Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Os lógicos e os ingênuos responderão positivamente à pergunta se veio favorecer José Serra o fato de a direção nacional do PT proibir a aliança da secção mineira do partido com o PSDB. Afinal, o maior prejudicado foi o governador Aécio Neves, adversário do governador paulista na disputa pela indicação presidencial dos tucanos. Nas aparências, o governo federal colocou vasta azeitona na empada de Serra.
No entanto, é preciso prospectar mais fundo essa decisão dos companheiros, porque foi tomada pelo presidente Lula. A conseqüência imediata parece o enfraquecimento de Aécio no ninho e, mais, o seu afastamento do Palácio do Planalto, ou seja, da possibilidade dele trocar o PSDB pelo PMDB e aparecer como candidato oficial em 2010, já que o PT, coitado, continua sem nomes eleitoralmente fortes.
Assim, o show (perdão, o raciocínio) deve continuar: depois de afastados José Dirceu, Antônio Palocci, Dilma Rousseff, em período de fritura, e agora Aécio Neves, sobra quem como candidato à sucessão do Lula? Ora, ele próprio, em especial porque já se processa à sombra do governo a queima de Ciro Gomes.
PSDB e PT unidos para a Prefeitura de Belo Horizonte, em outubro, dariam consideráveis base para boa parte da esquadrilha dos tucanos bandearem-se para o PMDB e formar na candidatura Aécio Neves, apoiada pelo presidente Lula e os companheiros. Senão imbatível, ao menos uma armação favorita.
Fica claro quem não quer essa coligação: o presidente Lula e, sem a menor dúvida, o PT. Estão no poder total, para que arriscar-se a transferi-lo, quando a solução para preservá-lo está à vista de todos? Se o Lula ficar, vitória total. Coincidência ou não, José Serra percebeu a manobra e, num golpe de sorte, conseguiu o apoio de parte do PMDB, aliás, a parte mais substancial, a paulista, liderada por Orestes Quércia.
O ex-governador posicionou-se de público em favor da candidatura de Gilberto Kassab à reeleição na prefeitura paulistana e, de tabela, afirmou que seu candidato à presidência da República em 2010 é José Serra. Outra paulada na moleira de Aécio Neves, que por motivos óbvios apoiava Geraldo Alckmin para a prefeitura, adversário de Serra. Inviabiliza-se um acordo em Minas, celebram-se outro em São Paulo, completamente diversos os dois.
Existem, por certo, equações não completadas. O PMDB nacional endossará a posição de Orestes Quércia? Não foi de graça que o presidente Lula indagou em reunião do Conselho Político, quinta-feira: "O Michel, onde está o Michel?" O Michel, no caso o Temer, presidente do PMDB, havia deixado a sala minutos antes, mandando-se para a Bahia, certamente para não explicar a defecção de Quércia e, quem sabe, também para aconselhar-se com o Senhor do Bonfim.
É preciso, também, meditar se toda essa confusão tucana em torno da Prefeitura de São Paulo não se destina a cair no vazio, porque o eleitorado paulistano poderá muito bem preferir Marta Suplicy, reforçando o PT. Ou Paulo Maluf, enfraquecendo todo mundo.
De qualquer forma, acabamos de assistir a mais um lance na intrincada partida de xadrez cujo objetivo de um dos lados é terminar com o rei em pé. Ainda que à custa do sacrifício da rainha... O terceiro mandato continua em marcha.
Ninguém é de ferro
Quinta-feira, mais um feriado nacional. Alguém duvida de que a sexta-feira será enforcada, no Brasil oficial? Tribunais não funcionarão, muito menos Câmara e Senado, para não nos falar ministérios e demais repartições públicas do Executivo. Até as universidades públicas farão gazeta, com as exceções de sempre.
É claro que, com certas defecções patronais, o Brasil real estará funcionando. Os operários nas fábricas, os camponeses na terra, os caminhoneiros nas estradas e os comerciantes atrás de seus balcões.
Perde o Congresso excelente oportunidade de recuperar ao menos parte de sua imagem, caso os presidentes Garibaldi Alves e Arlindo Chinaglia houvessem marcado sessões deliberativas para a semana inteira. Mesmo no feriado, Dia do Trabalho, por que não trabalhar?
Irredutibilidade
O governo continua irredutível na disposição de não aceitar, na Câmara, a aprovação do projeto aprovado no Senado, dando aos aposentados e pensionistas que recebem mais de um salário mínimo o reajuste de 16.5%.
Aqui se faz, aqui se paga. Mesmo com o expediente de adiar a votação para os próximos anos, sem derrotar a proposta, fica clara a recusa do Executivo em fazer justiça aos velhinhos. Foi tão grande a reação parlamentar, semana passada, que a opinião pública e o eleitorado não deixarão de reagir.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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