Ex-presidente classifica hipótese de "absurda" e afirma que permanência no poder seria um ato "antidemocrático"
TEL AVIV - O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) classificou de "grande insensatez" a idéia de um terceiro mandato para o seu sucessor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na opinião do tucano, que desembarcou ontem em Israel para ministrar uma palestra sobre cenário político e econômico brasileiro na Universidade de Tel Aviv, um novo mandato seria "antidemocrático".
"Acho isso uma insensatez tão grande... O presidente Lula queria tanto a reeleição e conseguiu: foi reeleito. Imagina se ele agora vai entrar nessa de terceiro mandato? Duvido. Seria um absurdo", afirmou FHC, presidente por dois mandatos, de 1995 a 2002.
"Uma questão é a reeleição, que é uma coisa normal, existe na maioria dos países. Outra questão é a extensão do mandato. Iria no caminho de um mandato indeterminado, o que é antidemocrático."
A posição de Fernando Henrique parece coincidir com a do próprio Lula, que no último sábado rejeitou proposta de terceiro mandato sugerida por seus aliados políticos. O presidente alegou ser favorável à "alternância do poder" e afirmou que não há "pessoas insubstituíveis na política".
Apesar da objeção ao terceiro mandato, FHC ponderou que a questão não deve entrar na negociação entre o PSDB no Senado e o Palácio do Planalto para a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) até 2011. Para o ex-presidente, a bancada tucana na Casa não deveria ameaçar interromper a negociação caso os aliados de Lula insistam nessa articulação, como chegou a defender o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).
"Eu não acho que o PSDB tem que colocar isso como uma questão de "só voto se...". Afinal, há outras razões para se discutir a CPMF, não só a reeleição", explicou Fernando Henrique. De acordo com o ex-presidente, o PSDB precisa continuar negociando um eventual apoio à emenda da CPMF.
"Temos que examinar. Precisamos mesmo da CPMF? No passado, precisávamos. Não posso ser incoerente quanto a isso. Mostramos que era necessário. Mas, de lá para cá, a situação fiscal melhorou. A arrecadação aumentou muito. Então, o governo precisa dar sinais de que vai reduzir (a carga tributária)", defendeu o ex-presidente.
Em sua viagem a Israel, Fernando Henrique está acompanhado de sua mulher, a ex-primeira-dama Ruth Cardoso. Antes da palestra na Universidade de Tel Aviv, que o convidou para o evento, o tucano teve um encontro com o presidente israelense, Shimon Peres, com quem tomou café da manhã em Jerusalém.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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