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sexta-feira, dezembro 21, 2007

Dom Cappio encerra jejum contra transposição

Com a saúde abalada após 24 dias de greve de fome, frei Luiz anuncia fim de protesto durante missa campal


O fim da greve de fome do bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, foi anunciado na noite de ontem, em Sobradinho (BA), na presença de cerca de mil camponeses, pescadores, inídgenas, rebeirinhos, religiosos e populares da região. No município, o religioso cumpriu um retiro de 24 dias sem se alimentar. O encerramento do protesto foi confirmado em carta, lida durante celebração religiosa na Capela de São Francisco, realizada diariamente desde o início do jejum, em 27 de novembro.
O frei passou a noite de quarta-feira na UTI do Hospital Memorial, em Petrolina (PE), para onde foi removido após desmaiar e passar 30 minutos inconsciente. O desmaio ocorreu momentos depois de o religioso saber que o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a retomada das obras da transposição, anteontem. No hospital, dom Cappio recebeu soro e medicamentos, mas não se alimentou, apesar das recomendações do médico, frei Klaus Finkam, da confiança dele, e dos profissionais do Hospital Memorial orientando-o a suspender o protesto.
Dom Cappio fez questão de participar da missa noturna em Sobradinho, a qual chegou a presidir no começo do protesto. Uma ambulância permitiu o suporte médico para o deslocamento ao município baiano. Durante a liturgia, o frei Luiz deixou claro que o protesto contra o projeto de transposição do Rio São Francisco terá continuidade. O ato litúrgico teve a participação dos bispos de Juazeiro (BA) e Petrolina.
“No dia de ontem completei 36 anos de sacerdócio – 36 anos a serviço dos favelados de Petrópolis (RJ), dos trabalhadores da periferia de São Paulo e do povo dos sertões sem-fim do Nordeste brasileiro”, ressaltou dom Cappio na carta. “Ontem, vimos com desalento os poderosos festejarem a demonstração de subserviência do Judiciário. Ontem, quando minhas forças faltaram, recebi o socorro dos que me acompanham nesses longos e sofridos dias”.
Depois da missa, ele retornou para o Hospital Memorial, onde a recuperação será assistida. Klaus Finkam atestou que o período sem comer não causará sequelas permanentes, autorizando a transferência do religioso para um quarto comum. “Ele está estável do ponto de vista hemodinâmico e respiratório, está hidratado e com boa diurese, consiciente, orientado, lúcido e se comunica sem problemas. Seu estado geral é regular, mas ainda frágil”, informou o boletim médico.
No hospital, o frei Luiz conversou com familiares e amigos, mas não tratou de sua decisão sobre a greve de fome. “Se dependesse da nossa vontade, ele pararia. Mas isso é ele e a consciência dele que vão decidir”, afirmou o sociólogo Rubem Siqueira, da Comissão Pastoral da Terra, uma das lideranças sociais que o acompanha.
Siqueira afirmou que dom Cappio não pretende mais tentar um diálogo com o presidente Lula. “Ele disse que a preocupação deve ser mais pela saúde da democracia do Brasil do que da sua saúde”, acrescentou o sociólogo. Pela manhã, índios de tribos Truká, Tumbalalá, Tuxá e Atikum, situadas próximas às obras da transposição, fizeram uma manifestação na porta do Hospital Memorial em apoio a frei Luiz.
O articulador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Roberto Malvezzi, estima que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ficará ao lado dos movimentos sociais na cobrança pela realização dos seis pontos reivindicados por dom Cappio e aceitos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Malvezzi foi o representante do bispo na tentativa de negociação com o governo federal intermediada pela CNBB. O articulador explicou que, ao lado dos protestos contra a transposição, entidades e movimentos vão cobrar a realização das obras de revitalização e de apoio à convivência com a seca que o governo aceitou fazer. “Vamos continuar pegando no pé”, avisa.
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‘Encerro meu jejum, mas não a minha luta’
Sobradinho, 20 de dezembro de 2007
Advento do Senhor
Aos meus irmãos e irmãs do São Francisco, do Nordeste e do BrasilPaz e Bem!
“Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. Dizei às pessoas deprimidas: ‘Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus: é Ele que vem para nos salvar’. Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos”. (Isaías 35, 3-6.
No dia de ontem completei 36 anos de sacerdócio – 36 anos a serviço dos favelados de Petrópolis (RJ), dos trabalhadores da periferia de São Paulo e do povo dos sertões sem-fim do Nordeste brasileiro. Ontem, vimos com desalento os poderosos festejarem a demonstração de subserviência do Judiciário. Ontem, quando minhas forças faltaram, recebi o socorro dos que me acompanham nesses longos e sofridos dias.
Mas nossa luta continua e está firmada no fundamento que a tudo sustenta: a fé no Deus da vida e na ação organizada dos pobres. Nossa luta maior é garantir a vida do Rio São Francisco e de seu povo, garantir acesso à água e ao verdadeiro desenvolvimento para o conjunto das populações de todo o semi-árido, não só uma parte dele. Isso vale uma vida e sou feliz por me dedicar a esta causa, como parte de minha entrega ao Deus da Vida, à Água Viva que é Jesus e que se dá àqueles que vivem massacrados pelas estruturas que geram a opressão e a morte.
Uma de nossas grandes alegrias neste período foi ter visto o povo se levantando e reacendendo em seu coração a consciência da força da união, crianças e jovens cantando cantos de esperança e gritos de ordem com braços erguidos e olhos mirando o futuro que almejamos para o nosso Brasil querido. Um futuro onde todos, todos sem exceção de ninguém, tenham pão para comer, água para beber, terra para trabalhar, dignidade e cidadania.
Recebi com amor e respeito a solidariedade de cada um, próximo ou distante. Recebi com alegria a solidariedade de meus irmãos bispos, padres e pastores, que manifestaram de forma tão fraterna a sua compreensão sobre a gravidade do momento que vivemos. Através do seu posicionamento corajoso, a CNBB nos devolveu a esperança de vê-la voltar a ser o que sempre foi em seus tempos áureos: fiel a Jesus e seu Evangelho, uma instituição voltada às grandes causas do Brasil e do seu povo e com uma postura clara e determinada na defesa da dignidade da pessoa humana e de seus direitos inalienáveis, principalmente se posicionando do lado dos pobres e marginalizados desse país.
Ouvi com profundo respeito o apelo de meus familiares, amigos e das irmãs e irmãos de luta que me acompanham e que sempre me quiseram vivo e lutando pela vida. Lutando contra a destruição de nossa biodiversidade, de nossos rios, de nossa gente e contra a arrogância dos que querem transformar tudo em mercadoria e moeda de troca. Neste grande mutirão formado a partir de Sobradinho, vivemos um momento ímpar de intensa comunhão e exercício de solidariedade.
Depois desses 24 dias encerro meu jejum, mas não a minha luta, que é também de vocês, que é nossa. Precisamos ampliar o debate, espalhar a informação verdadeira, fazer crescer nossa mobilização. Até derrotarmos este projeto de morte e conquistarmos o verdadeiro desenvolvimento para o semi-árido e o São Francisco. É por vocês, que lutaram comigo e trilham o mesmo caminho que eu encerro meu jejum. Sei que conto com vocês e vocês contam comigo para continuarmos nossa batalha para que “todos tenham vida e tenham vida em abundância”.
Dom Luiz Flávio Cappio
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‘Estado não pode ceder’
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não vai ceder aos apelos do bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, para suspender as obras de transposição do Rio São Francisco. Lula afirmou que o governo “não pode ceder” à greve de fome do religioso, mesmo com riscos à sua saúde. “Se o Estado cede, o Estado acaba. E o Estado precisa funcionar”, afirmou.
Lula disse esperar que autoridades da Igreja Católica convençam o bispo a encerrar o jejum, a exemplo do que ele próprio fez na década de 80 – quando disse que realizou uma greve de fome por seis dias na carceragem de São Paulo, mas interrompeu a ação depois de ser convencido por dom Cláudio Hummes (que na época era arcebispo do estado).
“Eu aprendi com os meus companheiros da Igreja Católica que só Deus dá e tira a vida. Espero que a igreja diga para ele o que disse para mim e que ele cumpra os preceitos cristãos. A Igreja não se mete em questões técnicas. Espero que ele (Cappio) tenha juízo”, disse. Disse ainda que ontem recebeu a informação de que um cidadão da Paraíba também tinha entrado em greve de fome a favor do projeto. “Daqui a pouco, eu vou dar uma entrevista e um jornalista vai resolver fazer greve de fome para eu não dar entrevista”, afirmou.
Lula considerou as obras de transposição do Rio São Francisco o projeto “mais humanitário” do governo. O presidente não hesitou em afirmar que, entre ao bispo e a execução do projeto, vai mandar prosseguir as obras de transposição. “Entre a greve de fome e milhões de nordestinos que serão beneficiados, eu fico com os 12 milhões”.
O presidente disse que “só BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não vai ceder aos apelos do bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, para suspender as obras de transposição do Rio São Francisco. Lula afirmou que o governo “não pode ceder” à greve de fome do religioso, mesmo com riscos à sua saúde. “Se o Estado cede, o Estado acaba. E o Estado precisa funcionar”, afirmou.
Lula disse esperar que autoridades da Igreja Católica convençam o bispo a encerrar o jejum, a exemplo do que ele próprio fez na década de 80 – quando disse que realizou uma greve de fome por seis dias na carceragem de São Paulo, mas interrompeu a ação depois de ser convencido por dom Cláudio Hummes (que na época era arcebispo do estado).
“Eu aprendi com os meus companheiros da Igreja Católica que só Deus dá e tira a vida. Espero que a igreja diga para ele o que disse para mim e que ele cumpra os preceitos cristãos. A Igreja não se mete em questões técnicas. Espero que ele (Cappio) tenha juízo”, disse. Disse ainda que ontem recebeu a informação de que um cidadão da Paraíba também tinha entrado em greve de fome a favor do projeto. “Daqui a pouco, eu vou dar uma entrevista e um jornalista vai resolver fazer greve de fome para eu não dar entrevista”, afirmou.
Lula considerou as obras de transposição do Rio São Francisco o projeto “mais humanitário” do governo. O presidente não hesitou em afirmar que, entre ao bispo e a execução do projeto, vai mandar prosseguir as obras de transposição. “Entre a greve de fome e milhões de nordestinos que serão beneficiados, eu fico com os 12 milhões”.
O presidente disse que “só quem carregou lata d’água na cabeça e viu sua cabritinha morrer’ – como ele próprio em sua infância – sabe o que é o problema da seca no Nordeste. Segundo Lula, o projeto de transposição poderá ajudar a encerrar a “indústria do caminhão pipa” no Brasil.
Lula participou ontem de manhã, no Palácio do Planalto, de café da manhã de fim de ano com jornalistas. À vontade, o presidente brincou ao lembrar de sua greve de fome na década de 80. “Eu sei o que é greve de fome, dá uma fome danada”.
O presidente não escondeu o fato de estar ansioso pela chegada das festas de fim de ano ao afirmar que “só pensa no Natal e no Ano-novo” daqui para frente. Lula também reclamou do fato de o presidente da República não ter direito a férias, mas não descarta tirar uns dias de recesso em janeiro de 2008.quem carregou lata d’água na cabeça e viu sua cabritinha morrer’ – como ele próprio em sua infância – sabe o que é o problema da seca no Nordeste. Segundo Lula, o projeto de transposição poderá ajudar a encerrar a “indústria do caminhão pipa” no Brasil.
Lula participou ontem de manhã, no Palácio do Planalto, de café da manhã de fim de ano com jornalistas. À vontade, o presidente brincou ao lembrar de sua greve de fome na década de 80. “Eu sei o que é greve de fome, dá uma fome danada”.
O presidente não escondeu o fato de estar ansioso pela chegada das festas de fim de ano ao afirmar que “só pensa no Natal e no Ano-novo” daqui para frente. Lula também reclamou do fato de o presidente da República não ter direito a férias, mas não descarta tirar uns dias de recesso em janeiro de 2008.
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Consórcio vence primeiro lote
BRASÍLIA – Responsável direto por um dos entraves jurídicos da transposição este ano, o consórcio Águas do São Francisco venceu o lote 01 da obra, com uma oferta de R$238,8 mi-lhões. O resultado foi publicado ontem, no Diário Oficial da União (DOU). Formada pelas empresas Carioca, Serveng e S.A. Paulista, a instituição assinará contrato com o Ministério da Integração Nacional em janeiro e ficará responsável por um trecho do eixo norte – que levará água para os estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba.
O preço vencedor é 14% menor do que o valor de referência da concorrência. Para o ministro Geddel Vieira Lima, isso comprova que a pasta “utiliza todos os instrumentos para que a obra seja levada adiante da forma mais eficiente e econômica possível”. O próximo lote a ser divulgado é o 09, com serviços do eixo leste, que contemplará os estados de Pernambuco e Paraiba.
O consórcio Águas do São Francisco executará obras civis de instalação, montagem, testes e comissionamento dos equipamentos mecânicos e elétricos. As obras incluem a edificação de segmentos de canal com extensão 39.128m, sistema de drenagem, 12 tomadas d’água de uso difuso ao longo dos canais, muretas laterais, pistas laterais com seis metros de largura ao longo do sistema adutor, passarelas para pedestres, pontes, drenos externos de proteção do sistema adutor e cercas de proteção. Geddel Vieira Lima determinou que, a partir da próxima semana, todos os investimentos dos projetos de transposição e revitalização serão divulgados à sociedade por meio do site www.mi.gov.br.
Em julho, o vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Francisco Peçanha Martins, acolheu processo do consórcio Águas do São Francisco e interrompeu a concorrência do lote 01 da transposição. Carioca Christiani Nielsen Engenharia S/A, Serveng Civilsan S.A Empresas Associadas de Engenharia e S.A Paulista de Construções e Comércio impetraram mandado de segurança contestando a eliminação deles do certame. O consórcio argüiu mudanças dos critérios da licitação após a apresentação da proposta. Somente em outubro, com a condição do retorno do Águas do São Francisco à licitação, a Primeira Seção do STJ autorizou a retomada da concorrência.
Estimado em R$4,5 bilhões até 2010, o projeto de transposição do Rio São Francisco é a maior obra anunciada pelo governo Lula. A obra completa, dividida em 14 lotes, prevê a construção de 700km de canais de concreto em dois grandes eixos – norte e leste. Eles levarão uma parcela das águas do rio a quatro estados: Paraíba, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. Somente neste ano, serão investidos R$483 milhões, além de R$247 milhões que serão utilizados em projetos de revitalização, como tratamento de esgoto de municípios próximos ao rio, replantio de matas e recuperação de nascentes, em Minas Gerais.
Fonte: Correio da Bahia

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