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segunda-feira, dezembro 11, 2006

Pinochet já vai tarde. Posso viver sem um ditador para chamar de "meu". E a esquerda? Pode?

Por: Reinaldo Azevedo

Eu já disse ontem — ainda se pode ler abaixo — o que penso da morte de Pinochet. Mais ainda: como não estou amarrado a nenhum partido ou ente de razão, fico feliz de poder cuspir na memória do general. Ele era anticomunista. Eu também sou. Ele mandava matar pessoas que já não podiam reagir e que estavam sob a guarda do Estado. Eu acho isso uma barbaridade e, pois, o desprezo. Como a outros ditadores. Leitores antiesquerdistas indagam se o comunismo não teria matado mais do que ele — fala-se em três mil pessoas — se tivesse chegado ao poder no Chile, conforme estava nos planos dos aloprados. É claro que teria. O comunismo tem larga experiência no morticínio em massa. No Chile não teria sido diferente. Mas isso não justifica o que se fez lá.

Se considero que é moralmente aceitável que se mate a torto e a direito “os inimigos” porque comungam de uma doutrina que considero homicida, acabo por legitimar que eles façam o mesmo contra mim e os meus aliados. Afinal, os comunistas acreditavam — e os que existem acreditam ainda — que o capitalismo é que é homicida... Síntese: Pinochet conferia verossimilhança à fantasia esquerdista de que a sua luta era contra o mal, e não para impor o mal. Arremato: gente como o general é só o outro lado da tara assassina da esquerda. Ditador é lixo, não importa o pretexto. Não importa a ideologia.

Agora vamos às fantasias. A esquerda, claro, está em festa, inclusive nos jornais brasileiros. Não há uma só análise decente sobre o governo de Salvador Allende, que chegou ao poder pela via legal, institucional, e lançou o país na desordem. Claro! Era uma contradição em termos. Não se constrói socialismo nas urnas. Na Folha de hoje, o historiador Luiz Felipe de Alencastro concede uma entrevista a Rafael Cariello (clique aqui). Fala do trauma que a queda de Allende representou também para a esquerda européia — parte dela buscou aliança com os conservadores, outra optou pelo terrorismo —, mas não diz palavra sobre os erros do líder socialista. Mais. Fantasia que ele era um esquerdista à moda Mitterrand. Alencastro finge ignorar que a extrema esquerda armada estava dentro do governo e que foi ela que o conduziu ao caos.

Os artigos vão se espalhando. Clovis Rossi considera “uma agradável” coincidência que Pinochet tenha morrido quando se fecha “um dos mais suculentos ciclos eleitorais do subcontinente”. Não sei o que ele chama de “suculento”: vai ver é a reeleição de Lula no Brasil, a de Chávez na Venezuela, a eleição de Evo Morales na Bolívia e de um filhote do chavismo no Equador. Depois desanda a descer o pau no Chile porque um dos primeiros a aderir ao Consenso de Washington, com aumento da desigualdade. Huuummm... Eu adoro esse papo de desigualdade. Porque faz supor que Cuba, por exemplo, é um país melhor para os cubanos do que o Chile “neoliberal” para os chilenos. É verdade! Segundo a ONU, o Chile é hoje mais desigual do que a Guatemala...

Em suma, a esquerda, sob o pretexto de ser anti-Pinochet (ah, queridos, também sou!) ignora as óbvias ameaças que pesam contra a democracia na América Latina — e a corrupção, como é o caso do Brasil, é uma forma de fraudar o regime democrático —, para ver na emergência de formas variadas de populismo, ou coisa pior do que isso, o que seria um grande momento, em contraste com aqueles tempos sombrios.

Sem essa. Pinochet desce tarde aos infernos, como já disse. Se Deus tiver pena de sua alma, que o livre da danação eterna, depois de algumas exigências que não me atrevo a sugerir ao Divino. Mas não me venham santificar agora as maluquices de Allende ou enxergar em delinqüentes políticos contemporâneos os símbolos de um novo tempo. Ah, eu sou de direita? Talvez. Mas consigo viver sem um ditador para chamar de meu. A esquerda não pode dizer o mesmo.
Fonte: Veja on-line

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