido de lealdade para com o presidente Lula e sua política. Mas bem que poderia, uma vez apenas em dois governos, convocar o presidente do Banco Central e ordenar a redução, em vez de novos aumentos. Faria furor.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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