Por:Antônio Mayer dos Santos
A CPMI dos Correios está encerrada. Seus desdobramentos agora estão condicionados ao ritmo do processo no Supremo Tribunal Federal. “A política tem sua fonte antes na perversidade do que na grandeza do espírito humano”, já dizia Voltaire no início do século XVIII. Para adequar a assertiva do iluminista francês ao ambiente tupiniquim, basta provocar a memória e retomar o nem tão remoto episódio do “painel do Senado”. Quem se lembra dele? Naquela época, após a revelação do escândalo, um Senador foi cassado e outros três renunciaram aos seus mandatos. E o fizeram por um único motivo: evitar o exílio político que a pena de inelegibilidade de oito anos acrescida ao período remanescente de mandato impõe aos parlamentares cassados na sua Casa.Vaias? Ovos? Manchetes com estardalhaço? Bobagem. As renúncias foram relegadas à vala do esquecimento. Na verdade, corresponderam a um bem urdido plano de risco calculado pelos seus protagonistas pois logo adiante houve a eleição e os três foram reconduzidos ao Congresso Nacional através de votações extraordinárias, especialmente aqueles que concorreram à Câmara dos Deputados. Neste momento,aquele que foi eleito pelo Distrito Federal lidera todas as pesquisas de intenção de voto para Governador.Por outras palavras, mas já no mesmo ambiente da eleição que se aproxima: congressistas envolvidos num comprovado esquema de corrupção foram desagravados pelos próprios eleitores de seus Estados, que banalizaram e glorificaram o abjeto.Relativamente ao escândalo da hora, não obstante o Procurador-Geral da República ter oferecido uma severa e consistente denúncia junto ao Supremo Tribunal Federal referindo a formação de uma quadrilha em torno de um projeto político, é importante fixar que além das renúncias, houve absolvições no Plenário da Câmara dos Deputados. Logo, todos os parlamentares relacionados pelo Conselho de Ética, salvo os que foram cassados, poderão disputar o pleito de outubro. E se o fizerem, não será nenhuma surpresa a manutenção de suas cadeiras nem a recondução dos que renunciaram.Eleição é um fato social à parte. Prescinde de memória, coerência ou razão. O que vale é o momento e o cenário do espetáculo. O discurso piegas de conotação sebastianista tem sido imbatível. E para robustecer estas anomalias, adicione-se uma legislação eleitoral anacrônica e superficial, incapaz de impedir a candidatura de alguém que tenha dado causa à decretação judicial da perda do próprio mandato, e o quadro do imobilismo está pronto.Em que pese a abundância de informações sobre os sórdidos acontecimentos revelados em cadeia nacional desde a metade do ano passado, é leviandade ignorar o vigor da relação paroquial e clientelista que candidatos e eleitores mantém, sobretudo naqueles colégios e currais eleitorais onde o índice de analfabetismo e desemprego são elevados. Além disso, a jurisprudência mais atualizada do Tribunal Superior Eleitoral explicita a vitalidade e incremento da corrupção eleitoral e da mercantilização do voto.Portanto, a cronologia dos fatos traz uma ameaça: o escárnio de ontem pode se repetir logo adiante. Este é motivo pelo qual não se pode divinizar a cidadania e muito menos tornar a representação popular algo intocável, vez que o próprio eleitor, tanto o acrítico como aquele manipulado pela retórica, é tão ou mais perverso que o próprio vilão quando o reelege.
Certificado Lei geral de proteção de dados
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Em destaque
Caras jornalistas, caros jornalistas,
c , Caras jornalistas, caros jornalistas, Nesta próxima sexta-feira, 26 de abril, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) vai ter eleições...
Mais visitadas
-
Nota da redação deste Blog - Professora em Jeremoabo denuncia perseguição por Secretária de Educação e salário por perversidade retirado...
-
Com grande satisfação, compartilho uma narrativa de esperança e resiliência, destacando os desafios enfrentados por Jeremoabo, uma comunid...
-
. O que assistimos hoje na Jeremoabo FM foram os velhos travestidos de novos que pularam do barco do Prefeito Deri do Paloma em busca de ...
-
"Política de Jeremoabo: Desespero ou Manipulação? O Caso do Pré-candidato Tista de Deda" No atual cenário político de Jeremoabo, ...
-
Os dois municípios vêm sofrendo as consequências do transboradamento do rio Vaza Barris e do Açude de Cocorobó Por Redação CN 9 de abr...
-
Parlamentar usou tribuna da Câmara dos Deputados para defender a liberdade de imprensa Da Redação 12 de abril de 2024 Sem comentários O depu...
-
O (des)governo municipal deveria pelo menos seguir o DECRETO PRESIDENCIAL Nº 9.739, DE 28 DE MARÇO DE 2019, O prazo entre a publicação...
-
. Na Sessão de julgamento do recurso de Tista de Deda o seu advogado não compareceu para fazer a sustentação oral. É importante frisar que ...
-
. . Segurança alimentar e higiene: O peixe está exposto em local impróprio, sem nenhuma higiene. O cidadão que manipula o peixe não usa luva...
-
Câes transformarama praça principal de Jeremoabo em " antro ou casa de prazeres" O cenário na Praça Principal de Jeremoabo é...
Nenhum comentário:
Postar um comentário