Quatro jovens de classe média tramavam matar rapaz que teria ‘ficado’ com a ex-namorada de um deles
BRASÍLIA - O divertimento macabro de quatro jovens universitários brasilienses, pegos combinando pela internet a morte de um adolescente de 17 anos, trocando fotos nas quais apareciam empunhando revólveres e cheirando cocaína, conseguiu chocar até mesmo os policiais civis que descobriram o caso.
Depois de uma denúncia anônima e de uma investigação de dez dias, a Polícia Civil indiciou ontem os quatro por formação de quadrilha e ameaça. E, se não podem ter certeza de que os quatro iam mesmo cumprir as ameaças, apenas as fotos – trocadas pelo MSN, um sistema de mensagens instantâneas pela internet – serviram para a polícia desencadear a ação.
A história toda começou quando um dos quatro jovens saiu com a ex-namorada do adolescente que foi ameaçado. Segundo o rapaz, logo depois que terminou o namoro, um dos garotos ficou com sua ex-namorada, o que provocou atritos entre eles. O adolescente chegou a marcar um encontro na cidade-satélite em que mora com o rival, que chegou com os outros três amigos e armado. Em uma entrevista ao jornal Correio Braziliense, o rapaz ameaçado disse que ficou assustado ao ver a arma e achou melhor conversar. E achou que, a partir daí, não teria mais problemas. Ele foi avisado pela polícia sobre as ameaças virtuais.
No entanto, os outros quatro – três maiores de idade que moram juntos e um adolescente – começaram a usar a internet para supostamente tramar a morte dele. A partir da denúncia, a Polícia Civil passou a monitorar a troca de mensagens entre os jovens. “A gente já esquematizou. Vamos mandar a galerinha aqui matar ele e jogar no Santo Antônio (uma represa no entorno do Distrito Federal). Para fazer o mal, tem que ter a manha, velho. Cabeça fria”, diz uma das mensagens trocadas pela internet e capturadas pela polícia.
O que assustou, no entanto, não foram as mensagens, mas as fotos trocadas também pela internet. Quando viu as imagens – um dos jovens apontando um revólver para a própria cabeça e outra dos quatro cheirando cocaína – a polícia decidiu intervir. “Um rapaz de 18 anos pode ser maior de idade no código penal, mas ainda é um inconseqüente. Eles podiam, sim, estar apenas contando vantagem, mas eu já vi assassinatos ocorrerem com menos que isso”, conta a delegada da 1ª Delegacia de Polícia do DF, Suzana Machado. “Quando vimos que eles tinham acesso fácil a armas, decidimos agir”.
Apreensão - Com um mandado de busca e apreensão, a polícia recolheu computadores, celulares e comprimidos de ecstasy na casa onde moravam três dos quatro jovens. Em um dos computadores, numa pasta chamada de “proibida”, a polícia encontrou mais fotos, dezenas delas com os jovens cheirando cocaína, empunhando armas e rindo. “O que mais me chocou foi a banalização do uso da droga e da arma, o ar de deboche, como uma brincadeira”, disse a delegada.
Levados para prestar depoimento, os quatro jovens disseram que as ameaças não eram reais, que estariam apenas “contando vantagem”. Também disseram que não tinham armas em casa e a que usavam era emprestada de Franklin José de Souza, 36 anos, vigilante de um cemitério de Brasília e, supostamente, amigo dos quatro. Souza não tinha porte de arma e é o único que está preso. O rapaz menor de idade, cursa o ensino médio e será investigado pela Delegacia da Criança e do Adolescente. Os três maiores, que são universitários, já foram indiciados e responderão pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção de menores e porte de armas. A pena pode chegar a dez anos de prisão. O grupo ainda estaria tramando pela internet um segundo crime cujos detalhes não foram revelados pela polícia. A repercussão do caso incomodou os pais dos jovens, que também moram em Brasília. Eles afirmaram à polícia não ter idéia do que os garotos andavam fazendo pela internet. A delegada disse que os pais dos jovens também prestaram depoimentos. Ela contou que, pela reação deles, não tinham a menor idéia da intenção dos filhos. “ Os pais ficaram chocados e você percebia que eles jamais imaginariam que os filhos fossem capazes de uma atitude como essa”, afirmou a delegada. (AE e AG)
Fonte: Correio da Bahia
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