Homenagens a torturadores da ditadura militar e referências àquele período nebuloso da história brasileira não serão tolerados por parentes e ex-presos políticos. O grupo Tortura Nunca Mais, do Rio de Janeiro e de São Paulo, promete pressionar. Uma das atitudes é provocar a mudança do nome de ruas e praças.
No Rio, a meta é mudar o nome do viaduto "31 de Março", em Botafogo, pois a data refere-se ao dia do golpe militar de 1964. "Não podemos ter na memória algo que enaltece os crimes da ditadura, temos que retirar esses nomes e construir uma nova história", diz a presidente do Tortura Nunca Mais (criado em 1985) do Rio, Cecília Coimbra. "Estamos fazendo um levantamento para deflagrar o alerta em todo o País", emenda.
Em São Paulo, uma das atitudes é provocar a mudança do nome de uma rua de São Carlos, no interior do Estado, que homenageou o ex-delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury. O assunto já está em discussão na cidade. Em Ribeirão Preto, a Câmara revogou nesta semana uma lei que autorizava a usar o nome "Dr. Salim Nicolau Mina", delegado mencionado como torturador de presos políticos da cidade pelo vereador Leopoldo Paulino (PMDB).
Segundo Cecília Coimbra, o grupo luta para colocar nomes de ex-companheiros perseguidos ou assassinados em locais públicos, mas essa é a primeira vez, a começar por São Carlos, a se movimentar para retirar nomes de opressores dos anos de chumbo. No caso de São Carlos, um boletim "Alerta Urgente" foi distribuído às autoridades da cidade e aos órgãos internacionais, como Anistia Internacional, entre outros.
Em São Carlos, por meio da assessoria de imprensa, o prefeito Newton Lima Neto (PT) alega que o assunto cabe à Câmara, mas que apóia a iniciativa do vereador Lineu Navarro (PT). O nome em homenagem ao delegado Fleury, que atuou no antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), é de 1980, por decreto do então prefeito (já falecido) Antonio Massei. Navarro quer a mudança do nome da rua para "D. Hélder Câmara", mas tem dois obstáculos.
O primeiro é uma lei local, que só permite mudanças de nomes se 75% dos moradores concordarem. "Já estamos conversando com os moradores", avisa Navarro. O segundo obstáculo de Navarro é o colega vereador Rubens Maciel (PSDB), que promete brigar para que o nome atual da rua permaneça. "Tem lei que proíbe isso", comenta o vereador tucano, acrescentando que a rua "é um beco" e apostando que os moradores dali não queiram a mudança. Maciel foi guarda civil em São Paulo e afirma que não gostava de Fleury, a quem nem conheceu.
Ele cita que o ideal seriam ruas numeradas, mas como isso não existe em São Carlos, defende a permanência do nome, e "seja de quem for". Sobre Fleury ter sido um torturador durante a ditadura, Maciel relata: "Ele cumpria ordens do Secretário de Segurança Pública da época e foi cumpridor de seu dever, e morreu no mar".
Fonte: Tribuna da Imprensa
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