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segunda-feira, dezembro 24, 2007

Guerrilheiros sabiam da riqueza de Carajás

Vasconcelo Quadros BRASÍLIA
Estimulada por líderes garimpeiros que disputam o controle do garimpo de Serra Pelada, PA, uma nova versão aponta que guerrilheiros seriam os controladores originais da área que pertence atualmente a Vale. Além de aumentar a lenda sobre a Guerrilha do Araguaia, joga luzes numa polêmica: militares e o comando da guerrilha sabiam que a região escondia jazidas de ferro, manganês, cristais, ouro e diamantes.
Relatórios e publicações militares apontam que o regime militar antevia a probabilidade de a região se transformar no que é hoje parte do território colombiano sob o controle das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Por essa razão, se não deu uma ordem expressa, o governo militar fez vistas grossas à política de extermínio do movimento.
O potencial mineral da região como novo ingrediente do conflito veio à tona num documento encaminhado no ano passado ao Ministério Público Federal em Marabá e Justiça Federal em Brasília sob o pretexto de questionar a concessão de lavra de uma área de 10 mil hectares que hoje pertence à Vale. Pode ser delírio de garimpeiro, mas o texto, assinado por quatro dirigentes da Cooperativa Mista de Serra Pelada (Comisa-Life), diz com todas as letras que entre os antigos donos estão os dois mais famosos personagens que o PC do B mandou para o Araguaia, Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, e Dinalva Conceição Teixeira, a Dina.
- Vi os papéis nas mãos do Curió - sustenta o presidente da Comisa, Ataliba da Silva Leite, principal signatário do documento.
Curió é o coronel da reserva Sebastião Rodrigues de Moura, ex-deputado, prefeito de Curionópolis (PA), personagem símbolo da repressão no Araguaia e o principal arquivo vivo de todos os mistérios que rondam a história da guerrilha e do minério.
Sigilo
Dirigente de outra entidade que disputa o controle pela cava e rival de Ataliba, o presidente do Sindicato dos Garimpeiros de Serra Pelada, Raimundo Benigno, põe um pouco mais de tempero na versão.
- A área onde está o garimpo era dos guerrilheiros. Quem conhece a história e mora na região sabe disso. Quando toco no assunto, as autoridades do Ministério de Minas e Energia dizem que são coisas da ditadura, do passado e desviam do assunto - diz Benigno.
Imaginação fértil ou realidade, o fato é que essa suspeita nunca chegou a ser investigada a fundo. O circuito da guerrilha compreendia uma extensão estimada entre 7 e 9 mil quilômetros quadrados, e englobava pedaços do Sul e Sudeste do Pará e uma parte do hoje Estado do Tocantins.
Registros queimados
Os documentos de possíveis antecessores das empresas que depois foram incorporadas pela Vale se perderam em incêndios ocorridos nos escritórios do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), de Belém e do Rio de Janeiro, nos anos seguintes ao fim do conflito.
- Há um elo perdido - admite a chefe da procuradoria do DNPM em Brasília, Ana Salett Marques Gulli, que fez um levantamento para tentar identificar os antigos controladores da área, mas só encontrou registros confiáveis a partir de 1974, quando a Empresa de Mineração Xingu Ltda, antiga detentora da concessão de lavra, já havia sido incorporada pela Amazônia Mineração S/A (AMSA) e esta pela Vale.
Na época, todas as decisões sobre política mineral eram assuntos de segurança nacional. As referências que os garimpeiros fazem entre guerrilha e minério remontam a 1969, mas não há registros. É improvável que algum ativista fosse colocar seu nome num requerimento de lavra.
Nascida em Xambioá (TO), a capital da Guerrilha do Araguaia, a procuradora diz que os ativistas não teriam tempo nem condições técnicas para se ocupar de minério.
-A verdade é que a guerrilha foi atacada antes. Mas os cristais da região já eram garimpados pelo menos 15 anos antes - afirma Sallet, neta de garimpeiro.
- A preocupação do regime militar com o minério é o que justifica a longa permanência do Curió na região - diz o vereador de Belém Paulo Fonteles (PT), ex-militante do PC do B. Pesquisador do tema, o vereador não tem dúvidas de que o controle sobre a riqueza mineral ou o medo de que a guerrilha pudesse ganhar musculatura econômica foi um dos fatores determinantes na opção militar pelo massacre.
Num documento produzido durante um período de trégua no Araguaia, entre o final de 1972 e início de 1973, o comando da guerrilha expressava preocupação com as atividades garimpeiras na área. No manifesto de 27 pontos, que leva o nome de União Pela Liberdade e Pelos Direitos do Povo (ULDP), o autor do texto (provavelmente Maurício Grabóis) coloca a exploração mineral sob o enfoque de plataforma política e popular e promete "assegurar aos garimpeiros o direito de trabalhar livremente e a regulamentação de suas atividades, impedindo que sejam explorados na venda dos bens obtidos em seu trabalho". Em outro trecho, não deixam qualquer dúvida de que sabiam da riqueza mineral que tornaria a Vale uma das maiores empresas do mundo. "As ricas jazidas de minerais da Serra Norte (Carajás), não muito distantes de Marabá, foram cedidas criminosamente a um grupo de grandes capitalistas dos Estados Unidos", diz o manifesto. O grupo capitalista é a United State Steel, que depois repassou a concessão à Vale.
Fonte: JB Online

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