Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Adiantará o quê, a vitória de Chinaglia, Aldo ou Fruet, hoje, em termos de recuperação da imagem e de afirmação da Câmara dos Deputados como expressão maior do Poder Legislativo?
Para os otimistas, tudo, porque, afinal, os três não possuem os vícios explícitos que marcaram, por exemplo, Severino Cavalcanti. Nem os vícios ocultos do antecessor, João Paulo Cunha.
Não há notícia de que Chinaglia se tenha envolvido num único desvio do mensalão, muito menos no escândalo dos sanguessugas ou no dossiê armado contra José Serra. Se existe no PT um parlamentar íntegro, é o candidato favorito nas eleições desta tarde. Ele rejeitou até insinuações de que patrocinaria projeto de anistia, destinado a restabelecer os direitos políticos de José Dirceu.
Aldo Rebelo tem a seu favor um passado de parlamentar sóbrio, fiel às suas origens marxistas, apesar de ter sido surpreendido diversas vezes apelando para Deus. Nascido e criado como lavrador, em Alagoas, mandou-se para São Paulo e lá conseguiu, além do diploma universitário, sobressair-se na política estudantil e passar dela para a política partidária. Jamais teve outro partido senão o PC do B, foi perseguido pela ditadura e cultivou a ética e a paciência quando ministro da Coordenação Política, primeiro, e presidente da Câmara, depois.
Quanto a Gustavo Fruet, trata-se de uma das melhores expressões da sadia renovação política dos últimos anos. Reeleito pelo PSDB do Paraná sem lançar mão de expedientes, doações e ligações com cabos eleitorais, é daqueles chamados deputados de opinião, que chegam à Câmara sem dever nada a ninguém, exceção do seu eleitorado consciente.
O reverso da medalha
Sob esse aspecto, assim, qualquer dos três que se eleja hoje dispõe de todos os requisitos para levar a Câmara a patamar superior àquele ocupado na Legislatura ontem encerrada, uma das mais lamentáveis da história do Legislativo.
Agora o reverso da medalha. Chinaglia exprime a sede de poder do PT, partido mais do que os outros empenhado em ocupar espaços políticos sem dispor de um projeto nacional ou um plano de governo. Foi o que se viu no primeiro mandato do presidente Lula, constituindo uma injustiça supor que tudo se deveu a desvios de conduta de Dirceu e Delúbios. Se não tivessem respaldo do PT, não teriam chegado aonde chegaram: nas profundezas da corrupção - seja por que motivo for, nenhum maior do que assenhorear-se do poder.
Conseguirá o deputado por São Paulo livrar-se da carga que, de uma forma ou de outra, levará para a presidência da Câmara, mesmo contra as diretrizes iniciais de Lula? Será um líder do governo na presidência da casa ou um aríete interessado em arrombar as novas portas do Planalto, agora erigidas com argamassa de outros partidos? Tudo para o PT, até manter Lula sob tutela?
Aldo Rebelo, quando ministro da Coordenação Política, engoliu sapos do tamanho de elefantes, não sapos barbudos, mas sapos ficando carecas, como José Dirceu. Foi massacrado pelo então chefe da Casa Civil. Recuperou-se, depois da defenestração de Dirceu, recebeu do presidente Lula a compensação, ao se apresentar como candidato do governo à sucessão de Severino Cavalcanti, mas, em termos práticos, seu maior mérito foi ter retirado os holofotes da presidência da Câmara.
Melhor não fazer nada do que fazer bobagens, deve ter sido o seu lema. Escorregou quando encampou a esdrúxula tese do reajuste de 91% para parlamentares, tendo recuado a tempo, mas saiu respingado.
Já Gustavo Fruet aparece como uma revelação ainda não completada, índio no meio dos caciques do PSDB. Ou andorinha esvoaçando sobre o ninho dos grão-tucanos. Terá condições de superar a condescendência de FHC, Serra, Tasso, que se consideram donos do partido e mestres cujas lições devem ser executadas sem ponderações? Pertence ao grupo renovador do PSDB, mas disporá de sangue frio e experiência para rejeitar tutelas? E, sendo do Paraná, como enfrentará os paulistas?
Se for para exaltar qualidades dos candidatos, há material suficiente. Mas se for para cultivar dúvidas, encontraremos prateleiras cheias. As eleições de hoje estão em escala ética bem superior às de dois anos atrás. Não há fisiologismo nem gaiatice. Mas, sim, pontos de interrogação.
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