Angélica Paulo e Julia Moura Agência JB
O verão se aproxima e com ele a ameaça de uma epidemia inédita. Na última semana, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, deu o alerta: além de estar perdendo a guerra contra o mosquito Aedes aegypti, o Brasil vive o risco de tipo 4 da dengue.De acordo com dados da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, foram registrados, no período de janeiro a julho de 2007, 438.949 casos de dengue clássica, 926 casos de febre hemorrágica da dengue e a ocorrência de 98 mortes. Esses dados, se comparados aos do ano de 2006, indicam um aumento de 136.488 casos de dengue no país, sendo o mês de março aquele com o maior número de notificações no período, correspondendo a 102.011 casos.
De acordo com o pesquisador titular da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Ricardo Galler, o risco de entrada do vírus tipo 4 no país é grande, principalmente através da população de Roraima.
- Esse vírus existe na Venezuela. Como a população de Roraima tem contato grande com aquela área, a entrada do vírus tipo 4 no Brasil pode se dar em decorrência deste movimento populacional - alerta.
No Brasil, a chegada desta nova modalidade de vírus representa um perigo maior justamente pela falta de contato com a população, facilitando a epidemia. O infectologista do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina e Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) da UFRJ, Edimilson Migowski, esclarece que cada tipo de vírus existente no Brasil só infecta uma vez, mas deixa baixa a imunidade do paciente para os outros tipos de vírus da dengue.
- O grande problema é que quando um novo vírus circula e acomete uma população que foi previamente exposta a um outro tipo, a tendência é ter uma doença de maior gravidade. Esse é o maior perigo do tipo 4, apanhar uma população já imunologicamente enfraquecida pela dengue ou virgem a esse tipo de doença - explica.
Apesar de todo o território nacional estar em perigo, existe atenção especial com o Rio de Janeiro, um dos principais destinos turísticos do país e com um histórico epidêmico da doença.
- As epidemias de dengue ocorrem em intervalos de mais ou menos três ou quatro anos, porque é o tempo que se tem para a população ser renovada. Existe uma grande parcela da população que nasce nos últimos dois ou três anos e que não teve contato com nenhum tipo de vírus ainda, permitindo que haja uma circulação maior da dengue - comenta Migowski.
Para tentar conter o quadro, diversos laboratórios, como a Fiocruz do Rio e de Recife e Butantan, em São Paulo, vêm investindo na pesquisa de uma vacina contra as quatro modalidades de vírus existentes. O prazo para que venham a ser testadas em seres humanos, no entanto, ainda é longo.
- Atualmente, testamos a vacina tetravalente, que funciona nos quatro tipos de vírus. A pesquisa, que se baseia no vírus da febre amarela, atualmente é testada somente em primatas e já apresenta resultados. Porém, ainda vai demorar mais algum tempo, algo em torno de três anos, para que possa vir a ser testada em seres humanos - relata Galler, responsável pela pesquisa da vacina da Fiocruz, acrescentando que, no momento, o único laboratório que já testa a vacina em seres humanos é o Sanofi Pasteur.
Se a vacina ainda vai levar algum tempo para ser desenvolvida, o que fazer para conter uma epidemia que, segundo próprio ministro da Saúde, é iminente? O Ministério da Saúde lança mão de campanhas para conscientizar a população a não cultivar, em casa, locais que sejam propícios ao desenvolvimento das larvas do mosquito Aedes aegypti. Para Migowski, porém, tais tentativas oficiais não surtem o efeito desejado.
- As campanhas não surtiram efeito. O ideal é ter um combate diário, por meses a fio. E não esse papo de Dia D de combate. É D de década e não de dia. Ou eu combato uma década inteira ou sempre teremos esse tipo de problema - reclama.
Fonte: JB Online
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