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quarta-feira, abril 04, 2007

Geddel defende diálogo, mas diz que transposição será feita por Lula

O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, confirmou ontem, durante sua primeira visita oficial a Salvador depois de assumir a pasta, estar aberto ao diálogo com os mais diversos segmentos da sociedade civil. No entanto, o peemedebista deixou claro que isto não significa que não cumprirá a determinação do presidente Lula em tocar o projeto de revitalização e transposição do Rio São Francisco. “Em determinados momentos eu vou ter oportunidade de debater posições antagônicas. Já procurei, dois dias depois de tomar posse, o bispo de Barra (dom Luís Flávio Cappio, que passou dez dias sem se alimentar em protesto contra à transposição do Rio São Francisco em 2005) dizendo que estava aberto ao diálogo, mas sem que isso signifique, insisto e repito, abrir mão da tarefa delegada do presidente Lula”, ressaltou Geddel ao esclarecer as dúvidas relativas ao projeto à imprensa local, durante coletiva na Associação Bahia de Imprensa (ABI), na Praça da Sé. O ministro, que também esteve reunido ontem na Cúria Metropolitana (Garcia), com o presidente da CNBB, dom Geraldo Majella, arcebispo primaz de Salvador, voltou a dizer que será o guardião dos interesses da Bahia. “A decisão do governo de implementar esse projeto é simplesmente pela convicção de que ele é tecnicamente viável para resolver a questão da seca no Nordeste e não prejudica nenhum dos Estados chamados de “doadores”, muito pelo contrário, alavanca investimentos na revitalização e outros investimentos produtivos, na medida que isso nos sustente a cobrar permanentemente do governo federal novas inversões de recursos públicos para nosso Estado”. Como não há nada previsto no orçamento deste ano, elaborado pelo governo estadual anterior, o ministro Geddel, disse ter a convicção de que no próximo ano, o governador Jaques Wagner irá colaborar com recursos do Estado para o projeto da Bacia do São Francisco. “O papel do governo do Estado da Bahia é colaborar, debater e, sobretudo, alocar no orçamento do próximo ano - que já será feito pelo governador Jaques Wagner -, recursos que em parceria com o governo federal possam significar avanços no projeto de revi-talização do Rio São Francisco. Afinal, não há nada previsto no orçamento deste ano para as obras do São Francisco”. (Por Raiane Verissimo).
Populações ribeirinhas vêem proposta
Geddel afirmou que o objetivo dessa viagem é ter a oportunidade de discutir, levar a visão do governo federal às populações ribeirinhas. “Faremos uma varredura nas margens do Rio São Francisco levando adução de água àquelas pequenas comunidades que estejam a 2 ou 3 km das margens do rio”. Outra grande obra prevista no programa de revitalização é o da hidrovia do São Francisco, que tem como ponto de partida passar por um processo de recuperação ambiental, como a proteção das margens, a desobstrução dos gargalos e dos pontos críticos, para que possa garantir uma navegação com segurança e permanente entre o período seco e úmido. “Para atrairmos interesses privados no transporte hidroviário, que é muito mais competitivo do que o trem e o caminhão, o governo tem que fazer essa infra-estrutura básica que é garantir um calado mínimo para ter embarcações de porte”. Segundo o ministro da Integração Nacional, o governo já gastou mais de R$ 20 milhões, em três anos, em estudos e levantamentos para hidrovias e dentre os próximos 20 dias será lançado na Barra, o Programa Bio Rio - uma espécie de um posto avançado com todos os projetos de intervenções hidroviárias. “Hoje, a navegação do Rio São Francisco é precária. Cabe ao governo fazer derrocagem, dragagem, proteção de margem. Depois de 25 anos estamos recuperando toda a eclusa de Sobradinho ( grande gargalo da navegação) e automatizando”. O diretor da Codevasf, Clementino Coelho, afirmou que o projeto contará com o apoio, além da Companhia, da Fundespa (Fundação de Assuntos Aquaviários da USP), do Exército brasileiro e do governo do Estado, através da Secretaria de Infra-Estrutura. “Nós estamos com recursos de R$ 100 milhões garantidos no PAC para fazer intervenção de 2007 a 2010 e entregar aos empresários e a sociedade um eixo multimodal. Essa hidrovia vai poder escoar toda produção do Oeste da Bahia”. Depois do encontro na ABI, o ministro e sua comitiva técnica seguiram para a Assembléia Legislativa, onde Geddel passou por uma sabatina de perguntas feitas pelos deputados baianos, principalmente, da oposição, de como será conduzido o projeto de revitalização e transposição do Velho Chico. “Não somos contrários à transposição do Rio São Francisco e sim com a forma como eles estão usando: sem fazer audiências públicas, sem respeitar as opiniões das entidades públicas como ANA (Agência Nacional de Águas)”, ponderou o líder dos Democratas (ex-PFL), deputado estadual Heraldo Rocha. Ao todo, 44 deputados registraram presença em plenário, cuja audiência foi aberta pelo presidente da Casa, o tucano Marcelo Nilo, e em seguida presidida pelo deputado peemedebista Arthur Maia. (Por Raiane Verissimo).
Revitalização é ponto fundamental
O programa de revitaliza-ção do Rio São Francisco, segundo o diretor da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) Cle-mentino Coelho, é o mais importante e de maior impacto no conjunto de obras do São Francisco e está assentado em dois pilares. Um deles é o programa da sinergia das bacias hidrográficas, ou seja, interligação das bacias, chamado antigamente de transposição, onde o Velho Chico vai proporcionar uma sinergia hidrográfica das bacias do Nordeste Setentrional, que contempla Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Outro eixo, explica o diretor, é o programa de revitalização, que durante muito tempo só se falou, mas nunca houve nenhum conjunto de intervenções que pudesse assegurar um ponto de inflexão da degradação do rio, em termos das condições naturais e ambientais. Em mais de 2.800 quilômetros de extensão, o Rio São Francisco sofre com assoreamento, poluição, matas devastadas em seu entorno. Conforme o diretor da Codevasf, até o ano passado, o presidente Lula já investiu cerca de R$ 192 milhões em ações e intervenção que têm o viés de recuperação ambiental, como a recomposição de matas ciliares, erosão e saneamento. “Não adianta falar de recuperação enquanto estão jogando esgoto no Rio São Francisco. Desses R$ 192 milhões, a Bahia teve um investimento de aproximadamente R$ 59 milhões, cerca de 30 %, de 2004 a 2006”. Até 2010, o governo federal deverá investir em todo a bacia do São Francisco, R$ 11,5 bilhões em construção de barragens, adutoras e açudes. “Já está assegurado no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) R$ 1,3 bilhão para obras em saneamento, aterro sanitário, resíduo sólido, proteção de encostas, adutoras e cerca de R$ 4,5 bilhões para a interligação das bacias”. O ministro Geddel anunciou, ontem, que o Ministério da Integração Nacional lançará o programa “Água pra Todos”, que se pretende fazer uma varredura nas duas margens do Rio São Francisco. “Dessa forma, toda a comunidade agrícola poderá ter uma adutora com água de qualidade e vamos estancar o argumento de que estaríamos retirando água para longa distância, enquanto o ribeirinho não tem água de qualidade”. Conforme o peemede-bista, ele já comunicou ao presidente Lula sobre o novo programa que terá um investimento previsto em torno de R$ 140 milhões e deverá atender 350 mil pessoas em 1.800 comunidades ribeirinhas. “Vai ser um programa de grande impacto do ponto de vista social, atendendo um grande número de comunidades, dando prioridade à Bahia, até porque o Rio São Francisco corre quase que 50 % dentro do Estado”, explicou Geddel, que anunciou que irá percorrer, ainda sem data prevista, mas segundo interlo-cutores poderia acontecer ainda este mês, todo o percurso da Bacia do São Francisco, desde sua nascente na Serra da Canastra. (Por Raiane Verissimo).
Entidades contestam governo
Entidades cobram uma posição urgente do governo federal em relação à transposição do Rio São Francisco por entenderem que a realização da obra fere os direitos humanos e reafirmam que o projeto vai de encontro ao Plano de Bacias (acordado pelos comitês de defesa ambiental), instrumento legal previsto pela lei, em que determina que a água só pode ser desviada em caso de escassez, para uso do homem e de animais, “diferente desta obra que só vai beneficiar multinacionais e grandes empresários”. Outra preocupação destas entidades está relacionada com a extração de urânio pelas Indústrias Nucleares Brasileiras (INB) no sudoeste do Estado, em Caetité e Lagoa Real, onde está situada uma das mais importantes províncias uraníferas brasileiras. A população destes municípios, situados no sertão, sofre com os nocivos impactos socio-ambientais causados pela indústria, pois já foi detectado um número elevado de casos de pessoas com câncer. O tema foi discutido ontem, na sede da OAB, durante o lançamento do relatório da Rede Social de Justiça (RSJ) e de Direitos Humanos, contendo relatórios de 27 entidades de todo o País que lutam pela preservação do meio ambiente, dentre estas a Associação Movimento Paulo Jackson_ Ética, Justiça e Cidadania. Participaram do evento, que também foi promovido pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea), o diretor da RSJ, Aton Fon Filho, o engenheiro agrônomo e florestal do Núcleo de Economia Alternativa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Sebastião Pinheiro e da coordenadora do Projeto de Defesa do Rio São Francisco do Ministério Público do Estado da Bahia, Luciana Khoury e o deputado Yulo Oiticica (PT). A promotora pública lamenta que os exames determinados pelo Ibama nas localidades afetadas pelo urânio não tenham sido feitos detalhadamente, pois em tais circunstâncias, com a instalação de uma usina nuclear, devem ser analisados se há ou não a ocorrência de endemias, se a instalação está ou não sendo nociva para o ser humano e o meio ambiente. “É difícil até se fazer uma visita lá na empresa e o número de pessoas com câncer tem aumentado comparado a outras cidades vizinhas”, assinalou Khoury. O engenheiro agrônomo e florestal gaúcho, Sebastião Pinheiro, disse que “não precisa ter uma transposição, mas uma reposição de água”. Ele explicou que a conservação das florestas e da mata são fatores importantes para a conservação da água, pois além de contribuírem com as chuvas ainda reservam as águas. Pinheiro deu um exemplo bem simples. “Se jogar um copo de água em uma pessoa careca, a água cai toda. Diferente de uma pessoa cabeluda em que a água se conserva. Assim é a mata”, afirmou. Ele lamenta como tem sido devastada a vegetação brasileira e citou exemplos de grandes ciclos vividos pelo Nordeste brasileiro e que também contribuíram com a preservação do ambiente. No caso de plantas da caatinga, como a baraúna, que era exportada para a Inglaterra para a fabricação de móveis. Citou também o algodão de fibra doce plantado no Nordeste que não se planta mais. “Esta pergunta a gente faz até hoje: por que se deixou de plantar o ouro branco da Paraíba?” Pinheiro é da mesma opinião da promotora pública, Luciana Khoury, em relação à transposição do Rio São Francisco. “Não é para pobre, não é para sertanejo, mas quem vai receber esta água vão ser as indústrias estrangeiras”. Durante a sua explanação o engenheiro mostrou slides com várias imagens, em uma delas há uma negra escrava dando leite a um menino branco, antiga ama de leite. Com isto Pinheiro mostrou que a criança rica estava se apropriando de um leite que não era seu, talvez até deixando o filho da escrava sem a alimentação. “Estou mostrando esta imagem para que vocês entendam melhor o que é a transposição. Comparo com este leite materno”. Para o agrônomo a transposição não passa de um acordo do governo brasileiro com o americano. (Por Noemi Flores).
Fonte: Tribuna da Bahia

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